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Entrevistas

19/06/2020 | 12:33

Estamos começando a odiar a democracia....

Caio Dias 

Pandemia do Coronavirus, proibição de aglomeração e contato, como fazer uma eleição municipal em meio a tudo isso? Prorroga os mandatos? Faz a eleição esse ano com algumas restrições as campanhas? Proíbe os comícios? Como será essa nova eleição desse novo mundo, o cientista politico João Edisom foi até os estúdios da TV Mais, para tentar explicar o que está acontecendo e o que irá acontecer.

João, esse ano terá eleição? Como está essa discussão?

“Teremos eleição, por um conjunto de motivos, mas o motivo mais forte hoje é a instabilidade política vivida no Brasil, que vai fazer com que as instituições forcem de qualquer forma para que as eleições aconteçam esse ano e que a posse seja dia primeiro de janeiro, esse é o maior medo. Porque costumamos dizer que o Brasil, não é para os fracos, existe um risco muito grande que se a eleição for para o ano que vem, você altera o período de posse e quando altera esse período, é quebrado uma ordem constitucional, seria uma nova lei, uma lei emergencial uma coisa nesse sentido. Existe um mito no Brasil, que se criarmos esse precedente, futuros governantes ou governantes que já estejam no poder, eles possam gerar crises, para aplicar essa lei e permanecer no poder independente da questão da eleição. Vem o imaginário “Um presidente da Republica está muito mal no ano da reeleição, e ele tem um conjunto de atividades que está travada, mas ainda assim ele não se recupera. Mas se tem esse precedente o que ele faz, cria uma crise enorme, evita a possiblidade da eleição, atua para que suas obras fiquem prontas para que ele consiga ganhar outra vez estabilidade para então fazer a eleição” comentou o cientista politico.

“Em função desses fatores, existe todo um cuidado neste momento, onde o Brasil está efervescendo, hoje é um exemplo disso se alguém perguntar onde está o presidente e o que está acontecendo, não sabemos se ele está gestando, se está cuidando da policia federal, está realmente uma coisa louca, e onde estão os presidentes das casas legislativas, onde estão nesse momento, pode ligar a televisão que não encontrará, e se estiver será apenas de corpo presente, porque a cabeça estará nas operações policiais. E o Judiciário, enfim o Brasil vive um momento tenso, estamos vivendo aquele momento em que a bolinha da panela de pressão, está lá em cima cantando no máximo, em função disso vão forçar com a eleição. E agora entra a segunda parte, como serão essas eleições?” completou João Edisom.

E no meio dessa loucura toda, já se prevê uma eleição? Como será?

“Esse é um grande complicador, será uma eleição com muitas restrições, e em eleição o quanto mais criar restrição, mais você cria crime, essa é uma questão quase óbvia, aumenta a restrição e aumentam os crimes, porque nem todos obedecem as restrições e essa é uma eleição de muitas restrições. Ela terá várias implicâncias, uma delas a que veio imediatamente na cabeça: Quem será o mesário? uma atividade voluntária, tudo bem? mas e se ele pegar a covid, posterior a eleição, e alegar que pegou no dia das eleições? Ele terá direito a indenização, como será? vão indenizá-lo? Então já se começa a pensar esses fatores, mas voltamos lá. Não pode aglomeração, então será eleição das lives, vai ser eleição de aplicativo para os candidatos com discursos online, entrará uma indústria de tecnologia muito forte, durante a eleição. Mas e aqueles municípios que estão nos locais em que não tem acesso a tecnologia?” comentou o cientista político.

“Não vamos longe, em Livramento, tem apenas 33,34% do eleitorado na cidade, quase 68% é da zona rural. Sabe qual é o maior tormento de um pesquisador quando vai para Santo Antônio do Leverger? É colocar na lista dele a cidade, para conseguir fazer uma pesquisa decente na cidade precisa andar de moto, barco e até cavalo, porque é um município enorme, onde atravessa lagoa, rio. E a maioria da população não está no centro urbano, então te pergunto, como fazer campanha em locais assim, e outra coisa, no processo de restrição, como receber alguém em casa? como chegará na casa? Hoje quando os amigos nos ligam para entregar alguma coisa, nós temos todo cuidado para entrar na casa. Tudo isso é um conjunto de fatores e quando temos esses fatores, aparece alguém no local fechado, em um ar condicionado, onde não tem essa visão inteira de problemas e coloca um conjunto de regras que não são aplicadas, e sabe o que acontece: essas leis chegam aos municípios e lá um juiz eleitoral olha e fala “Isso não cabe aqui, e aqui então faremos outra regra, chamado TAC” e ninguém é obrigado a assinar TAC e ele não tem uma validade certa. O perdedor da eleição não assinou o TAC, mas acabou cumprindo e ai descobre que o cara tinha assinado, participou e cometeu um deslize, e o que ele faz? Entra na Justiça, então vamos abarrotar a justiça com processos” completou João Edisom.

