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Entrevistas

10/09/2020 | 22:17

Como agir após uma picada de cobra?

Caio Dias

Os acidentes com serpentes não são tão raros como se imagina, especialmente, em áreas de mata. Para se ter ideia, somente neste ano, 748 pessoas já sofreram ataques de cobras, em Mato Grosso. Apenas na última semana, em um período de quatro dias, ocorreram dois casos, sendo que em um deles a vítima veio à óbito. O tratamento é feito com o soro antiofídico, disponível na rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, o estoque do medicamento está abaixo do necessário, no Estado.

Por isso vamos conversar com o professor de biologia, Luiz Eduardo Saragiotto.

É raro uma jararaca estar em uma cachoeira?
“É pouco comum, é difícil acontecer isso porque ali é um local de muita agitação, e os animais gostam de locais mais tranquilos, até porque tinha pessoas por perto. Então acredito que o animal estivesse passando por ali, fugindo de algo ou em busca de uma refeição, atrás de cachoeiras normalmente é muito escuro, então é comum os morcegos ficarem alojados  durante o dia porque é um animal que não gosta de luz, então eles ficam escondidos. E de repente ela estava passando por ali, com o objetivo de tentar se alimentar atrás dessa cachoeira, e infelizmente aconteceu esse acidente. Inicialmente foi veiculado que a serpente havia caído em cima dela, o médico que atendeu ela no inicio do processo acabou dizendo que segundo relatos da médica, a serpente não caiu em cima dela, porem ela estava tomando banho, afastou um pouco para descansar, escondeu atrás da cachoeira e ali ela colocou a mão na pedra para se apoiar e o animal que estava na altura do rosto dela, acabou atingindo o rosto e no reflexo acabou recebendo duas picadas na mão. Mas realmente é uma situação bem incomum, hoje em dia as pessoas são muito urbanizadas e quando elas vão para o mato, não estão atentas, porque igual os idosos falam “Quando for colocar o calçado sacode antes”, como as pessoas são muito urbanizadas, vão poucos para passeios e ali estão andando e não estão atentas, porque pedir para uma pessoa ir com calçado fechado e de bota é difícil ir no passeio, geralmente vão a vontade de chinelo e bermuda, mas sempre de olhos bem abertos. Se possível ande com uma vara na mão igual os peregrinos faziam, são praticas que ajudam a diminuir o risco de um acidente”. Declarou o professor.

Poucos municípios de Mato Grosso têm soro antiofídico?
“Essa é uma realidade que não se restringe a Mato Grosso, mas o Brasil todo sofre com essa baixa produção do soro, produzimos bastante, porem tivemos uma alta demanda e os centros que produzem o soro não são públicos, mas sim privados, o governo federal compra desses centros onde o maior dele é o Instituto Butantã, e lá produz 90% do que compramos, lá não produz apenas o soro antiofídico, mas produz também mais vários tipos de vacina. Então é uma determinada época do ano, há uma necessidade de aumentar o numero de produção de vacinas da gripe para uma pandemia, então eles têm que usar todos os seus laboratórios para ter uma produção maior, e a produção dos outros soros, incluindo do antiofídico diminui. Isso é mais um aspecto econômico e teria que ter mais centros produtores para poder comprar, e não podemos comprar o soro de outros países, porque em outros países tem cobras diferentes e os soros são específicos para serpentes no nosso ecossistema, então é impossível comprar um soro dos Estados Unidos por exemplo, porque eles não produzem soro, apenas coletam e mandam para outro países, o Brasil é um centro de excelência de produção do soro, porém é muito caro. Imaginando que o instituto tenha que produzir 100 milhões de vacinas para gripe, então eles darão atenção para aquilo que é economicamente mais viável, então precisaríamos aumentar a produção, mas infelizmente ela não vai acontecer a curto-prazo, porque não surgiram novos laboratórios. Então temos que aumentar os cuidados e a maioria dos acidentes acontece, ou a trabalho ou lazer, e pensando em serpentes a maioria dos casos é sempre do joelho para baixo, então ao andar mais protegido, mais atento estará de uma certa forma. Então o governo de Mato Grosso selecionou os municípios polos que atende a 10 - 12 cidades e assim que está acontecendo”. Declarou o professor.

