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Entrevistas

17/09/2020 | 07:46

Beco do Candeeiro e a sua história sanguinária

Caio Dias

A chacina que matou três adolescentes no dia 10 de julho de 1998, na rua 27 de Dezembro, mais conhecida como ‘Beco do Candeeiro’, em Cuiabá, completará 22 anos no próximo mês.

Para compreender melhor o crime acontecido há duas décadas, o jornalista Johnny Marcus, escreveu um livro-reportagem “Beco sem Saída: A Chacina do Beco do Candeeiro 20 anos depois”, que ganhará vida, em forma de história, à disposição do leitor nas prateleiras de livrarias de Cuiabá.

Por essas e outras histórias, conversamos com o jornalista Johnny Marcus.

Como você definiu que precisava contar a história dessa chacina?
“Essa pergunta é interessante, o Mario Quintana poeta gaúcho diz o seguinte: “As vezes não é você que lê o poema, mas é o poema que lê você” e como jornalista sabemos que algumas pautas não escolhemos, é como se elas nos escolhessem então foi uma série de fatores, conjecturas que me levou a isso. Eu passava na frente da estátua na praça senhor dos passos, e ficava vendo aquilo e me lembrando da história e me perguntando, se as pessoas que também passavam ali todos os dias, se elas sabiam o que significava aquela estátua que representa os três meninos”. Declarou Johnny.

Belíssimo trabalho esse da estátua né?
“Sim, e a própria estátua tem uma historia interessante porque ele fez a primeira estatua em resina, e ele foi embora para casa e no outro dia quando foi inaugurar, um comerciante da região tinha destruído, e ele tinha que fazer novamente e constantemente era ameaçado de ter a estátua destruída, e teve um dia que ele radicalizou e ficou lá, dormiu próximo da estatua para terminar até inaugurarem. Então ele fez de pedra para ninguém quebrar mais”. Declarou Johnny.

Resume um pouco sobre a história do livro e do crime?
“A versão que mais se aproxima, que talvez na realidade é a mais recorrente, e que Baby, Índio e Naldo, estavam ali no beco do candeeiro consumindo drogas, onde eles estavam consumindo pasta base e ai chegou um homem perguntando onde fica o cabaré, e o Baby teria respondido: “Ali, na esquina atrás da igreja Nossa Senhora dos Passos, já na voluntários da pátria” o homem foi e voltou com um boné na cabeça, com um colete de garçom e o Baby e Naldo estavam juntos lado a lado, e o homem atirou na direção dos dois, o indinho estava do outro lado da rua e ele foi lá e atirou nele também e um quarto menor, o verminose, que é o Edilson e estava na praça Alberto Novis, conseguiu escapar e saiu correndo. Mas essa é uma versão que não se comprova, não se sabe se foi realidade, a única certeza que temos em relação a chacina do Beco do Candeeiro, é que três meninos de rua morreram ali. Teve o indiciamento, que é um ex-policial militar o Adeir de Souza Gatsy Filho, conhecido como Zé do Caixão porque segundo contam, ele dormia literalmente em um caixão, mas ele foi indiciado e foi a júri popular em 2014 e foi absolvido. Já foram apontados como assassinos dos meninos, o próprio Cabo Hercules, um cafetão que gerenciava travestis na prainha, já foi um policial que fazia parte da “A Firma” que era uma agencia de matadores de aluguel de Cuiabá, então as possibilidades e as versões são muitas”. Declarou Johnny.

O que aconteceu com o verminose?
“Eu fui atrás do verminose, de vez em quando eu vou até o Beco do Candeeiro, sei conversar com eles e essa coisa meio Plinio Marcos, de ir até o local, de conversar com as pessoas e não ficar só com a documentação, recortes de jornal. Tenho uma certa facilidade de conversar com essa galera, conversei com um rapaz e ele me disse que é primo do Verminose, e eu perguntei onde ele estava que foi quando me respondeu: “O verminose está usando tornozeleira eletrônica em algum lugar de Mato Grosso”, e infelizmente porque ele teria muito a esclarecer sobre essa situação, porque o verminose só entra na historia, quando pegamos os autos do processo, cinco anos depois do assassinato, no dia das execuções onde ele sai correndo supostamente com o assassino atrás dele, pela Galdino Pimentel, ele foi parar na igreja da Matriz onde estava acontecendo um casamento, e ali um segurança o coloca para fora, ele encontra um policial um agente da delegacia da Criança e do Adolescente, esse agente leva ele de volta para o beco do candeeiro, onde lá já esta a policia fazendo o boletim de ocorrência, e no livro tem a reprodução do BO e simplesmente o verminose não consta no Boletim de Ocorrência, o menor que foi testemunha ocular da chacina, sobrevivente e o nome dele simplesmente não está lá. Então são coisas ao analisar os autos do processo e ficamos sem entender, são muitas perguntas sem respostas, por isso eu digo que o Verminose teria muito a colaborar em uma entrevista, dizendo e contando o que ele sabe sobre esses crimes”. Declarou Johnny.

Qual a grande dificuldade de ser um escritor no Brasil?

“A grande dificuldade é conseguir dedicar exclusivamente, esse livro demorou três anos para ser escrito, justamente porque eu não tinha meios, recursos e não podia parar de trabalhar, porque os boletos não se pagam sozinhos. Então a grande dificuldade para esse tipo de trabalho, é o financiamento porque quando comecei a escrever esse livro, eu fiz um projeto e imaginei que seria fácil arrecadar algum dinheiro, de algumas instituições inclusive de órgãos públicos para pagar, ledo engano e ninguém ajudou a pagar. Então isso atrasou bastante mas aos trancos e barrancos, eu consegui, porque o que falta hoje em dia é o mecenato, as pessoas acreditarem e ai o escritor ele pode se dedicar o tempo todo para a produção desse material”. Finalizou Johnny Marcus.
 
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