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Entrevistas

02/08/2020 | 14:00

Usei a cloroquina na época em que estava sendo indicada e também não vi vantagem nenhuma...

Caio Dias

Uma doença extremamente nova, ninguém sabe ao certo como trata-la, vários medicamentos foram usados e muitos descartados. Mas afinal, é certo se automedicar contra o coronavirus? ou é melhor ir ao médico primeiro, mesmo com os hospitais e upas cheios? A infectologista Leticia Rosseto, vai nos tirar algumas duvidas sobre todas essas questões de medicamentos para combater o novo coronavirus.

Qual o risco da automedicação, ainda mais com uma doença nova para a sociedade e para os médicos?

“Isso é uma preocupação muito grande, minha e da equipe de saúde de uma forma geral. Porque o que acontece é que os pacientes, quando começam a ter sintomas da covid-19, muitas vezes eles não procuram um atendimento médico, e nem iniciam uma investigação do correto diagnostico e já iniciam a automedicação tão procuradas como o kit covid, e o primeiro grande problema da automedicação, é não saber o seu real diagnóstico e usarem medicações que podem prejudica-lo, como por exemplo: A dengue que é um diagnostico diferenciado para um caso inicial de covid-19, ela contraindica para que usemos os anti-inflamatórios, proibe o uso de corticoides e os anticoagulantes, também são contraindicados para a dengue de uma forma geral. E o paciente com sintomas de dengue, que é uma doença endêmica para o nosso estado, ele começa a utilizar essas medicações por conta própria e isso irá prejudica-la. Outra coisa, se trata da poli farmácia, existem várias medicações sendo divulgadas como solucionadoras da covid-19 e o paciente acaba associando a uma vitamina d, zinco, vitamina c e a ivermectina. Essa associação de medicações, ela gera no paciente uma hepatite medicamentosa, inflama o fígado, inflama os rins e como a covid tem um curso de doença diferenciado onde o paciente começa mais ou menos, e durante o nono ao décimo-primeiro dia que é quando ele vai piorar, e quando chega esse paciente a uma insuficiência respiratória, precisamos dar várias medicações ao mesmo tempo, mas encontramos um fígado e um rim machucados, inflamados por esse excesso de medicação que foi utilizado sem necessidade e então não conseguimos remanejar o paciente, ele evolui para dialise ou uma hepatite grave, pois precisamos desse segundo momento da covid-19, onde precisamos colocar várias medicações. Outra coisa extremamente importante, o uso da detamexazona ou da prednisona ou corticoide desde o início do tratamento, covid é um vírus é uma doença infecciosa, durante os 7 primeiros dias ele faz uma auto replicação, quando usamos a corticoide podendo ser, detamexazona ou prednisona, ao usar nesses primeiros dias sem uma indicação medica formal, apesar do custo beneficio facilitamos a replicação viral. Eu já tive pacientes que tiveram casos mais graves, pacientes mais jovens, sem comorbidades que o único fator agravante, é que ele estava usando desde o inicio esse corticoide. Então não é somente quais medicações utilizar, mas em que momento utilizar essas medicações que fazem toda a diferença no caminhar da doença. Assim, sabemos que a hidroxicloroquina e ivermectina elas tem efeito, no laboratório, mas já tem múltiplos estudos mostrando que elas não tem efeito no organismo do paciente em si, então são medicações que eu não costumo utilizar, já vitaminas B,C e zinco são suplementos vitamínicos, a não ser vitamina D, esses outros suplementos vão só sobrecarregar esses organismo, então se for usar uma vitamina, escolha uma apenas, e o ideal tenham um medico para chamar de seu, sejam consultados, vamos fazer o diagnóstico diferencial da doença, não é porque estamos em pandemia de covid, que as outras doenças não matam, elas matam e até mais e cada paciente é único”. Comentou a infectologista.

E a Ivermectina, qual é a eficácia? 

