Você já percebeu como é grande o número de pessoas que não conseguem encerrar um ciclo saindo pela porta da frente? Explico.

São aquelas pessoas que não conseguem terminar um relacionamento sem deixar para trás uma inimizade. Ora, se o relacionamento deu certo por 1, 2, 3, 4 anos ou mais e por algum motivo chegou ao fim, é por que assim deveria ser. Como é possível que duas pessoas que fizeram juras de amor há algumas 24 horas, que se declararam apaixonadas em algum ponto da caminhada, que trocaram carinhos, presentes e palavras amáveis, possam simplesmente de uma hora pra outra se odiarem. É no mínimo estranho, pra não falar que é simplesmente um absurdo.

E tem ainda aquele que depois de anos de trabalho, quando está se preparando para sair da empresa ao invés de cumprir o aviso prévio numa boa, faz tudo diferente, aproveita o último mês para sacanear. Chega atrasado, sai mais cedo, enrola com as tarefas. O que passa pela cabeça de quem age desta maneira? Será que o cara ou a cara, acreditam que estão prejudicando a empresa? Ora, por anos, tudo que você tem, toda a comida que você consumiu, as viagens e prazeres, foram pagos com o dinheiro pago a você por esta empresa. Não importa se agora ela chegou à conclusão que não precisa mais dos seus serviços. Olhe para frente e saiba que uma boa indicação desta empresa pode colocar você num emprego ainda melhor, mas uma informação negativa pode te colocar na fila do desemprego para sempre.

Nesta lista temos também aquele cara que participou de um grupo, clube ou associação. Enquanto estava na estrutura o cidadão era um trabalhador incansável, defensor dos ideais e do crescimento do grupo. Agora que está fora o tal começa a falar mal da instituição que até bem pouco tempo era seu porto seguro. Critica as atividades que lhe eram tão prazerosas. Questiona os ritos e costumes que eram seu orgulho, enfim, mete o pau em todo mundo. Isso é no mínimo falta de caráter. Neste grupo também estão aqueles que tratam tudo e todos como uma grande brincadeira, ou seja, ao menor sinal de dificuldade ele faz cara de emburradinho e decide não brincar mais, ainda que o assunto seja sério pra valer. Aqui nesta categoria estão as igrejas, clubes de serviço, lojas maçônicas, moto clubes e outros locais que unem pessoas e ideias.

Poderia aqui ainda discorrer sobre mais uma dezena de tipos que preferem sempre sair pela porta dos fundos ou pela janela, mas jamais pela porta da frente. Você que está lendo este texto com certeza já visualizou os tipos descritos aqui, e os não descritos que você com certeza já conheceu ou conhece. É uma pena que tais comportamentos existam e o pior é que por mais que a gente tente, não conseguiremos ajudar tais pessoas, mas é claro que podemos tentar.

Alguma coisa precisa ser feita, até porque o mundo é pequeno demais e existem poucas portas para serem usadas. Invariavelmente quem vai deixando um rastro de ódio e descontentamento atrás de si uma hora se encontrará só e sem ter pra onde ir ou voltar e não imagino situação pior.

Faltou dinheiro, um amigo empresta. Faltou gasolina, abastece. Faltou tempo, calma. Mas quando faltar alguém para te defender, ai amigo não tem o que ser feito. Quando todas as portas se fecharem invariavelmente você vai descobrir que a maçaneta da porta da frente fica pelo lado de dentro, uma porta que tem que ser aberta por alguém e que a nós só cabe mesmo a ato de entrar. Quem sai pelos fundos perde a chance de ter alguém a sua espera, ou você já se esqueceu do costume que temos aqui no Brasil? Quando vamos deixar uma casa, geralmente o dono da residência fala; “deixa que eu abra a porta, que é pra você voltar”. Então lembre-se. Ao sair de uma empresa, grupo, clube ou relacionamento, por mais que seja difícil saia pela porta da frente. Deixe que alguém abra a porta pra você, assim, se algum dia você quiser voltar vai ter sempre alguém a sua espera. É aquela pessoa que vai colocar a mão na maçaneta, abrir a porta e dizer, bem-vindo.  

Luiz Fernando Fernandes é jornalista em Cuiabá.