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Artigos / Luiz Fernando Fernandes

27/04/2020 | 09:28

A morte atrás da porta

Morrer. Algo inevitável, mas que evitamos a todo custo, é claro.
Mas morrer não é algo que depende da minha ou da sua vontade, acontecerá um dia, quem sabe mesmo agora. Aí não conseguirei terminar este texto, apenas me desmancharei em cima do teclado deixando uma série de coisas que considero importantes. Uggtikiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilvhyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyylllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll e lá se foi uma vida.
Mas, será que de fato tudo se foi ou aquilo que fizemos irá nos perpetuar. Com meu Pai Luiz Aldori Neves Fernandes foi exatamente assim que aconteceu, a morte estava esperando por ele atrás da porta.
Lembro como se fosse hoje. Meu pai acordou, foi ao banheiro escovar os dentes, exatamente como todos nós fizemos hoje pela manhã; de repente eis que ele pressentiu que alguma coisa estaria dando errado. Aquele era um dia muito importante, ele iria inaugurar a Rádio Educadora de Colider a primeira rádio da cidade. Não teve tempo de gritar. Não conseguiu pedir ajuda. Não teve nada além de um olhar de espanto e um corpo que caiu já inerte e sem vida.

Tentamos de tudo, mas foi tudo em vão, porque o que deveria acontecer, aconteceu. É isso mesmo! Fugimos dela como o diabo foge da cruz, mas não temos para onde ir quando de fato a morte se apresenta.
Os dias irão passar, os meses, os anos. A dor desaparece, mas a saudade permanece. Uns saberão lidar com tudo isso, outros irão desabar.

E depois disso continuaremos correndo dela, tentando ao máximo evitar o encontro que vai trazer o olhar de espanto e dar o start a mais um ciclo.
O engraçado é que todos caminhamos nesta inevitável direção, mas nos comportamos como se a porta que recebe a senhora morte só existisse na casa do vizinho e assim vamos vivendo como se do desse cálice não fossemos beber.

Meu querido pai passou por isso muito cedo, aos 44 anos, hoje vejo que era quase um menino. Naquele dia 28 de fevereiro de 1986, os olhos espantados pelo que viria, viram minha mãe pela última vez. Penso como deve ser difícil para ela lembrar do olhar do amado e nada poder fazer, triste.

Naquele dia sonhos se foram, projetos se perderam e mais uma família experimentou a tristeza de saber que aquele que se foi, se foi para nunca mais voltar. Hoje famílias devem estar passando por isso, e amanhã e depois de amanhã, enfim.
Se você vive, pare de pensar que você é imortal. Passe mais tempo com aqueles que você ama e siga todas aquelas fórmulas que você já conhece muito bem.

Na última semana perdi mais uma pessoa especial, meu Tio Alvaro Ely Lemos de Campos. Um batalhador, um homem que lutou por tudo que acreditava ser o certo. Perdeu a luta para o câncer e foi para a morada celestial.
Deixa a vida, mas não a história, afinal enquanto nossos atos forem lembrados por aqui não morreremos de fato. Então honre os seus, lembrem-se dos seus atos e leve estas histórias adiante. 
Por enquanto é só. Que Deus me permita evitar o olhar de espanto por muitos e muitos anos, mas se ele vier mais cedo do que pensei, saberei que a morte foi só aquela inevitável companheira que me levará aos braços do Pai.

Hoje na cidade de Colider, onde meu querido pai nos deixou, existe uma rua com o nome dele, uma justa homenagem. Rua Luiz Aldori Neves Fernandes e eis que pensando bem ele não morreu.
Luiz Fernando Fernandes é jornalista em Cuiabá.
 
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