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12/01/2021 | 09:40

Homofobia no futebol: conquistas, retrocessos e a luta dos torcedores LGBTQ+

Redação TV Mais News

Homofobia no futebol: conquistas, retrocessos e a luta dos torcedores LGBTQ+

Foto: Getty Images

Como parte importante da cultura brasileira e mundial, o futebol não está isento dos preconceitos da sociedade. As demonstrações envolvem jogadores profissionais e amadores. Neste contexto, a LGBTfobia está presente nas torcidas, mas tem encontrado resistência.

O torcedor corintiano Railson Oliveira fundou o coletivo Fiel LGBT em 2019 com o objetivo de mostrar ao clube que também tem o direito de frequentar a Arena Neo Química para acompanhar de perto as partidas de seu time.

“Desde que criei o coletivo as reações negativas recaíram sobre mim no começo. Sofri muitas ameaças e disseram que se eu continuasse, me tornaria um cadáver”, relembra Oliveira.

Apesar de frequentar a Arena, a organizada nunca usou identificação com medo de sofrer represálias.

“Na última vez que fui assistir a um jogo, estava acompanhado de um namorado, mas tivemos que ficar como se fossemos dois amigos. A gente não pode se abraçar, se tocar, nem nada do tipo. Nossa luta é para que um dia possamos frequentar o estádio do jeito que somos”, conclui Railson.

Recentemente, o Corinthians protagonizou um episódio de homofobia. Em sua conta em uma rede social, foi usada a foto de um panetone com recheio de frutas para se referir ao São Paulo. O post foi apagado pouco tempo depois da publicação e o clube divulgou um pedido de desculpas pelo ocorrido.

"Depois que aconteceu esse episódio homofóbico, fizemos uma carta aberta de repúdio e mandei um e-mail para a diretoria do clube pedindo para que a gente possa colocar a bandeira do coletivo no estádio, mas não tive resposta”, relata Railson.

Em nota ao site da TV Cultura, a comunicação do time disse que o clube paulista promoveu ações de conscientização do grupo Fiel LGBT nas suas redes, por meio da área de Responsabilidade Social, e que recebeu o pedido do grupo, em 15 de dezembro passado.

"Naquele momento, porém, a transição administrativa se encontrava prejudicada devido à licença médica no referido departamento. Nesta semana, o grupo será convidado a apresentar suas propostas à atual gestão corintiana, a fim de que sejam estudadas, sempre em conjunto, novas parcerias e ações sobre o tema", diz o comunicado.
“O Corinthians divulgou um pacote de medidas para combater a homofobia. Nós transformamos um episódio lamentável em uma oportunidade de aprendizado. Foi feita uma advertência formal ao colaborador responsável e uma conferência com toda a equipe de comunicação”, explica José Colagrossi Neto, superintendente de marketing, comunicação e inovação do clube.
“Também mandamos uma mensagem para todos os patrocinadores lamentando o fato e neste mês faremos um profundo treinamento de reciclagem com a equipe para aumentar a percepção e a sensibilidade em relação ao tema”, conclui.

“O que vimos na página do Corinthians é lamentável, é um clube que já tinha se pronunciado algumas vezes contra a LGBTfobia e nós acreditávamos que tínhamos conseguido convencê-los de que é importante manter esse diálogo. Não esperávamos que uma coisa assim pudesse acontecer”, comenta Onã Rudá, fundador da Torcida LGBTricolor, do Bahia.

O Esporte Clube Bahia é pioneiro na causa, e fará a primeira camisa oficial de um clube de futebol da América Latina com a temática LGBT. A peça ainda nem começou a ser vendida pelo clube, mas já protagonizou polêmicas.
De acordo com Onã Rudá, “só foi possível termos uma torcida LGBT porque o clube optou por fazer ações afirmativas antes, que nos deu tranquilidade para fazer uma torcida com esse perfil”.
O Porcoíris, grupo palmeirense que luta contra a LGBTfobia no futebol, também conseguiu um grande feito recentemente. No início de novembro, a bandeira do grupo esteve presente no Allianz Parque, casa do time. “Foi um feito muito importante, nos deixou muito orgulhosos e nos sentimos parte do clube”, afirma João Vitor, fundador do Porcoíris.

