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Entrevistas

23/12/2017 | 09:03 - Atualizada em 26/12/2017 | 09:03

"Nós precisamos de políticas públicas para mulheres, mas precisamos que elas sejam cumpridas" ressalta embaixadora

Em 2016, tramitaram na Justiça do País mais de um milhão de processos referentes à violência doméstica contra a mulher, o que corresponde, em média, a 1 processo para cada 100 mulheres brasileiras. Desses, pelo menos 13,5 mil são casos de feminicídio. Os dados foram apresentados neste ano pela presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia.

Já de acordo com dados do Instituto Maria de Penha, a cada 7.2 segundos uma mulher é vítima de violência física. Uma realidade assustadora e que tem que ser combatida com políticas públicas mais severas. Porém, de acordo com nossa entrevistada falta representatividade nos poderes para que isso aconteça.

Pensando nisso, entrevistamos nesta semana a Jornalista, Escritora, Especialista em Criminologia, Presidente do Instituto Estadual Mulheres Mais Que Vencedoras e Embaixadora dos Direitos das Mulheres de Mato Grosso Kall Marçal.

A Embaixadora fala da necessidade da criação de políticas públicas para as mulheres. Além de atitudes que as mulheres deve tomar mediante a qualquer tipo de violência.

Confira entrevista:
 
TVMais - Qual é o trabalho que você realiza como Embaixadora dos Direitos das Mulheres?

Kall Marçal – Eu estou como Embaixadora dos Direitos das Mulheres do Estado de Mato Grosso, nosso trabalho na verdade é provocar o estado e o município para que as políticas públicas para as mulheres sejam cumpridas. Então nós visitamos os municípios, conversamos com nossos gestores, para que realmente os direitos das mulheres sejam assegurados. E estamos fazendo isso. Estamos trabalhando em 141 municípios e a demanda é muito grande. Mas há uma necessidade de ser feito esse trabalho.

TVMais – A partir do momento que você entrou como embaixadora houve algum progresso?

Kall Marçal – Olha estamos lutando. Mas eu vejo que sim. Primeiro porque não tinha alguém especifico para estar cobrando. Nós não temos ligação nenhuma com o poder público. Então para nós fica mais fácil, porque é muito mais difícil, mesmo que as pessoas que estão no governo queiram fazer algo. Mas para ela cobrar diretamente do gestor fica até mais complicado.

E como nós não temos um vínculo diretamente com certeza que a gente tem mais liberdade para cobrar e buscar os meios competentes para que seja cumprida e realmente assegurado os seu direitos.

TVMais – Quais seriam esses direitos dessas políticas públicas? Teria como destacar algumas?

Kall Marçal – Desde a questão da violência contra a mulher. Quando a gente fala na questão de políticas públicas nós estamos falando como um todo. Desde a mulher da agricultura familiar. Então quando se fala na questão da mulher existe uma política pública especifica. Políticas públicas na questão da saúde. Porque é uma demanda muito grande principalmente nas maternidades, quando as mães vão dar à luz as crianças.

Muitas vezes elas não são tão bem assistidas. E nós temos que estar ai verificando toda essa situação, para que realmente esses direitos são assegurados.

TVMais – De acordo com dados da ONU, uma a cada três mulheres sofre violência doméstica. Nessa questão de violência contra as mulheres, como você como embaixadora dos Direitos das mulheres estão entrando?

Kall Marçal – Realmente é uma estatística muito grande quando se fala de violência contra as mulheres. A gente fico muito triste, por que e o que mais acontece. E acontece no âmbito familiar. São pessoas que deveria ter o dever de estar cuidando, ou seja, os companheiros, os maridos, os filhos. Estão assim, está sendo o contrário. A mulher está sendo violentada na sua própria casa.

Nós tivemos recentemente casos de filhos que estavam agredindo as suas mães e infelizmente isso está sendo corriqueiro. E assim a gente tem que deixar bem claro que quando se fala da mulher vítima, nós também estamos falando daquela mulher que é casada com outra mulher, ou seja, que também tem relacionamento com outra mulher.

TVMais – Muitas mulheres acham que só é violência quando existe agressões físicas. Porém existe outros tipos de violência, um exemplo é o psicológico. Qual é a orientação que você dá para essas mulheres? 

Kall Marçal – Olha, eu falo que a violência que mais mata as mulheres hoje, é a violência psicológica. Porque geralmente as pessoas falam, não é a física? Não, é a psicológica. Por que ninguém vê, ela vai matando aos poucos, quando você vê, ela já suicidou. Daí você fala, mas como? Porque fez isso? por que ela já vinha sofrendo isso há anos. Você imagina, uma mulher dentro do âmbito familiar sofrendo e ouvindo frequentemente; você não vale nada, você não presta para nada. Os direitos delas não são respeitados. A violação do corpo dela muitas vezes é violado. Ela não tem privacidade em nada. Não pode ter amigos.

Então quando se fala do relacionamento abusivo, começa por ai. Muitas vezes a mulher quando está namorando, já começa um abuso. E ela não percebe. Quando o namorado fala o seguinte; eu não quero mais que você veste essa roupa. Eu não quero mais que você fale com outra pessoa. Eu não quero mais que você tenha nenhum tipo de amizade. Ai já começa um relacionamento abusivo. Muitas vezes as mulheres acham que isso é cuidado. Mas não é isso. A pessoa que nos ama de verdade. Ela quer nps ver feliz. Ela quer ver a gente com os amigos verdadeiros. Não com direito de posse. Por que ninguém é propriedade de ninguém.

