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Artigos / Luiz Fernando Fernandes

02/07/2020 | 10:18

De volta a estrada

Dia desses escrevi sobre um tema que me gerou muitos contatos pedindo que retomasse a questão assim que possível, então lá vai. Uma nova reflexão sobre o motociclismo e a vida. 

Incrível como a vida pode ser simples e ao mesmo tempo complicada. O que para alguns não passa de algo corriqueiro, para outros é algo insólito e complicado. Isso demonstra muito claramente a dificuldade que algumas pessoas têm em ter empatia. Para quem não sabe, empatia é o ato de se colocar no lugar do outro, ou seja, é ter a capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se nas mesmas circunstâncias. Esta é uma questão mais do que antiga e ao mesmo tempo mais do que atual. Um antigo provérbio popular diz que: “Para se conhecer uma pessoa é preciso comer um saco de sal com ela. E, às vezes, é pouco”. Imagine o que é isso, um saco de sal. Isso leva a crer que levaríamos anos para conhecer de fato alguém, e ainda assim, ao término de uma longa caminhada talvez ainda não tivéssemos como saber de fato quem realmente é aquele que por tanto tempo nos acompanhou. Então pense mil vezes antes de sair julgando este ou aquele ato.

Uma coisa que me choca é quando escuto o seguinte comentário: “O que? Você veio de moto? Você é louco?”. Penso que a opinião está partindo de alguém que já andou muito de moto e que acabou tendo um acidente, enfim, alguém que de certa forma está traumatizado pela vida em duas rodas, mas invariavelmente descubro que o autor de tal comentário sequer sabe pilotar uma motocicleta. Neste sentido, o que posso pensar. O tal é “louco” para fazer o que faço, mas não tem coragem de fazê-lo? Enfim, não temos nem mesmo como pensar algo a respeito, pois isto é sim a mais perfeita expressão da ignorância humana, ou seja, eu não sei, não conheço e, portanto, ignoro todo e qualquer sentido disso. Esta postura aliada a total falta de empatia, resulta então em comentários como esses.

Não gosto do discurso simplista que transforma tudo e todos em grupos. É muito cômodo criar uma tribo excluir todos aqueles que não se encaixam no “meu padrão”, assim ignoro aqueles que não teriam mesmo lugar no meu pequeno e seguro mundinho. Ora, somos sim uma tribo, uma grande e única tribo que se movimenta e movimenta o todo com suas variáveis e variantes.

Vamos parar de julgar e de criar discussões inúteis que em nada tem a ver com atitude. Porque essa preocupação, se somos motoqueiros ou motociclistas. Porque é tão importante saber a marca e a cilindrada de sua moto, motoca ou motocicleta. Enfim, precisamos de uma vez por todas nos conscientizar que a presença basta. Que o ter não importa já que o ser é o grande barato da vida e da sentido a ela.

De que adianta uma moto de 2000 cilindradas parada na garagem? De que adianta o capacete de fibra de carbono guardado dentro de um saco forrado com o mais nobre tecido? De que adianta todo o dinheiro do mundo guardado num banco enquanto a vida passa? De que vale ter toda a teoria do mundo, mas não trazer nenhuma marca do tempo gasto na estrada da vida.

Acho que as redes sociais trazem muitas coisas interessantes. Uma delas foi uma definição das amizades feitas na estrada. O texto ressalta que são amizades fortes, afinal são forjadas no calor do asfalto, no frio do vento, na água da chuva e na saudade dos irmãos que perdemos.

Outro texto fala da filosofia do motociclista. Uma irmandade que tem um código de honra silencioso, quase secreto, que nunca precisou ser escrito, mas quem faz parte dela já nasce sabendo. Este código reza não deixar um irmão na estrada, não conhece o valor do dinheiro e ensina que todo motociclista merece respeito independente da marca ou cilindrada de sua motocicleta.

Assim sendo, espero que da próxima vez que você cruzar por um motociclista na estrada ou mesmo na cidade, entenda que ali vai alguém que tem uma postura diferenciada perante muitas verdades consideradas absolutas por alguns. Alguém que carrega muitas coisas em sua bagagem, mas que não tem e nunca terá tempo para interromper uma viagem ou  mesmo um pequeno deslocamento para julgar ou emitir opinião sobre as atitudes de alguém.

Sejamos então mais simples, assim vamos aproveitar melhor a vida e tudo que ele tem para nos oferecer. 
No mais é aquela história. Se eu preciso explicar é sinal que você não vai entender mesmo. Vida longa a todos.

Luiz Fernando Fernandes é Jornalista em Cuiabá. 

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