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Imprimir Entrevista

28/07/2020 | 16:14 - Atualizada: 04/08/2020 | 12:08

30% da população tem hipertensão isso acaba colocando os como maior risco de contágio da doença

Caio Dias 

Um dos principais órgãos do corpo humano é o coração, onde durante a pandemia da covid-19 pode ser um dos mais afetados, tanto para quem pega a doença, quanto para a questão psicológica sobre a doença, mas há quem se engane que o coração também não só por conta da covid-19, mas também nesse tempo seco tem consequências. Por isso vamos conversar com o cardiologista Sandro Andrey Nogueira para nos esclarecer um pouco sobre isso.

O senhor vem trabalhando na linha de frente, de combate a covid-19 aqui em Cuiabá?
“Sim, estou na linha de frente onde estou trabalhando na UTI covid do hospital Júlio Muller e no hospital São Matheus onde tem duas UTI´s para pacientes com Covid. Estou enfrentando essa pandemia sim, com todos os profissionais de saúde”. Declarou o médico.

Qual o pensamento de um médico da linha de frente, igual a você, quando observa as pessoas aglomeradas nas ruas e principalmente fazendo festas?

“Eu fico bastante preocupado, até porque, diferente do inicio da pandemia na Europa que pegavam mais idosos, aqui no Brasil vemos muitos jovens nas UTIS, muitas pessoas na idade dos 30 a 50 anos morrendo, e isso acaba se tornando uma estatística diferente da original. Ou seja, os jovens estão adoecendo e muitos estão morrendo, então isso nos preocupa, porque o jovem não leva a sério muitas vezes essa doença e acaba se expondo e também expõe a família enfim, é muito preocupante, essa é a palavra “preocupação”. Comentou o médico;

E agora com a reabertura do comércio, o senhor continua com a mesma palavra “preocupação” ou um alivio, como foi a sua reação?

“É difícil analisarmos isso, porque precisamos olhar os dois lados, mas acredito que voltando com os cuidados de biossegurança, eu acho que conseguimos sim, mas precisará de muita responsabilidade. Porque com o fechamento de tudo, as pessoas acabaram circulando normalmente como se nada estivesse acontecendo, então reabriu o comércio não essencial e a permissão para que as pessoas trabalhem e também tomem cuidados, sair realmente se for necessário eu acredito que conseguiremos controlar sim, pois precisamos que todos tenham seriedade nessa hora”. Declarou Sandro Andrey Nogueira.

Como é a relação da Covid com as doenças circulatórios, acabam agravando ainda mais? Como funciona?

“Na verdade, nos deparamos com um fator de risco muito comum na população bastante prevalente que é a hipertensão, os hipertensos são pacientes de risco e eles são 30% da população, ou seja 30% tem um risco maior de complicações por causa da covid, a exposição ao vírus é igual para todos, mas os hipertensos e principalmente aqueles que tem doenças cardíacas, que já tem uma cardiopatia intensiva desenvolveu uma doença coronariana, esses pacientes quando infectados correm um risco maior, e a mortalidade também acaba sendo elevada nesses pacientes”. Comentou o médico.

E os pacientes em clínicas, durante esse tempo houve um aumento de pacientes com problemas no coração? 

“Passamos muito tempo longe dos pacientes, por causa da quarentena e recomendamos também para ficarem em casa, ir para o hospital apenas se estiverem com sintomas gripais. Então muito dos pacientes graves ficaram um pouco desassistidos, hoje eu tenho contato com os meus pacientes mais graves, então acabo passando as orientações por telefone e até atendendo-os em algum horário. Mas muitos dos pacientes graves, acabaram ficando com o tratamento cardiológico em segundo plano, então esses pacientes graves, precisam redobrar os cuidados, mas se tiver algum sintoma, tem que procurar um serviço médico. Porque os prontos atendimentos, tem médicos para atender quem aparece com sintomas gripais, mas tem médicos para atender o paciente cardíaco, onde inclusive estamos preparados para atender esses pacientes de maneira diferenciada. Mas com certeza, muita gente morreu de doença cardíaca nesse período, por falta de assistência”. Declarou o médico.

Pessoalmente o senhor não conseguiu dar atenção que os pacientes precisavam, por estar no combate a covid. Mas conseguiu praticar telemedicina com quem o procurava?