Quando você casa. Aquele documento é um compromisso de parceria. Mas não de propriedade. Nós temos o livre arbítrio. Nós vamos, nós ficamos onde nós quisermos. Então é confundível toda essa situação. E as mulheres, muitas vezes tem medo. Tem baixa estima, que acha que se separar não vai conseguir mais ninguém. Outras vezes, ela acredita que a culpa é dela.

Para você ter uma ideia, a pessoa fala tanta coisa para a vítima que ela acaba pensando, que é ela que está fazendo errado. Mas não é isso não.

Nós temos que trabalhar realmente o psicológico dessas mulheres, para falar, olha você é maravilhosa. Você precisa tomar uma atitude. Mas para isso, nós temos que trabalhar com ela, aos poucos. Porque ela já vem sofrendo isso há anos. Então é difícil ela sair desse casulo. É muito difícil você quebrar esse ciclo.
 
 
TVMais - Mas como vocês auxiliam elas? 

Kall Marçal – Primeiro que para a mulher poder se abrir ela tem que ter uma confiança na outra. E nos adquirimos primeiro a confiança dessas mulheres mostrando que ela não está sozinha que esse grupo de mulheres estão para ajudar. Eu tenho um Instituto que se chama ‘Mulheres mais que Vencedoras’, e quando elas passam por lá elas se identificam um pouco, por que eu sofri violência doméstica, então é muito mais fácil. Quando você já passou por essa situação.

Eu sempre falo em nossas palestras, você não tem que ter vergonha. Você é vítima. Quem tem que ter vergonha é o agressor. Porem eu fui vítima, mas não temos que ficar nos vitimizando. Nós temos que tomar uma atitude e para isso, vamos trabalhando aos poucos. Temos uma equipe psicológica para acompanhar o dia -a dia dessas mulheres.

TVMais – Muitas mulheres que sofrem agressões são dependentes dos companheiros. O Instituto auxiliam essas mulheres de alguma maneira? 

Kall Marçal – Antes de responder sua pergunta eu vou deixar uma coisa clara. Que a violência hoje está no meio de toda sociedade. Tanto na classe A como na classe d. O que acontece na classe menos favorecida e que ela financeiramente não tem muito a perder. Então o que ela quer mesmo é se livrar do problema. Então é por isso que elas denunciam mais.

TVMais – Então quer dizer que acontece mais denúncias nas classes menos favorecidas? 

Kall Marçal – Por que a classe mais favorecida, ela tem vergonha da sociedade, ou as vezes envolve a questão econômica. Então, infelizmente é isso, elas acabam se virando por ali. E quando a bomba estoura, acaba virando tragédia.

Elas se preocupam muito com a sociedade. Esquecendo que o bem maior é a vida. Eu sempre falo que coisas matérias você ganha depois, trabalhando, depois você conquista.

TVMais – Qual é o conselho que você tem para as mulheres que sofre com esse tipo de violência?

Kall Marçal – Quero esclarecer que eu não sou favorável a separação. Eu sempre falo isso quando somos procurados. Sempre ouvimos as duas partes. Mas eu sempre falo o seguinte; se você viu que não tem condições, procure ajuda.

Em primeiro lugar de Deus para te dar direcionamento, porque ninguém pode tomar uma atitude, por elas. Elas mesmo que tem que tomar atitude. Procurar uma orientação de uma psicóloga de um profissional. E depois, se ver que existe necessidade, que está em uma situação que envolve questões perigosas. Nós temos a delegacia das mulheres. Que lá será orientada e terá toda medida protetiva para ficar em segurança.

TVMais – Quais são os serviços ofertados pelo Instituto Mulheres mais que Vencedoras? 

Kall Marçal – O Instituto está localizado no bairro 3 barras. Muitas pessoas perguntam, por que tão longe? Esse é o intuito, por que ali é um bairro polo. Bairros adjacentes existem 30. Ali a demanda é muito grande. Eu sou favorável a estar junto da população. Nós temos que ouvir e ver os problemas dessas pessoas de perto.

Tem mulheres que não tem R$ 3,60 para pegar um ônibus, para vir para o centro. Para ir em uma delegacia, no Crás, ou defensoria. Esse é nosso trabalho, de fazer uma triagem e dependendo de qual for o problema nos encaminhamos para os órgãos competentes.

Hoje, o instituto da atendimento jurídico e psicológico. Temos uma ótima equipe e damos cursos de capacitação. Inclusive capacitamos recentemente uma turma de confeitaria. Temos cursos de bordados de chinelo, manicure e pedicure. Os cursos variam de acordo com a demanda.

TVMais - Quantas pessoas são atendidas pelo Instituto?

Kall Marçal -  Nos atendemos até agora 1.101 mulheres em todos os segmentos, vítimas de violência, mulheres da agricultura familiar e mulheres buscando diversas informações sobre os direitos das mulheres. Hoje o Instituto Mulheres Mais Que Vencedoras tem 12.025 mulheres cadastradas por todo o Estado.

Foram 300 mulheres capacitadas com vários cursos, para que pudesse ser inseridas no mercado de trabalho.
 Nosso intuito é aumentar o número de mulheres cadastradas para que possamos levar mais informações para todo Estado.
 
 
 
 
 
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