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Entrevistas

16/07/2020 | 18:00

“Queremos que a população entenda que a coisa é grave, não é brincadeira....”

Caio Dias

Com o atual momento que passamos devido a essa pandemia do novo coronavirus, vimos que Mato Grosso chegou ao colapso da saúde, e por isso vamos conversar com o médico Marcelo Sandrim que estava usando roupa vermelha, exatamente para mostrar que os hospitais e Mato Grosso em si, está em estado vermelho de preocupação com o avanço do vírus. 

Dr. Marcelo, como o senhor vê o uso das máscaras pela população, visto que hoje ela é uma proteção para a população?

“A população precisa entender que essa é uma doença nova, assim como a dengue em 1996, foi uma doença nova, assim como a Aids nos de 84 foi uma doença nova, as pessoas ainda não entenderam que estamos aprendendo com o bonde andando, eu particularmente, vi uma nova medicina nesses quatro meses, onde eu atendi pessoalmente 292 pacientes com covid, tenho óbitos computados, tenho muito prazer nos retornos, que hoje já tive três deles que se salvaram da Covid, alguns com gravidade, outros mais simples, mas estamos sempre com problemas, com essa doença onde de uma hora para outra, o quadro pode mudar, a coisa pode ficar muito complexa e aquela pessoa que aparentemente estava estabilizando com o tratamento, vai necessitar de uma vaga de UTI. O que eu peço encarecidamente é que, por favor, obedeçam as regras de não socialização, chega de fazer festas, de ir jogar futebol, chega de fazer de conta que você está contribuindo, nós da área de saúde que estamos no “front”, estamos cansados e daqui a pouco estaremos estafados ou pior que isso, muitos já estão doentes e alguns perderam a vida, aqui em Cuiabá e em outros lugares. Os profissionais da área de enfermagem, expostos também estão aí, profissionais das limpezas dos hospitais, pessoas que estão trabalhando nas policlínicas, infelizmente não estamos contando com a colaboração plena da sociedade, é muito bonito ficar nos prédios aplaudindo, ficar querendo trazer benefícios para nós. Não queremos benefícios nenhum, queremos que a população entenda que a coisa é grave, não é brincadeira, se não fosse, eu não estaria todo paramentado com essa roupa vermelha, inclusive essa cor começou pela verde, depois eu passei pela cor amarela, agora com essa roupa vermelha de proteção da minha pessoa e da minha família, meus convivas e meus pacientes assim por diante, e ela é vermelha para dizer que o momento é crítico, se piorar ainda mais, não usarei a roupa preta, vou passar para a violeta, o roxo, porque a coisa está ficando feia. As pessoas estão brincando com uma coisa que é muito séria, provavelmente, essa doença irá nos infernizar durante muito tempo, temos que tentar sair desses números de casos, tentar sair dessa tensão ainda com a economia do pais viva, porque se não seremos miseráveis e não conseguiremos nem vacinas, para poder controlar essa doença, se Deus nos der uma vacina. Essa que era para chegar em setembro, provavelmente irá para julho do ano que vem, ou seja: Ou nós paramos com a brincadeira, faremos com seriedade, lembrando que não temos uma bala de prata, não temos um remédio supimpa, para acabar com o problema, onde as medidas são todas galgadas em experimentos empíricos, e nós precisamos da colaboração da população, porque se não sofreremos por bastante tempo”. Desabafou Dr Sandrim.

O tratamento dessa doença são várias tentativas de acertos e erros, quer dizer que ainda estamos aprendendo com ela?

“Sim, ainda estamos aprendendo, quem é que conhecia o coronavirus antigamente? Tivemos dois episódios que foram negligenciados, e com isso espero que a humanidade aprenda a não negligenciar. Poderíamos ter essa vacina contra o coronavirus, se tivéssemos valorizado a “merss” no Oriente Médio, que foi uma coronavirose ou então a “sars”, que veio há quase 20 anos, que também era outra coronavirose. Agora não conhecemos quase nada dessa doença, e ela é surpreendente, ela pode ser realmente aquilo que falaram, pode ser uma “gripezinha”, mas ela pode ser mortal, ela pode bloquear o seu pulmão, coagular o sangue dentro dele e você ser extinto. Nós vivemos aprendendo todos os dias, se você olhar em março e abril, nós médicos não usávamos anticoagulantes no tratamento da covid, já hoje é preferencial usarmos anticoagulantes, para impedir essa coagulação que é o que leva a gravidade, e o extenso tempo de UTI que os pacientes tem, vê como é incrível, ontem eu tive a oportunidade de ver um paciente muito bem se curando da covid, onde usava remédio por conta própria, e acabou positivo para a dengue e por incrível que pareça, a dengue possa estar protegendo a coronavirose dele, é uma hipótese esdruxula? É, mas ninguém pode dizer o contrário, porque não temos passado nessa doença, temos presente, porque eu aprendo todos os dias, quando faço um diagnóstico de coronavirose, e hoje os acertos são aprendizados que as equipes médicas se dedicam a esse tratamento, e tem como usufruir do conhecimento, a experiencia passada para apresentar, resultados do momento é que vem fazendo. No futuro as UTI´s covid, terão um grupo de médicos de excelência no futuro, jovens médicos as vezes, não tem intensivista para todo mundo, agora esses jovens estão sendo treinados em campo de batalha, com bombardeio tremendo e assim sairão melhores, mas isso está custando vidas, custando sofrimento e também muito dinheiro, está custando a desativação de hospitais, onde estão fazendo falta para outros doentes que precisam se internar por aquilo que tínhamos antes da coronavirose e desapareceu o restante”. Declarou o médico. 

