Um grupo que praticava pesca profissional na margem direita do rio Paraguai foi surpreendido por um incêndio de grandes proporções na mata em região próxima à cidade de Cáceres (a 220 quilômetros de Cuiabá). A pescadora Enilza Silva, que estava presente quando o fogo se alastrou no último sábado (15), contou detalhes do episódio.
"Foi muito triste e desesperador ver tudo isso. Estou sem chão ainda. Só quem está vendo de perto para ter noção", relata. "Me trouxeram agora a pouco para cidade porque meu psicológico não está legal. Os bichos desesperados sem saber pra onde ir, outros já mortos. É desesperador."
A queimada registrada em vídeo ainda não está na conta dos 4,2 mil focos de incêndio contabilizados de janeiro a julho deste ano pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Este é o maior número desde 1998, quando a série histórica foi criada. Segundo o instituto, os incêndios na zona pantaneira saltaram 240% este ano, e o bioma já perdeu cerca de 10% de sua área.
O grupo que desenvolvia a atividade na região é experiente e usa uma base de apoio localizada em um rancho nas proximidades. Acampados, eles chegam a pescar durante 5 a 7 dias ou até atingir a cota máxima permitida, que é de 125 kg de peixes por pessoa, por semana. Os pescadores relatam que ultimamente não estão conseguindo atingir essa cota.
"O rio já está quase atingindo a maior baixa dos últimos 50 anos. E no mês de fevereiro ocorreu um fenômeno chamado decoada exatamente porque o rio não encheu o suficiente, o que causa a decomposição de matéria orgânica, como folhas e galhos. Isso tira o oxigênio da água, matando muitos peixes no rio. E ainda tem o assoreamento", explica Joari Costa de Arruda, professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e coordenador da ONG Ecopantanal.
Ele é especialista em biodiversidade e biotecnologia e atua no projeto "Corredor ecológico, econômico e cultural do Rio Paraguai" junto a pescadores e comunidades ribeirinhas da região. "Este ano não está favorável para o rio e para quem depende dele para tirar o sustento da família", lamenta o pesquisador.
Sem verbas
O Inpe ficará sem verba em 2021, pois a Agência Espacial Brasileira decidiu cortar para zero o orçamento de pesquisa, desenvolvimento e capital humano, segundo reportagem da Folha de São Paulo. Com a decisão, os pesquisadores da instituição serão mantidos, mas não terão condição de desenvolver seus trabalhos.
A medida é mais um desdobramento da crise institucional entre o órgão e o governo federal, desencadeada em 2019, após a divulgação dos números recordes de desmatamento.
Na ocasião, a fumaça das queimadas nas regiões amazônica e pantaneira escureceram o céu de cidades localizadas no Sudeste do país. O cientista Ricardo Galvão foi exonerado da diretoria do Inpe na sequência das divulgações, e em seu lugar foi efetivado o coronel da Aeronáutica Darcton Damião.
Fonte - Olhar Direto