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Imprimir Entrevista

23/07/2020 | 19:32

O mais importante é manter a calma nesse momento que vivemos....

Caio Dias 

Quando a pandemia foi decretada no mundo, uma das principais solicitações da Organização Mundial de Saúde, foi pedir para que as pessoas fiquem em casa para não disseminar o vírus da Covid-19. Após quatro meses, muitas dessas pessoas começaram a ter crises de pânico, ansiedade e até mesmo medo de outras pessoas, por simplesmente acharem que estão com o vírus, já que a vacina ainda não existe. Então fomos conversar com o psicólogo Ricardo Cersósimo, para nos ajudar a entender um pouco mais sobre tudo isso que estamos passando.

Porque as pessoas hoje estão saindo de casa, para ir em um simples centro de triagem, correndo o risco de serem infectadas pela covid-19? Isso é consequência do longo período dentro de casa?

“O momento atual da pandemia gera muitas preocupações, seja em relação ao covid, seja em relação a situação de saúde, a situação financeira e até mesmo a situação das pessoas. Isso acaba deixando as pessoas agirem por instinto de sobrevivência, então os pensamentos e preocupações que vem a cabeça, acabam determinando o comportamento das pessoas, você pode ver que após um bom tempo de quarentena elas tem muito medo, muita ansiedade e muitas dificuldades onde acabam se vendo em uma situações confusas tais como: A ciência fala por um lado, que as pessoas tem que ter todos os cuidados para não ser infectado, mas o outro lado tem a necessidade de sobrevivência e trabalho, então tudo isso acaba deixando as pessoas em dúvidas do que fazer realmente, nas decisões nos comportamentos a tomar”. Comentou o psicólogo.

Em uma pesquisa feita em São Paulo, 79% das pessoas acreditam que a vão voltar a vida antiga. Essa tal vida antiga volta? Ou infelizmente o que vivemos hoje é o novo normal?

“Eu acredito que vai ser muito difícil de voltarmos aquela vida antiga, passaremos por momentos de muita adaptação como já estamos passando, a tecnologia durante esse novo normal vai ser essencial, mas temos que ficar atentos, para que essa tecnologia não passe do uso, para o abuso. Outra questão muito importante é a resiliência, estamos passando a quase quatro meses de adaptação a esse novo normal, um futuro novo onde muitas coisas permanecerão como antigamente, mas claro muitas coisas novas virão, muitos comportamentos, muitas formas de comunicação e isso tudo influencia o novo jeito de viver das pessoas, onde isso tira muitas pessoas da sua zona de conforto, porque qualquer mudança causa preocupações, angustias, ansiedades. Então temos que estar atentos e nos adaptarmos a melhor forma a situação de acordo com a nossa realidade, porque afinal a realidade de cada um é única, então o mais importante é sempre ficar atento a essa forma de adaptação, sempre buscar as melhores maneiras de enfrentamento da situação”. Declarou Ricardo Cersósimo.

Hoje então podemos dizer que, quem está apelando para a força está perdendo, diferente daquele que conseguiu se adaptar?

“Realmente, é um tempo de adaptação de novas maneiras de comportamento, novas maneiras de pensar, é difícil o isolamento e o distanciamento social, causou muitos transtornos psicológicos e físicos como a ansiedade e depressão. Então como a pessoas encaram essa nova situação e se adaptam a ela, será o novo normal”. Declarou o psicólogo

Antes da pandemia do novo coronavirus, já estávamos passando por uma pandemia psicológica, uma pandemia onde muitas pessoas estavam com ansiedade e depressão. O senhor acredita que essa pandemia possa ter agravado a situação?

“Sim, a ansiedade eu digo que seria a maior das demandas hoje em dia, além da depressão estresse, dificuldades de relacionamento. O aumento do uso de drogas e álcool aumentou substancialmente, então o isolamento social e a falta de contato com as pessoas, tudo isso acaba aumentando o nível de ansiedade das pessoas de como será o futuro. Então temos que viver o aqui e agora e estar sempre presente e pensando nas soluções, para as situações que vivemos hoje, porque não adianta pensar no problema e focar só no problema e não pensar nas soluções para eles, pois o importante é estar atento aos nossos pensamentos, nossas crenças, pensar como as pessoas acreditam que será o futuro. Então temos que viver a cada dia até porque tudo é muito incerto, temos que ter essa adaptação, ter calma e resiliência que é a palavra chave para esse momento, empatia que é saber se colocar no lugar do outro e são fatores que podem ajudar nesse momento que afeta a todos”. Comentou o psicólogo. 

Porque as pessoas tem dificuldade de respeitar as regras do isolamento hoje aqui no Brasil?

“Após quatro meses de quarentena e isolamento social, as pessoas começam a ter dificuldades de manter esse distanciamento e isolamento social e cada um é singular, cada um é individual, cada um tem a sua realidade própria onde alguns pode ser que necessitem sair, para ir a um médico, uma consulta, fazer algumas compras, já outros podem ser que precisem voltar ao trabalho. Mas o importante eu acredito que se a pessoa precisa sair, tem que ser com muita consciência, porque algumas pessoas estão em desespero se vendo em uma situação muito difícil e acabam infringindo esse momento, que seria de isolamento social e que é realmente muito difícil e cada pessoa acaba enfrentando a sua maneira, é claro que se a pessoa se expõe a cada situação, como sair as ruas, acabam se envolvendo em aglomerações, mas que tenha todo o cuidado possível como a máscara, álcool em gel e outras ferramentas disponíveis para a prevenção. Por isso temos que contar com os recursos que temos disponíveis nesses momentos”. Declarou o psicólogo 

Com a divulgação em grande escala do novo coronavirus, acaba gerando um acumulo de insegurança. O que causa isso?

“Eu acredito que seja o excesso de informações, porque o acesso a tecnologia que temos, a globalização e as informações que chegam, como as informações da origem da China que foi por onde começou, já imaginávamos que poderia ser uma pandemia e chegar até nós, então a partir dali já começou a causar uma preocupação a nível mundial, então ela vem de fora para dentro e realmente, isso traz muita ansiedade e preocupações. As pessoas se comunicando, se informando através de muitas tecnologias que temos hoje, porque de certa forma ela ajuda, mas ao mesmo tempo pode causar preocupação e ansiedade de como será o nosso futuro, e as pessoas acabam vendo um futuro preocupante e negativo. Então é muito importante ficar atento as informações, claro sempre com base em dados científicos, temos que confiar na ciência. E como no ato de desespero, de uma pessoa que precise estar se expondo, para que ela tome os cuidados necessários, pois isso é o mais preventivo para que ela tome nesse momento”. finalizou o psicólogo Ricardo Cersósimo.
 
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