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27/02/2018 | 10:16

SOBRE A INTERVENÇÃO NO RIO E AS AMIZADES

Ontem foi dia de rever um grande amigo, quase uma espécie de “conselheiro” político, a quem muito respeito, ao tempo de conversar após também com seu filho ao telefone, aí sim, meu amigo irmão, que é um jovem, porém já respeitado jornalista no circuito de Brasília, tendo passado pela VEJA, Folha de São Paulo e chefiado a Comunicação da OAB Nacional.
 
Ter amigos a quem podemos recorrer para ajudar a construir nossa compreensão do mundo e das coisas mundanas, é uma das maiores dádivas que podemos ter. Ontem mesmo aprendi nessas duas conversas duas lições importantes, que me levaram a refletir e, acho eu, crescer um pouco.
 
Na primeira conversa, no Shopping jantando e após, tomando um longo e agradável café, com este primeiro amigo, um acadêmico aposentado, Doutor, a conjuntura politica foi a sobremesa. Eu na inocência de pensar em nomes e nos seus projetos pessoais por pura vaidade, percebi que o que eu relegava a segundo plano na importância do xadrez da política regional, era na verdade o prato principal. Os grupos econômicos, continuam buscando nomes para seus interesses maiores, e quanto menos pesado este nome for, menos indigesto e mais palatável é para tais setores. Algo ficou mais claro e, a refeição teve uma digestão excelente. Enquanto tirávamos uma foto do encontro, brinquei sobre um comunista no shopping, e ele me ensinou que o shopping nasceu na Rússia comunista. Rimos disso.
 
Deixei o amigo em um compromisso que teria na sequencia e fui embora. Ao chegar em casa, mandei a foto do nosso encontro, carinhosamente ao seu filho e meu “irmão”, qual ele me dissera estar no Rio de Janeiro cobrindo a *INTERVENÇÃO NOS MORROS*, a mesma que tenho chamado de “INVENÇÃO política”.  Passado algum tempo, eis que recebo sua ligação, num misto de alegria de falar com o amigo e, curiosidade para saber a real situação do militarismo midiático implantado por lá. Confesso que até o momento só havia tecido críticas a essa questão.
 
Atendo sua ligação com a saudação só permitida aos grandes amigos, o bom e velho “xingamento carinhoso” e emendo com a pergunta: Me conta logo, estamos em estado de sítio, que p...é essa?. Ele ri e começamos, como sempre, nossa longa conversa, como se estivéssemos na sala de nossas casas. Em verdade estávamos, ele no quarto do hotel e eu na cozinha preparando um chá para a longa prosa.
 
Falamos de tudo. Do bate papo com seu pai, que eu relatei estar bem, ativo e atuante. Do carnaval, que  ele e a esposa, também jornalista, passaram no mesmo Rio de Janeiro, do retorno antecipado por conta do bracinho que quebrou sua filhinha Tarcila, que graças a Deus está bem e, como gole final, a intragável intervenção e o dia a dia das favelas pós isso.
 
Para minha surpresa, não encontrei no amigo as convicções de sempre sobre tantos assuntos, só permitida pela sua aguda inteligência e cultura. Vi um amigo dúbio, sem entender o que estava vendo com os próprios olhos. O pai sendo um intelectual de esquerda que VIVEU a ditadura e nos contou suas memórias, para nós é muito claro o que significa o exército nas ruas novamente. Mas como seu profissionalismo suplanta suas ideologias e convicções filosóficas, pude perceber nele tais angústias.
 
O que conta do Rio de Janeiro é uma imprensa estridente, crítica, porém uma população local, das favelas, com um certo alívio, como se fosse melhor ser oprimido pelo estado do que, diariamente, pelo tráfico e sua truculência com os moradores, a grande maioria pessoas honestas. Contou muitas estórias que extraiu de moradores. Pesadelos que passaram nas mãos dos traficantes. Humilhações e total ausência de estado. Falou ainda de um exército sendo incrivelmente educado e cortês com a população, sem truculência, muito bem treinados. E eficientes.
 
A essa hora meu chá já tinha acabado, e ainda não chegávamos a uma conclusão sobre o que pensar e extrair disso. Uma coisa é certa, quem quer falar por algum povo ou grupo, antes de demagogia, tem de saber o que este povo e grupo quer de si mesmo, o que espera e quais suas esperanças.
 
É fácil falar as vezes de cidadania e humanidade, se não sabemos de verdade o que é viver diuturnamente situações desumanas e degradantes. Quanto ao uso político disso, melhor nem comentar. Mas é outra coisa. A canalhice política costumeira.  Contei um pouco das minhas militâncias, das andanças incansáveis, da luta de sempre em favor dos trabalhadores, coisas menores frente a essa conjuntura incrivelmente inesperada para nossa geração.
 
Nos despedimos já cansados daquela conversa, quase uma da manhã, ele com compromissos interessantíssimos pelas vielas nunca dantes transitadas como agora,  com seu desprendimento habitual de um grande profissional e grande ser humano. Espero que faça a melhor cobertura jornalística de sua vida. E viva muito. Grande abraço a ambos amigos. É sempre bom ter humildade para aprender algo novo!
 
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