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Entrevistas

01/09/2020 | 22:53

Setembro Amarelo é o mês mundial de prevenção ao suicídio

Caio Dias

Setembro é o mês mundial de prevenção ao suicídio, campanha mais conhecida como setembro amarelo. A cor foi escolhida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como símbolo do programa que incentiva aqueles que têm pensamentos suicidas a buscarem ajuda. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos, de acordo com dados da OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) e, segundo o Ministério de Saúde , mais de 96% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, depressão, transtorno bipolar e/ou abuso de substâncias – números que colocam essa entre as três principais causas de morte de pessoas entre 15 e 29 anos no mundo.

Por isso vamos conversar com a psicóloga Marina Stech, para falar sobre esse assunto que é tão difícil de conversar.

Não se falava sobre suicídio na televisão antigamente, mas e agora o que mudou?

“Aquela época havia um tabu maior, sim tinha um desconhecimento muito grande e hoje temos mais informações. Hoje apesar da informação que nós temos, ainda tem o tabu, principalmente nas famílias, nas escolas isso já começou a melhorar hoje em dia tem a campanha de prevenção ao suicídio e essa campanha tem um papel importante, porque na minha visão falar sobre esse assunto, tem que ser o ano todo, tem que ter ações para ensinar sobre isso, conscientizar, mas as campanhas vem para trazer um imediatismo do tipo “Olha esse é o momento para se falar, você tem que lembrar de falar disso porque é importante”, então mesmo assim ainda é um tabu principalmente no âmbito familiar, onde o pai e a mãe acreditam que isso nunca vai acontecer com o próprio filho ou também na família”. Declarou a psicóloga.

Isso é um comportamento?

“Ela vem em forma de doença, mas ela altera o comportamento. O que é o suicídio? É a consequência de uma depressão, normalmente tem casos de pessoas que se tornam suicidas e não necessariamente tinham uma depressão, mas é importante alertar isso. Porque as vezes a pessoa perde um emprego, mas aquele emprego tinha um significado para ela que não tinha para o outro, então quando ela perde isso basta estar em uma situação de perda de sentido da vida, em que ela só vê o suicídio como a única alternativa, a única opção e ela pode cometer também. Mas normalmente ele vem em forma de doença, ele perpassa pela depressão”. Declarou a psicóloga. 

Existe uma forma de identificar como uma pessoa tem depressão e consequentemente ela pode ser suicida?

“Existe sim, muitas pessoas acham que o suicida não dá sinais, mas na verdade ele dá sim e muitas vezes são parecidos com a depressão, e falar sobre os sintomas da depressão que normalmente o antecede, começa com uma perda de prazer pelas coisas que ele gostava de fazer antes, pode dar insônia, perder ou ganhar peso, isolamento presente, as pessoas costumam ficar introspectivas, e o que vai diferenciar esses sintomas da depressão para  sintomas de um comportamento suicida, é o pensamento de morte. Então se observar o isolamento daquela pessoa, se ela está falando muito com a preocupação da forma que ela vai morrer ou pensamentos de que as pessoas não sentiriam a sua falta, e as vezes ela faz verbalizações que são sinais e as pessoas deixam passar”. Declarou a psicóloga.

Quando começar a falar de suicídio com os filhos?

“Independente de comportamento, deve ser algo informado que existe, que a depressão que existe, e que deve deixar claro para o filho deve conversar com o pai, que o filho deve ter essa abertura com os pais e eles ajudarem. E tentar encontrar uma maneira de falar com os filhos, de uma forma leve e tranquila, mas sempre tentar falar com eles, por que assim como existe doenças do corpo, existe a doença da mente”. Disse a psicóloga. 

Ter esse costume de não acreditar nas doenças mentais, é só do brasileiro ou no mundo todo?

“É mundial, mas o Brasil tem uma taxa maior de pessoas que não acreditam nas doenças mentais. O americano, por exemplo, está um pouco mais aberto a procurar um psicólogo, isso pelo que percebo nas
pesquisas”. Declarou a psicóloga.

Então quando for conversar com as crianças, lembrá-las que existe essas doenças também?

“Sim, ter essa linguagem simplificada ela muitas vezes tem que vir de casa, porque a criança muitas vezes na escola, demora um pouco para ter o contato com essa linguagem. Na internet, muitas vezes tem uma linguagem muito técnica e a família tem um papel fundamental, de abrir esse dialogo de deixar essa porta aberta”. Declarou a psicóloga.

Quando a tristeza deixa de ser tristeza?

“Normalmente, uma pessoa triste não vai entrar no processo de depressão e suicídio, mas uma pessoa com depressão tem que ter a tristeza presente na vida dela. Então o que é a tristeza? Todos sentem tristeza, porque afinal a vida não é só felicidade, as vezes vamos passar por um período da nossa vida que vamos ficar tristes, mas essa tristeza tem que ser passageira. Agora quando ela não é passageira e é frequente, aí que ela pode evoluir para depressão e logo depois o suicídio”. Declarou a Marina Stech.

Tristeza tem que ter motivo?

“Normalmente sim, quando tem uma tristeza sem motivo ela tende a se tornar repetitiva, e ela pode ser persistente na vida de uma pessoa e logo virar uma depressão”. Declarou a psicóloga. 
Quando uma criança começa a se cortar, ela já está no primeiro passo do suicídio?
“Sim, normalmente a automutilação que é esse comportamento de se cortar, ele antecede o suicídio”. Declarou a psicóloga. 

Conversar é o caminho para iniciar o tratamento?

“Sim, totalmente. Eu acho que todo mundo tem um papel do lado da pessoa que está no sofrimento tão grande, de fazer essa abertura para o dialogo. Porque quando falamos automutilação, muitas vezes antecede o suicídio, porque o suicídio tem a ver com dor e normalmente ela não está pensando nas consequências da morte, ela quer acabar com a dor, com incomodo e aquilo que está machucando no dia a dia. Quando a criança, adolescente ou jovem faz esse ato da automutilação, ele está querendo desviar aquela dor emocional, para uma dor física porque ele não aguenta mais, é como se ele tivesse ensaiando, e ele se ferindo ao ponto de chegar a tirar a própria vida”. Declarou a psicóloga; 

Então os pais tem sempre que acompanhar a vida dos filhos?

“Sim, até porque a automutilação não tem como esconder, quando os jovens fazem isso, eles começam a usar casaco, manga comprida porque eles querem esconder. Então ao ver esse comportamento no seu filho ou no jovem, você já fica mais atento e é claro que em algum momento, dentro de casa esses pais tem como perceber, está na pele e é físico”. Declarou a psicóloga. 

Qual a importância do CVV no combate ao suicídio?

“O CVV é extremamente importante, porque eles fazem um trabalho voltado a questão do suicídio e da saúde mental. É muito importante dizer o numero que é o 188, e eles atendem de forma 24h e isso é maravilhoso, porque a qualquer momento que essa pessoa tiver em sofrimento, ela pode ligar. Existe um dado que os jovens quando cometem suicido, acontecem aos finais de semana, quando estão com a cabeça ociosa, e a qualquer momento ele pode ligar para o CVV é um apoio muito grande”. Finalizou a psicóloga Marina Stech.
 
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