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Artigos / Luiz Fernando Fernandes

22/06/2020 | 10:27

Computador e pandemia.

Ricardo foi um de meus amigos de infância. Foi quem me ajudou a aprender a andar de bicicleta. Emoção inesquecível quando na pracinha da cidade de Chapada dos Guimarães onde morava na época senti pela primeira vez a liberdade do equilíbrio e o vento relativo em meu rosto. Sabia exatamente do que o Ricardo gostava e do que não gostava é claro. Afinal nós crianças somos bem malvadinhos e conhecer as fraquezas mesmo que dos amigos parece fazer parte do jogo.

O tempo passou mudei para a cidade de Colider onde outros amigos fizeram parte da minha história. Não vou aqui citar nomes porque a memória e a idade podem nos trair e não quero ser injusto com ninguém, mas todos foram de suma importância na minha caminhada.  Ainda em Colider uma história me marcou. Minha família era dona da única rádio da cidade a Rádio Educadora AM, foi neste ambiente que conheci o jornalismo e onde conheci um aparelho que num primeiro momento precisei parar para entender o que era. Um funcionário da rádio um dia me disse: “por que você não compra um computador?”.  Eu não sabia sequer como este tal de computador poderia me ajudar, mas foi a partir desta conversa que alguns meses depois vim em Cuiabá e comprei o último lançamento do momento. Um computador 486 DX 166, com 4 mega de HD e 128kb de memória. Parece uma piada hoje, mas na época 1993 era a máquina do momento, o lançamento revolucionário.

Quando a máquina chegou em Colider não funcionou, afinal ninguém conseguia configurar o tal computador e foi preciso que eu fizesse um curso para aprender a mexer naquilo que prometia facilitar minha vida, mas que num primeiro momento ficou 3 meses trancado numa sala.

Pouco depois me mudei para Sinop onde comecei minha carreira na televisão. Neste ponto da história, amigos e computador se encontraram e começam e me mostrar como seria o futuro ou o nosso presente. Eu, e dois amigos, Carlos Moura e Eduardo Ramos usávamos um programa chamado vídeo papo. Em resumo era um programinha de chat que a gente conectava ligando em um número de São Paulo e através de apelidos nos encontrávamos para conversar, falar da vida e de jornalismo já que trabalhávamos juntos. Ainda nesta época apesar da virtualidade noturna que nos acompanhava, nós ainda frequentávamos a casa um do outro e nos conhecíamos muito bem. Assim como no caso do meu amigo Ricardo conhecia os gostos e desgostos do Eduardo e do Carlão.

Passados mais de 30 anos aqui estamos amigos. Hoje em dia temos inúmeros amigos virtuais, mas não sabemos onde moram, se tem problemas, se são felizes, enfim, não sabemos nada além daquilo que povoa os perfis nos mais variados sites e nas redes sociais. Minha esposa dia desses me perguntou quem era tal pessoa que me deixou um recado no facebook e confesso que não pude responder afinal nunca nos encontramos de fato, mas na virtualidade sabemos muita coisa um do outro.

Hoje é comum a gente aceitar uma solicitação de amizade, mas não conseguimos atravessar a rua ou o corredor do prédio para conhecer nosso vizinho.  O computador facilitou nossa vida? Facilitou, mas nos confinou a uma existência onde o contato humano está cada vez mais raro, ainda mais agora em época de pandemia. Vou dizer o que eu quero. Quero aperto de mão, conversa olho no olho, abraço apertado, beijo no rosto, quero sentir a energia de meus amigos. As histórias mais engraçadas de nossa vida com certeza foram vividas com os amigos ao lado, histórias vivas, vividas por pessoas vivas. A virtualidade é boa, mas é muito impessoal, se você for meu amigo no face, no insta, no Twitter ou em qualquer outro lugar, por favor se me encontrar na rua me chame. Eu preciso de pelo menos um toque no cotovelo. 

Luiz Fernando Fernandes é jornalista em Cuiabá. 

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