Seria essa uma eleição onde muitos vão ganhar e poucos vão levar?
“Olha, eu não sei se poucos vão levar, pior do que não levar a eleição, posso dizer com muita clareza pois eu conheço os 141 municípios, posso dizer que 80% dos prefeitos são meus conhecidos. Pior do que não levar, é fazer uma gestão inteira com um olho e meio no processo e só meio para população. A pior coisa que existe em uma gestão é o presidente, prefeito e governador atormentado pela justiça, quando começa o processo tem que acelerar logo, ou tira ou deixa o cara trabalhar, o tormento quem tem que fazer é a oposição, não é o judiciário que tem que fazer esse tormento. Um exemplo disso é a Selma Arruda, que ficou um ano e pouco no senado atormentada, ela não gesta tanto que hoje você não sabe qual é o grande o projeto dela, porque ela estava mais preocupada com os processos, era um olho no senado e outro na justiça. Então isso se repete com os prefeitos que passam por isso, é muito difícil e então criamos um grande campo jurídico no Brasil, que dez anos depois ainda estaremos discutindo. E então se você me perguntar “A eleição tem que ser feita agora”, a resposta será sim, porem tem que ser feito um debate muito grande, para que não tenhamos um conjunto de leis de restrições que vá gerar processo, essas restrições tem que ser as mais simples possíveis, então um conjunto de restrições que só servem para o conjunto jurídico, não melhora a democracia, não da clareza para a eleição, o eleitor não tem nenhum beneficio em relação a isso, então vemos um conjunto de coisas que fica aquilo, a terra do esperto “Se pegou tudo bem, se não pegou alegria”.

Quando será que teremos essa definição?

“Eu já fui consultor em Brasília, e as coisas não funcionam do jeito que falam em Brasília, tem uma outra funcionalidade, Brasília por incrível que pareça, tem quem manda e tem quem obedece, e o que ocorre. As grandes cidades, não só as capitais, mas Ribeirão Preto, Campinas, Caxias do Sul, Londrina, eles tem lá os seus deputados federais, os candidatos para essa eleição, principalmente entre deputados federais, o senado nem tanto, eles sabem que se adiarem a eleição, eles perdem o bonde, então no baixo clero, vai ter esse debate, faça isso ou faça aquilo, mas na hora de decidir vai para as lideranças e elas falam “preciso que a eleição seja esse ano, se não vamos perder, então você vai votar e todo mundo vota”. Então não há clima para que a eleição não seja esse ano, devemos ter ai entre as grandes cidades que consideramos em estatísticas, porque não há só a soma da população, é um conjunto de fatores e consideramos no Brasil em torno de 106 grandes cidades, dessas 106 cidades, 92 estão com seus candidatos no congresso, e eles são quem? São lideranças, partidárias, de bancadas um conjunto de lideranças. Então quando se abre o debate, que na politica é assim, abre o debate para todos terem o prazer de falar, mas na hora de decidir, decide quem tem os domínios para essas situações, e essas pessoas que tem o domínio para essas questões, elas estão muito claras. Faça o debate para a população ver que estamos trabalhando, mas a decisão o que eles aceitam, a tal coisa: Mudar para novembro, mudar para dezembro, até para 31 de dezembro, mas desde que a posse seja em 1 de janeiro” comentou João Edisom

“A votação é o menor dos problemas, em dois dias é loucura. O que dá para fazer é a votação igual como se faz para cadastramento dos correios “Das 6 da manhã a meia noite, onde a tal hora é um conjunto de letras” você consegue organizar, agora o que não existe na democracia é eleição sem campanha, sem conhecer os candidatos, sem debate, sem um conjunto de coisas. Antes das eleições que é o grande problema, porque você pode gerar uma campanha que acelere essa pandemia, o que não dá para fazer é gerar uma eleição com Lockdown, com restrições. Como você vai decretar que a cidade deve ter um toque de recolher as 18h, mas se no dia da eleição irá até meia noite. Então um conjunto de fatores tem que ser debatido, que eu acho que é o mais importante que o dia da eleição, porque já pensou “Vamos fazer campanha, mas está proibido comício e qualquer aglomeração, o candidato novo vai aparecer como?” ele irá perder porque na hora de votar você encontra os nomes e acerta” completou João Edisom.

