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Artigos / Rosana Leite Antunes de Barros

19/01/2023 | 08:07

​Parteiras tradicionais

Aparadeira, parteira leiga, mãe de umbigo, curiosa, comadre, dentre tantos outros nomes, são conhecidas as parteiras tradicionais, conforme o Ministério da Saúde. Se utilizam de práticas que valorizam os saberes adquiridos com o conhecimento ao longo da existência.

           

Ao que tudo indica, elas surgiram no Egito Antigo e foram conhecidas como as primeiras médicas da história. Existem registros históricos de partos contados e datados de 6 a 7 mil anos a.C. Algumas esculturas encontradas na Turquia representam mulheres sentadas em tronos parindo, inclusive, com o recém-nascido entre as coxas.

 

No Oriente as posições de partejar mais utilizadas eram verticais, ou seja, com as mulheres em pé, sentada ou de cócoras. Parteiras indígenas e quilombolas também são reconhecidas como parteiras tradicionais, com as especificidades culturais e étnicas.

           

Foi através da Lei nº 13.100, de 27 de janeiro de 2015, que o dia 20 de janeiro ficou conhecido como o Dia Nacional da Parteira Tradicional, em homenagem a Juliana Magave de Souza, nascida em 1908, que havia realizado mais de 400 partos caseiros em Macapá. Clarice Andreozzi, que exerce a profissão em Brasília, narrou no site da Agência Brasil: “É importante que a mulher entenda que biologicamente foi feita numa perfeição para engravidar, parir e maternar.

Então, ela tem que reconectar, limpar preconceitos e medos culturais de que ela não é capaz, de que ela não é completa, de que o parto é perigoso. Isso é importantíssimo. A segurança vem do conhecimento, da informação e da conexão dela com o próprio bebê, com os processos do próprio corpo.”

           

O nome do parto, parto “normal”, anuncia o que é natural, comum, corriqueiro e usual. Assim, quando o nascimento do bebê advém desse parir, entende-se que não houve auxílio de procedimentos cirúrgicos para a expulsão do feto pelo útero.

 

Diferentemente do conceito de parto humanizado, já que este é aquele realizado de acordo com a vontade e o protagonismo da mulher. Para a gestante, humanizar o parto é realizar o procedimento de acordo com o seu anseio.

           

As parteiras “ganham” o respectivo conhecimento, em regra, oralmente e dentro da família, ou em redes de amizades. As orações, preces, rezas, energias positivas, banhos de assento, orientações, toques de alívio e acompanhamento mensal, são formas de acolhimento dessas profissionais para com a parturiente.

           

Ainda que o usual na atualidade no Brasil sejam partos realizados em ambiente hospitalar, não se pode ignorar que o nascer em casa ainda é realidade, principalmente em zonas rurais nas regiões Norte e Nordeste, ribeirinhas, nas florestas, e com povos tradicionais onde há difícil acesso para a cidade.

           
No ano 2000, um importante programa foi iniciado no Brasil, denominado “Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais do Ministério da Saúde”, que visou sensibilizar gestores e gestoras, bem como, profissionais da saúde para que reconheçam as parteiras pelo SUS, inserindo-as e as valorizando com ações para que a aconteça a redução da mortalidade materna e neonatal.

           

Estima-se que no país existam mais de 60 mil parteiras, que realizam cerca de 450 mil partos por ano. Por essa razão, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 912/2019, que visa regulamentar a profissão das parteiras tradicionais, com qualificação básica, equipamentos, instrumentos da medicina, materiais de consumo e ajuda mensal. De mais a mais, o mesmo projeto determina que a parteira deverá encaminhar a mulher para avaliação médica quando a gestação for de alto risco.

           

Na atualidade, a parteira tradicional é conceituada pelo Ministério da Saúde como aquela que presta assistência ao parto domiciliar, baseando-se em técnicas habituais. A realidade ‘nua e crua’ é que muitas mulheres, com as suas mãos, poucos recursos, bacia com água quente, toalhas molhadas e secas, tesouras ou outro material cortante, à luz de velas ou lamparinas, ajudaram muitas pessoas a ‘estrearem’ por aqui.

           

Maria dos Prazeres, parteira do sertão nordestino com mais de 5 mil partos, cantarola lindamente o seu mister: “Sempre ao romper da aurora. Não tem hora pra chegar. O importante é o que se vai fazer. A criança vai nascer. Não se pode esperar.”  

 

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
Rosana Leite Antunes de Barros

Rosana Leite Antunes de Barros

Defensora Pública Estadual
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