“Normalmente, quando você vê um colega falando a favor de algum medicamento, como a ivermectina e a própria Anita, eles são colegas de outras especialidades, não menosprezando os colegas mas pelo contrário, eu concordo com eles pelos artigos científicos falarem, que em experiencias dentro do laboratório demostraram que a ivermectina in vitro tem um efeito para a redução da replicação viral, o que acontece é que nós que estamos na linha de frente, como infectologistas, médicos intensivistas e até generalistas, já trata esses pacientes, já perdemos muitos pacientes e já utilizamos essas medicações e além de utilizar, estudamos os artigos científicos e vimos nos seres humanos, naquelas condições que são seres vivos, e não frascos dentro de um laboratório, que isso não é suficiente e que não tem efeito benéfico, até porque se fosse a cura, não teríamos tantos casos, cada vez mais óbitos e algumas dessas fosse de fato a solução, estaríamos utilizando desesperadamente. E o que acontece, as pessoas vão para a farmácia e compram desesperadamente não só a ivermectina, mas também o anticoagulante achando que é para o bem comum, para que todos saiam bem. Elas se separam e se tornam cada vez mais egoístas e cada um cria seu estoque em casa, se automedica e só procuram os especialistas, quando estão no meio para o final entre o nono e o decimo primeiro dia, quando estão em estado grave e a gente tem que lidar com esse uso desenfreado da automedicação e  ai aumenta demais a mortalidade. Então não vão correndo para as farmácias, não façam estoques, tenham um médico para chamar de seu, confiem em um médico só, porque existe pacientes que se consultam com vários colegas e acabam usando as medicações de todos e o paciente acaba ficando mal conduzido, adquirindo a hepatite medicamentosa e insuficiência renal. Então tenham o seu médico, confie nele e acompanhe as determinações e orientações dele, pois as vezes a sabedoria não é o excesso de medicação, os melhores médicos conhecem todas as medicações e indicam a medicação certa no tempo certo e retiram medicações que não são necessárias, porque quem sabe muito usa pouca sabedoria e quem sabe pouco usa tudo sem sabedoria e não lida com as consequências”. Completou a médica.

Além da Ivermectina, temos a famosa cloroquina, quista por muitos não especialistas médicos, o remédio da salvação. Isso é verdade ou realmente os estudos que foram feitos, mostram a real eficácia dela?

“A cloroquina não é um remédio eficaz no combate a covid-19, já fizemos estudos e estudos posteriores, foi comprovado que ela não tem eficácia. Nós da equipe opinamos sobre isso, contraindicou e eu continuo contraindicado o uso da cloroquina e também nos hospitais, porque desde o inicio da pandemia, prescrevo pacientes internados na rede pública, pacientes moderados e graves eu também acompanho. Usei a cloroquina na época em que estava sendo indicada e também não vi vantagem nenhuma, os pacientes não melhoraram por causa disso. Primeiro eu não concordo com o kitcovid, eu acho que não deveria existir isso, eu concordo que os pacientes deveriam ter acesso aos médicos, ter acesso a uma atenção individualizada porque cada pessoa é única, com suas comorbidades e responde diferente a doença independente se utilizar as mesmas medicações e eu também apoio para que não haja cloroquina dentro do kit, porque eu quero mais saúde publica para os pacientes, do que um saquinho com várias medicações misturadas”. Comentou a médica 

Existe alguma forma do pulmão mostrar que está com a covid-19? Conseguimos ver se estamos infectados ou não através de uma tomografia?

“Os primeiros sete dias da doença por covid-19, os sintomas normalmente  são inespecíficos. Os pacientes tem uma síndrome gripal, podendo ser mais leve, já a perda de olfato e paladar, tosse seca, mialgia, dor no corpo e fadiga. Já a lesão pulmonar, é muito difícil diferenciar essa lesão com sintomas químicos, até porque os médicos que tratei da covid-19, eles nunca tinham sentido falta de ar, é um sintoma difícil de entender e caracterizar para chegar e falar “estou com falta de ar”, e nem os médicos conseguiram falar para mim, que estavam sentindo isso, então fiz a tomografia e vi o comprometimento pulmonar deles. Então quais são as dicas? Cansaço ao esforço, quando caminha e quando vai sentar, porque a covid-19, como é uma doença intersticial no pulmão o paciente começa cansando ao esforço, esse que ele já fazia agora faz pouco e aumentando a frequência da respiração, mas isso é difícil de observar. Para os meus pacientes eu oriento, que se conseguirem adquirir um oxímetro, para ver a oxigenação do sangue tanto parado, mas principalmente depois do esforço, porque na covid a oxigenação do sangue começa entre 96 e 98 mesmo parado ou ao esforço, mas conforme vai passando os dias, chegando perto do nono dia, os pacientes que vão se agravando, a oxigenação do sangue vai diminuindo principalmente ao esforço, e se ficar abaixo dos 95  isso é uma dica que pode haver o comprometimento pulmonar e acaba ficando mais objetivo no diagnóstico. Existe outros exames como o de sangue, que chama gasometria arterial, que é bem dolorido e mostra a real oxigenação do sangue. Então é preciso ter um médico infectologista ou da família, onde esses exames conseguem prever o caos e conseguimos prever a piora do paciente, prever esse acometimento pulmonar observando o paciente e indicar com sabedoria o uso da tomografia, principalmente na rede publica já que é mais difícil ter acesso a ela”. Finalizou a médica infectologista Leticia Rosseto.

 
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