“Eu criei o Porcoíris para cobrar algum tipo de atitude do Palmeiras em relação aos torcedores LGBT, e como um espaço onde pudéssemos conversar sobre o time e até fazermos algumas ações. Queremos nos naturalizar no meio do futebol e fazer parte da torcida.”
“Mas precisamos avançar muito mais”, aponta Onã Rudá, da Torcida LGBTricolor. “Tanto a CBF quanto as federações estaduais precisam entrar nesse circuito de ajudar a pensar quais são as ações de promoção do direito das pessoas LGBT de torcerem de fato. Os clubes também precisam ter uma postura mais transparente em relação a isso, não adianta só fazer da causa uma peça de marketing, porque o problema não será resolvido”.

Para Além das Arquibancadas

Como um brasileiro apaixonado por futebol e empenhado em discutir as questões sociais que envolvem o tema, o jornalista João Abel escreveu o livro “Bicha! Homofobia estrutural no futebol”, que retrata na capa o primeiro jogador de futebol profissional a assumir a homossexualidade: o britânico Justin Fashanu, entre os anos 1980/1990.
“As torcidas LGBTs são muito importantes porque pressionam os clubes a adotar práticas mais efetivas em relação ao assunto. Elas são as grandes responsáveis pelo fato dos times terem aberto os olhos para a homofobia”, explica João.

De acordo com um levantamento feito por ele para o site O Contra Ataque, até 2016 não existia qualquer menção dos clubes aos torcedores LGBTs. Foi só a partir de 2017, que começaram a se posicionar.

O levantamento mostra que em 2020, 17 dos 20 clubes de maiores torcidas do Brasil decidiram fazer publicações em menção ao dia 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTQIA+. Todos também se posicionaram em 17 de maio, Dia Internacional de Luta Contra a LGBTfobia. O Vitória, se posicionou na data, mas ignorou o dia 28 de junho. Ceará e Athletico Paranaense não se posicionaram sobre o assunto.

A pesquisa foi feita com base em uma busca avançada na plataforma Tweetdeck. Refere-se, portanto, apenas às publicações feitas no Twitter. Também se limita a 20 clubes. Os critérios foram: 1. maiores torcidas, segundo um cruzamento de dados entre pesquisas recentes da Pluri Consultoria e do Datafolha; e 2. mais presença nas redes sociais. O jornalista também optou por ter sempre dois ou mais clubes de um mesmo Estado para efeito de comparação regional.
“As torcidas LGBT também foram responsáveis pela criação do Observatório Nacional de LGBTfobia no Futebol, em 2019. Essa é uma rede que perpassa as rivalidades dos clubes, já que estão unidos pela mesma causa. Esses grupos são pequenos e com pouca articulação, mas isso não quer dizer que são poucos torcedores LGBT, porque na verdade existem muitos”, aponta João Abel.

O jornalista também cita duas torcidas importantes nesse contexto: a Coligay, a primeira torcida LGBT do Brasil, criada por torcedores do Grêmio e que fez história entre os anos 1977 e 1983, e a Galo Queer, torcida do Atlético-MG, primeiro grupo que em 2013 se tornou ativo nas redes sociais e impulsionou a criação de vários outros.
Com 74 times presentes em todas as regiões do Brasil, a liga consegue organizar campeonatos nacionais e regionais com um número ilimitado de equipes.

“Temos mais times no sul e no sudeste, mas vemos um crescimento nas outras regiões também, principalmente no norte e especificamente no Pará, temos 15 times LGBT”, explica Josué Machado, presidente da organização.

Existem também 4 equipes formadas por transexuais: Meninos Bons de Bola (SP), Transversão (SP), BigTBoys (RJ) e Força Trans (PE). “Essas equipes ainda não participaram de competições diretamente organizadas pela Ligay, mas é uma das coisas que estamos tentando incluir”, aponta Josué.

A 5ª edição da Ligay teve pela primeira vez a participação do futebol feminino, com times não exclusivamente para jogadoras LBT. Segundo Josué, a Ligay ainda discute se fará todas as competições juntas. Os 12 times femininos surgiram através das equipes masculinas que já existiam na liga.

Para o jornalista João Abel, “esses times conseguem criar um ambiente mais seguro e são ótimas iniciativas que têm dado certo. A cada ano surgem mais times LGBT porque essa é uma demanda grande e muito reprimida.”



FONTE: TV Cultura

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