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Artigos / Vivaldo Lopes

29/08/2019 | 09:10

Danos comerciais das queimadas

Foto: Reprodução

Na sequência dos estratosféricos estragos que o aumento de desmatamentos e queimadas já causaram e ainda causarão à imagem do Brasil, nesta semana os exportadores nacionais começaram a sentir os danos comerciais. Dezoito grandes marcas internacionais das áreas de roupas, calçados, bolsas e acessórios comunicaram a suspensão das compras de couro de fornecedores brasileiros. O fato foi comunicado nesta terça-feira, 27, pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), associação que representa as empresas produtoras de couro, em carta enviada ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O Brasil exporta mais de 80% de toda sua produção de couros, gerando mais de 2 bilhões de dólares em vendas.

Nesta quarta feira, 28, a maior multinacional suíça do setor de alimentos informou ao mercado que está revisando todos procedimentos da sua cadeia de suprimentos e de fornecedores brasileiros, utilizando ferramentas tecnológicas de imagens, big-data e visitas aos locais de produção para definir se continua ou não adquirindo insumos de nossos produtores. A empresa é grande consumidora de óleo de palma, óleo de soja, cacau e café brasileiros. Todas essas empresas estão associando a expansão dos incêndios e desmatamento ao agronegócio e à negligência da administração federal com a proteção ambiental. Tomam medidas pressionadas pelos seus consumidores e acionistas e não por conveniências políticas ou ideológicas.

Já tratei nesta coluna sobre a questão da rastreabilidade ambiental. Prática na qual os consumidores procuram rastrear toda a cadeia de suprimentos e de fornecedores do processo de produção das mercadorias industrializadas que consomem. Com grande facilidade para acessar remotamente a origem dos insumos que compõem os produtos, tornam-se cada vez mais informados e exigentes. Desejam, por sua vez, sentirem-se mais seguros de que os produtos que compram não utilizam insumos ou matérias-primas que degradam o meio ambiente ou contribuem para piorar as condições da vida no planeta.

Especialistas em análise de macrotendências de mercado indicam que a velocidade com que as informações circulam mundialmente, ajudam a  consolidar o convencimento da necessidade de manutenção das boas condições do planeta. São de importância suprema e dependem de atitudes e ações cotidianas de todos os seus habitantes-consumidores.

Essas atitudes incluem os hábitos de consumo, com reflexos diretos na industrialização e comercialização de mercadorias e serviços no mercado mundial. O consumidor da França, Suécia, Alemanha ou Noruega vai exigir informações de fontes confiáveis para saber se sapato que adquiriu não foi produzido com couro de animal criado em pastagens que prejudicaram a floresta amazônica ou o cerrado brasileiro.

As decisões mercadológicas tomadas por empresas importadoras, forçadas pelas novas posturas de consumos de seus clientes, podem prejudicar o agro de Mato Grosso. Não podemos desprezar o risco de suspenção ou redução das importações de nossos produtos que guardam ligação umbilical com a sustentabilidade ambiental. Todo o portfólio de produtos exportados por Mato Grosso deriva do setor agropecuário (grãos, couros, madeira, carnes, algodão), passível, por conseguinte, de sofrer revés com as novas posições das maiores indústrias globais. Some-se a tudo isso, o oportunismo de nossos concorrentes mundiais, ao se aproveitarem do festival de insensatez que os nossos governantes estão a demonstrar no tratamento da gestão ambiental. Aproveitam para impor barreiras comerciais e recuperarem mercados tão duramente conquistados pelo agro do país e do estado com muita competência e alta produtividade.

Estarmos atentos a esses movimentos mundiais de consumo e de alteração da governança produtiva das indústrias é condição fundamental para Mato Grosso manter o bom nível de crescimento econômico das últimas décadas. A sustentabilidade ambiental está, definitivamente, precificada como componente importantíssimo dos negócios agropecuários em nosso Estado. Tratar isso como um fator mercadológico relevante pode definir o sucesso ou fracasso do setor mais competitivo e dinâmico de nossa economia.
Vivaldo Lopes

Vivaldo Lopes

Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia.  É pós-graduado em MBA e Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP. Escreve nesta coluna com exclusividade às quintas-feiras. E-mail: vivaldo@uol.com.br
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