Será que ainda dá tempo de um candidato que não está nas redes sociais aparecer e se lançar? Ou não?

"O marketing faz um trabalho interessante nessa questão, porque muitas vezes a pessoa está, mas você não sabe quem é. Você tem um rosto, você tem uma conversa sobre um assunto, embora no Brasil tenha votado muito nisso “Eu não gosto de fulano, você fala mal dele, estou com você” Não sei o que o cara pensa, e isso virou uma confusão tão grande agora que eu vejo pessoas, que tiveram uma militância de esquerda querendo um Brasil de esquerda, mas de repente faz uma opção, porque tem raiva da esquerda” 

“Uma vez perguntei como a saúde deve ser? Como deve ser a economia? Ai ela explica, e eu falo “Mas isso não é de direita, isso é de esquerda, porque está fazendo essa defesa então” Eu sou formado na escola liberal, o que eu falo em termos de política ninguém reclama, agora se eu falar que o A ou B está errado, eu sou xingado o tempo todo, ou seja as pessoas não dominam os conceitos. Então a campanha política, é saber o que você pensa, eu preciso saber o que você pensa, sobre saúde, sobre transporte e etc. Eu preciso disso, não podemos votar nas personalidades das redes sociais, se não detonamos com a democracia, aliás estamos fazendo isso, estamos começando a odiar a democracia e isso é sério, eu estou começando a odiar aquilo que me protege” comentou o cientista político.

Esse é o novo mundo? Essa será a nova eleição? 

“Não, todo fim de uma era e começo de outra, elas convivem juntas e quando isso acontece elas conflitam. Eu brinco muito com a história do “Eu sou da geração do século passado, existia uma história de 1999 chegará, mas de 2000 não passará” e não passou, quem passou fomos nós, mas aquele mundo da era da conversa, da comunicação restrita acabou, morreu, aquele mundo morreu e começou outro, mas outro mundo com as velhas pessoas e começaram a nascer as novas pessoas, nós somos uma série de conflitos. Se formos pensar, o conjunto de coisas que falávamos e usávamos antigamente e agora não usamos mais, o conjunto de coisas que passou a usar e falar,  e não usávamos, essa pandemia acelerou uma coisa que estava enrustida, presa que é o cartão de crédito, e compras pela internet, essas duas coisas estavam enrustidas, então você tem o cartão e ai ficando em casa com a pandemia, testou e deu certo, você não voltará ao antigo, você acostumou, correu o risco” comentou João Edisom.

E ele ainda falou sobre como o mundo vem mudando bem antes da pandemia:

“Você acha que  as grandes empresas ficaram viajando de um lado para o outro? O empresário fica na sua sala e faz 20 reuniões por dia, onde antes você gastava o dia inteiro para uma reunião. Eu que prestei consultoria para os municípios de Mato Grosso, eu cheguei a fazer 16 mil km em um mês aqui no estado, eu não vou fazer isso mais por ano, porque hoje consigo fazer do meu celular, de onde estou. As pessoas não faziam isso antes, experimentaram e deu certo, ela vai continuar fazendo, lembra da questão do telefone fixo, chegou o celular e muita gente falou “telefone fixo é património, tenho ele aqui” Hoje eu já não sei mais fazer uma ligação em um telefone fixo, e olha que não sou um ser da era digital, sou um ser da era da pedra. Essas mudanças aceleraram as pessoas, e isso é conflituoso é muito confortável, você viver do que você já conhece e é muito desconfortável, viver do desconhecido, quando alguém força você para essa passagem você reage, essa sociedade brigando, xingando a outra, botando rótulos é a sociedade que está vendo parte dela morrer, e ela não tem certeza de que vai gostar de viver na parte que está nascendo, isso é um grande conflito. Isso na politica é um expoente, é o primeiro local, isso não vai estourar na relação da empresa, isso não vai estourar na relação familiar, o primeiro local que estoura isso é na política. E então você imagina, uma eleição dentro da pandemia, com todo esse efervescer junto, essa vai ser a tal da eleição em que as pessoas saibam como ela vai começar, mas não sabe como vai terminar” finalizou João Edisom.
 
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