Mato Grosso,
Terça-feira,
30 de Abril de 2024
informe o texto a ser procurado

Artigos / Luiz Henrique Lima

29/05/2023 | 10:39

​O golaço de Vini Jr.

Vinicius Jr. é um jovem negro de 22 anos, de origem pobre, do município de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

  

Formado nas divisões de base do Flamengo, clube que o profissionalizou, hoje joga no Real Madrid e é considerado um dos melhores jogadores de futebol do planeta na atualidade.

  

Atacante talentoso, com belas arrancadas, dribles habilidosos e passes precisos, Vini Jr. foi o autor do gol decisivo na final da disputadíssima Champions League no ano passado, quando sua equipe derrotou o Liverpool por 1 x 0. Infelizmente para nós, brasileiros, Vini Jr. não foi bem aproveitado na Copa do Mundo de 2022, por um técnico desconectado da realidade do futebol brasileiro e mundial.
Há vários anos, desde que assinou seu primeiro contrato profissional, Vini Jr. desenvolve ações de assistência social junto a comunidades carentes de São Gonçalo, tendo criado o Instituto Vini Jr. dedicado à multiplicação da tecnologia e do esporte para uma educação de qualidade.


Mas o golaço de Vini Jr. a que se refere o título foi assinalado fora dos gramados no domingo 21 de maio. Neste dia, pelo menos pela décima vez, Vini Jr. foi vítima de violentas agressões racistas no estádio de Valencia. E pior, após uma manipulação de imagens pelo árbitro de vídeo, foi expulso de campo após ter sido agredido por um jogador adversário.

  

O jovem negro brasileiro não abaixou a cabeça, não aceitou as injúrias, não se calou. Racismo não tem justificativas e não tem perdão. Vinicius denunciou em alto e bom som o racismo dos torcedores e a conivência das autoridades esportivas. Foi um golaço e um nocaute nos racistas.

  

O impacto da reação/protesto de Vini Jr. foi extraordinário. Em poucas horas recebeu a solidariedade e o apoio de centenas de milhares de pessoas manifestando-se contra o racismo. A tatibitate resposta inicial do presidente de La Liga, notoriamente ligado a extrema-direita espanhola, indignou ainda mais a opinião pública mundial. Um a um, grandes ídolos esportivos, do Brasil e do exterior, do futebol, do basquete e da Fórmula-1, artistas e intelectuais consagrados, lideranças religiosas e políticas expressaram respaldo à atitude de Vini Jr. O garoto humilde de São Gonçalo alcançou protagonismo mundial na luta contra o racismo no esporte.

  

Mais que tudo, o atleta recebeu o carinho do povo brasileiro que se identifica com sua trajetória de vida, que se encanta com o carisma de seu sorriso aberto e que torce por seu sucesso independentemente da camisa que esteja vestindo no gramado. Nosso povo ficou revoltado com a violência estúpida das ofensas racistas. A turba de energúmenos em Valencia, ao agredir Vini Jr., atingiu a todos nós.

  

Ao reagir com coragem, firmeza e dignidade, Vini Jr. falou por todos nós.

Na realidade, quase todos. Só a extrema-direita brasileira silenciou. Nenhum dos seus representantes neofascistas deu um pio nas redes sociais, nas quais são ruidosos propagadores de fake news. É que o racismo é uma realidade cotidiana e cruel em nosso país. Por isso, a luta antirracista não deve se limitar à Espanha ou aos estádios de futebol. Deve ser aqui e agora, diária, robusta, abrangente e incessante. E há de ser vitoriosa!

 

Luiz Henrique Lima é doutor em Planejamento Ambiental e professor
Luiz Henrique Lima

Luiz Henrique Lima

Luiz Henrique Lima é professor e auditor substituto de conselheiro do TCE-MT.
ver artigos
 
Assista Ao Vivo
 
Sitevip Internet