Agora, quanto tempo o vírus leva para deixar o corpo do hospedeiro?

“A expectativa é a seguinte, a pessoa tendo resposta, calculamos de 10 a 14 dias. O vírus é destruído, onde ele não consegue mais se replicar no corpo. O vírus não é malvado, ele é uma forma ínfima decimal de vida, que ele tem lá traços de vida, e ele só nos ocupa para reproduzir, ele nos usa como as nossas células, como uma forma de conseguir o que ele precisa, para se replicar. Se conseguíssemos bloquear a replicação, uma medicação, como fazemos com as bactérias, com os nossos antibióticos, onde tem alguns antibióticos que até agem bem na própria coronavirose, mas não temos um que é extremamente efetivo. Mesmo com a medicação que é usada contra o ebola, que é um vírus também potente, assim como remisavir, que vem sendo decantado com o prosiveno, custa 900 dólares cada dose, e esse tratamento é de 5 a 10 dias, não temos condições de ter essas drogas e nem elas são plenamente efetivas, elas são experimentais. Todas as drogas que estamos usando, estamos com o melhor conhecimento médico e não empiricamente. A experiencia vem mostrando, que quem foi bem tratado e foi bem acompanhado, tem muito mais chance de não ganhar uma UTI, não ter uma sequela, ou perder a vida.” Declarou o médico

Esse tempo seco que vivemos hoje em Cuiabá, pode ajudar a propagar mais o vírus?

“Olha, existe aquela máxima: Porque temos mais gripes, mais influenzas, no inverno? Porque você se interioriza mais em casa, mas nós aqui estamos com temperaturas de verão. A secura e a baixa qualidade do ar, vão piorar as nossas via aéreas, mas a infecção vem pelo contato, e está quase comprovado, que por conta de uma desorganização do ministério da saúde, a seguinte indicação “Se você tiver febre e tosse, fica em casa” ai você contamina a família inteira, já eu falava ao contrário, tem tosse e febre procure o serviço médico porque você não pode ficar em casa, você vai se isolar, você irá fazer outra coisa e então houve um erro muito grande. Depois criou um impasse com medicação, o governo federal tentou colocar uma organização da seguinte forma, vai usar ou não o remédio, você é contra ou favor, não adianta ficar fazendo birra. Porque quem acha e consegue provar que o remédio pode ser eficaz e acredita, vai conversar com o seu doente, vai lavrar um documento e vai usar o remédio, com as restrições que ele tem e com o acompanhamento que é feito, e nenhum médico que eu conheço e olha que eu conheço bastante, nenhum médico prescreveu esse remédio para curar alguém a não ser que haja um maluco, esse é exceção. Nós ministramos as medicações com as melhores intenções, ninguém vai fazer um remédio pra uma pessoa com 65 anos de idade, com intensas dores no peito, não vai prescrever um remédio que pode acabar com o coração dele, sem antes fazer uma bateria de exames no coração dele. Porque depois que ele tiver o pulmão completamente comprometido, o cérebro tiver lesões que já está completamente comprovado, com insuficiência renal e estiver em uma guerra de extremidades. Não temos mais que usar remédio, temos que tentar salvar a vida dele, mantendo ele vivo, usando anticoagulantes, usando a técnica de ventilação, para que essa pessoa possa em seu organismo, se reorganizar e ela e sobreviver. Ou então infelizmente, sobra para nós e isso que acaba com a gente, e estamos vendo há quatro meses, muitas assinaturas de atestado de óbito”. finalizou Dr Sandrim 
 
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