“Eu consegui sim, os pacientes que fazem o acompanhamento comigo, eles mantem o contato via WhatsApp, ligações e sempre fiquei mais próximo daqueles que precisam de ajuda, e as vezes sabendo da doença eu mando eles virem até o hospital e acabo atendendo eles no consultório onde eu arrumo um horário para eles, para atender esses pacientes com prioridade. Então sim, consegui praticar a telemedicina com os pacientes que eu já conheço. Mas os pacientes que estavam para se consultar comigo, infelizmente acabamos esbarrando na agenda, na falta de horário, mas aqueles que já tratam comigo consegui dar a assistência que eles precisavam. Existem muitos médicos que fizeram isso, graças ao WhatsApp hoje, conseguimos orientar melhor os pacientes”. Comentou o médico.

Quem é paciente cardíaco e pegou a covid e conseguiu se curar, ela pode deixar sequelas no coração?

“Pode sim, pois existe uma forma mais grave da doença que pode acometer o musculo cardíaco, onde pode levar a miorcardidite e ela pode levar a uma inflamação do musculo cardíaco, e o paciente pode acabar indo a óbito muito rápido, ela é muito difícil tratar e a mortalidade é muito maior. Já vi pacientes jovens a pouco tempo com essa miorcardidite. A consequência nos pacientes que já tem doença na coronária, aqueles que já tiveram infarto, já colocou stand esses pacientes durante a infecção e se ela se torna grave, eles têm risco maior de infarto e podendo chegar até a morte em decorrência da covid-19”. Declarou o médico;

Uns dias atrás uma pesquisa foi noticiada que determinados tipos sanguíneos são mais resistentes a covid-19. Isso acontece ou não?

“Na verdade teve uma publicação no New England, onde o estudo que fizeram com quatro mil pacientes, mostrou que o sangue A tem um risco de evolução maior quando pega a infecção, onde foi documentado que essas pessoas tinham 45% de chance de evoluir com mais gravidade do que os outros tipos sanguíneos. Já o tipo O tem 30% de chance a menos de desenvolver as formas graves, esses são os dados que temos de literatura. E podemos ver isso na prática, onde realmente o tipo sanguíneo O tem evoluído melhor, chegando a não precisar de internação e nem desenvolver a forma mais grave”. Declarou o médico.

E quais são os sinais de alerta, que a pessoa precisa procurar ajuda?

“O principal sinal de alerta é a febre alta e a falta de ar, a falta de ar é o grande sintoma dessa doença, onde ela tem que procurar um posto de saúde com urgência e rápido, ela não pode ficar em casa esperando a falta de ar melhorar porque acaba evoluindo rapidamente em 2/3 dias, onde os pacientes podem desenvolver uma insuficiência respiratória e podem virar a precisar de um respirador, de um entubador ou oxigênio em alta concentração. Então se tiver falta de ar procure um médico”. Declarou o médico 

A propagação do vírus é durante os 14 dias?

“Então, esses 14 dias é um período seguro, pois do início dos sintomas ao longo dos 14 dias, essa transmissão é reduzida a quase 0. Então do primeiro sintoma até o 14º dia a pessoa já não transmite mais. Tem a primeira fase que é a viral, e se a pessoa for um daqueles pacientes onde essa fase é a leve, eles já se curam e logo depois dos 14 dias eles já podem voltar as atividades normais. Mas vale atentar que durante a primeira semana dos sintomas, é o momento que ela mais transmite, conforme a doença vai melhorando, a transmissão por sua vez acaba diminuindo também. Mas durante esses 14 dias o risco ainda existe de transmissão. Então o período maior é ainda no início, geralmente o problema da doença nos primeiros dias de sintomas, ela já está transmitindo só que ela ainda não teve o diagnóstico, mas então ela acabou tendo contato com outras pessoas. Então a partir do momento que ela tem o diagnóstico, e é detectada a presença do vírus, em torno de uma semana, após o contágio, acaba diagnosticando a doença tardiamente”.

“Geralmente quando se faz uma tomografia nas formas mais graves ou um raio-x do tórax, as imagens são bem características, as vezes você consegue dar o prognóstico pelas imagens da tomografia, ainda que o resultado do exame seja negativo ou não se tem o resultado do exame laboratorial. Então pela tomografia a pessoa pode afirmar se tem ou não a covid. Mas isso só naqueles pacientes mais graves, porque aqueles com poucos sintomas não vão fazer a tomografia. Então essa pessoa não acaba sabendo e ela circulando na comunidade e infecta, então se não tiver cuidado pode sim pegar o vírus”. Finalizou o médico Sandro Andrey Nogueira.
 
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