Almerinda Rosa Duarte de Barros, mãe, irmã, tia, avó, amiga, jornalista, servidora pública aposentada da Justiça Federal, é um ser humano ímpar. Fez a passagem na noite do dia 02 do corrente ano, prematuramente, aos 67 anos...

A conheci no início do casamento, e de antemão sabia ser uma das tias mais próximas ao marido. Foi ela quem me trouxe histórias da infância do Saíto, onde pude saber das muitas travessuras e fofuras dele.

De início, percebi o carinho que rondava o relacionamento entre ela e ele, tia e sobrinho, já que o chamava de “meu filho”. Não é para menos, esteve atrelada ao sobrinho nas passagens mais emblemáticas.

Aos 15 anos, o Saíto sofreu um acidente automobilístico, onde enfrentou grave problema de saúde. Na ocasião, internado em uma unidade de terapia intensiva, acordou em sôfrego por estar com os braços amarrados à cama, para que não retirasse a aparelhagem ligada ao corpo, porquanto, estava operado.

Ao acordar, tia Almerinda com ele se encontrava à beira do leito e o tentava acalmar. Neste momento, inteligentemente, disse a ele: “Meu filho, posso confiar que se desamarrar os seus braços, não tirará os tubos do seu corpo?”. Com a resposta positiva, assim o fez, entendendo que liberdade e confiança são sentimentos sublimes, o ensinando, mesmo naquele momento, valores para a eternidade.

Com o tempo e a convivência, passei, também, a ser chamada de “minha filha”. Ecoava como poesia, algo que nunca lhe disse, para não tirar o sabor mais natural possível do carinho. Dividíamos gostos comuns. Foi em uma viagem para Caraguatatuba que senti o seu perfume, e que muito me agradou: Tarsila, do Boticário. Usamos, ela e eu, até que saiu de linha.

Algumas vezes me disse sobre a predileção pela cor lilás. E não podia ser diferente, pois é uma das cores que remete à sensibilidade e à intuição, e, ainda, à luta das mulheres pelos direitos iguais entre os gêneros. O lilás é uma cor muito importante para a espiritualidade, sendo conexão divina com a sabedoria.

A Bíblia relata a mesma coloração com a presença de Deus e a transformação espiritual.

Se preocupava muito com as outras pessoas. Uma das suas características marcantes era a de excelente ouvinte. Ouvia atentamente, pensava, passava as mãos nos cabelos com as sobrancelhas erguidas, e emitia a sua opinião após refletir. Para nós, se perfazia em decisão, e a seguíamos.  

No dia 02 de fevereiro de 2023 o telefone dela foi clonado, quando pediram pix para o Saíto em nome dela. Percebemos imediatamente se cuidar de clone de celular.

 No mesmo dia à noite ela me perguntou por whats como ele estava, no mesmo instante que o Saíto estava preocupado com ela. Sorri e disse a ela que estavam ambos me falando ao mesmo tempo um sobre o outro, e ela respondeu: “Isso se chama AMOR!”  Estivemos na manhã do dia 31 de maio de 2023 juntas, quando a busquei em casa para participar da inauguração do CMEI Professora Leuby Correa da Costa Barros, minha adorável sogra.

Conversamos muito sobre a sua saúde e a saúde do Saíto, que operaria em uma semana.  Como ela estava bem, aliás, linda!

Tia Almerinda é a pessoa que sempre uniu a Família Barros. Esteve com todos e todas, e em todos os momentos. Era ela a responsável pelas reuniões mensais, tendo chamado para si essa imensa responsabilidade, que nos deixava cientes e com tranquilidade da terna união familiar. E quando não podíamos ir, pensávamos: “Puxa, a tia Almerinda vai ficar triste se faltarmos...”

Obrigada, tia Almerinda amada, por tudo e por tanto! Obrigada, Claudinha, Augusto e Renatinha, por ter partilhado conosco o amor materno.

Deixo-lhe, tia, as palavras de Clarice Lispector: “Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.”

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.