Os soros só podem ser administrados em unidades de saúde?
“Apenas em unidade de saúde pública, porque é um atendimento obrigatoriamente gratuito, por exemplo, se estou em Juara, é no hospital publico de Juara, se estou em Tangará da Serra no hospital publico da cidade. E como eu descubro em quais cidades tem o soro, eu entro no site do ministério da saúde, clico em um único chamado “Saúde de A-Z”, o segundo ícone que aparece é de animais peçonhentos, entro na rolagem de animais peçonhentos e vou ate o final e lá tem a lista das cidades de Mato Grosso, que tem atendimento para acidentes com animais peçonhentos, inclusive com telefone, podendo ligar antes e saber se Nobres tem soro, infelizmente lá ainda não tem soro e foi oque aconteceu com médica, e como ela não sabia foi primeiro a Nobres, depois ela foi encaminhada para Cuiabá”. Declarou o professor. 

Poderá ter alguma mudança na lei dos resorts de ecoturismo, para que eles possam disponibilizar o soro antiofídico?

“Porque não pode ter o soro em fazendas e pousadas, para produzir o soro eles tiram o veneno da cobra e injetam em cavalos, o Instituto Butantã tem uma fazenda com 700 cavalos para essa finalidade, injetam no cavalo e como resposta a essa substancia estranha, começam a produzir anticorpos e os cientistas retiram o anticorpos do sangue do cavalo, que vai salvar a sua vida e a vida de qualquer pessoa que possa sofrer com acidente de picada de cobra, só que esses anticorpos não foram produzido por mim, por isso quando eu injeto na minha veia para me salvar, eu posso ter uma reação alérgica porque não fui eu que produzi, é estranho e mesmo que seja para salvar a sua vida, algumas pessoas podem ter uma resposta alérgica, por isso tem que ser em um posto de saúde. Porque se tiver uma alergia grave, um choque anafilático, o médico tem como fazer uma conduta para reverter isso, induz ao coma e a respiração artificial, para ai fazer administração do soro, agora se estou em uma pousada ou fazenda e a pessoa tem uma reação alérgica, ela morre em 10 minutos por asfixia, então o soro só pode ser administrado em um ambiente hospitalar e sobre atendimento de um médico, profissional de saúde que tenha essa responsabilidade”. Declarou o professor. 

O que fazer após sofrer uma picada de cobra?
“Primeira coisa, levar a pessoa imediatamente para o hospital, se acontecer um acidente no local da picada nenhuma ação mecânica, porque imediatamente as pessoas amarravam e até tentavam sugar, mas hoje em dia não ajudam em nada. Então o que eu posso fazer, limpar o local com agua e sabão, se não tiver sabão apenas com agua, porque a boca da cobra também é suja, além do veneno tem bactérias, se tiver gelo pode colocar em cima do local da picada, porque ele diminui a circulação mas não para, porque quando eu amarro tem dois problemas, o sangue oxigenado não chega e as células daquela região começam a morrer, e o veneno concentrado começa a destruir mais rápido os tecidos daquela área, se eu deixo o veneno se espalhar pelo corpo todo ele fica mais diluído, então ele demora mais para começar as agressões. Então as dicas, não amarrar e nem perfurar, mas pode lavar com agua e sabão, colocar gelo enrolado em um pano, porque se colocar direto na perna ele queima, e o membro afetado inclinado para cima, porque o que faz para espalhar o veneno, não é a força da gravidade mas sim a passagem do sangue naquela região, absorve o veneno e vai espalhando para o resto do corpo, então deixando o membro inclinado para cima, reduz a circulação e o processo de espalhamento do veneno fica mais lento”. Declarou o especialista 

Em Cuiabá, qual hospital tem o soro antiofídico?

“Apenas o pronto socorro de Cuiabá, na unidade velha tem o centro chamado CIAV e ali é feito o atendimento e feito em emergência”. Declarou o Professor.

A pandemia do coronavirus não atrapalhou o atendimento?
“Não, porque é um atendimento de classificação vermelha, risco iminente de morte, pode ter 100 pessoas na frente dela, e ela vai ser atendida imediatamente”. Declarou o professor.
Qual a grande dica para não ser picado?
“A dica é andar bastante alerta, e saber sempre onde buscar o socorro, saber o local que você pode levar a pessoa o mais rápido possível”. Finalizou o professor Luiz Eduardo Saragiotto. 
 
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