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08/02/2021 | 08:39

Tempo seco não pode ser "desculpa" para queimadas no Pantanal, diz especialista

Redação Tv Mais News

Tempo seco não pode ser

Foto: Sema MT


As chuvas, que podem ajudar na recuperação do Pantanal destruído pelas chamas, podem ainda continuar irregulares em 2021. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia apontam que, em pleno período chuvoso, está chovendo menos do que o esperado. Mas o climatologista e professor de geografia da UFMT, Rodrigo Marques, alerta que o clima quente e seco não é (ou será) preponderante para a destruição do bioma tido como a maior área alagável do planeta.

Para o RDNEWS, Rodrigo aponta a ação humana como principal responsável pela destruição do Pantanal pelas chamas e pela degradação dos recursos hídricos, que tem causado principalmente a seca das baías de Siá Mariana e Chacororé, em Barão de Melgaço. "A estação seca não pode ser utilizada como desculpa para a ocorrência de queimadas, pois elas são associadas a ações criminosas, e não ao tempo. O que acontece é que o tempo seco favorece sua dispersão, mas seu início é provocado em sua quase totalidade pelo homem".

O climatologista explica que toda a água do Pantanal vem do planalto. "O pantanal é o lugar mais seco do Mato Grosso. Tem áreas no Pantanal que é a chuva como no semiárido nordestino. É abaixo de mil milímetros de chuva por ano. A inundação não é por chuva, mas por escoamento de rio".

Por isso, o professor fala que é completamente equivocado relacionar a destruição do Pantanal ao clima. “O tempo seco favorece a dispersão da queimada, mas só pegou fogo por que alguém tacou. As queimadas naturais são vinculadas a raio e é complicado falar de raio na época de seca. Não têm nuvens, quanto mais raio!”.

“O tempo seco favorece a dispersão da queimada, mas só pegou fogo por que alguém tacou. As queimadas naturais são vinculadas a raio e é complicado falar de raio na época de seca. Não têm nuvens, quanto mais raio!”Rodrigo Marques
Caso não haja controle e fiscalização por parte dos órgãos públicos, ele vê que o cenário de incêndios, com nevoeiros de fumaças chegando a outras cidades e morte de animais selvagens, possa acontecer de novo. Uma investigação da Polícia Federal e do Governo de Mato Grosso identifica a ação de fazendeiros, que atearam fogo em suas propriedades para limpeza, que levaram a destruição de cerca de 40% do Pantanal, segundo Instituto Centro de Vida (ICV), sendo que Mato Grosso responde por 30% dessa destruição.

Ação humana degrada o Pantanal

Outro fator que atrasa a recuperação do Pantanal é a degradação dos recursos hídricos, que culminou com a seca histórica das baías em Barão de Melgaço. Em julho do ano passado, o Ministério Público já identificou que parte da água que deveria alimentar o lago foi drenada para plantio de soja e pecuária. A Secretaria de Estado e Infraestrutura e Logística (Sinfra) trabalha em 13 pontos, entre o rio Cuiabá e à nordeste da baía, para ações de intervenção que busquem a recuperação do local.

O MPE apura também a atuação de construtoras que, ao fazer obras de pavimentação e construir drenagens sobre corixós (canais de água ou córregos que se formam entre baías ou lagos em épocas de chuva), obstruíram o fluxo hídrico para os dois lagos.

O deputado estadual Allan Kardec (PDT) aponta que a Usina Hidrelétrica (UHE) Manso também tenha responsabilidade pela seca no Pantanal. O parlamentar argumenta que a barragem foi criada para controlar a cheia e a seca do rio Cuiabá, um dos principais que alimenta as águas no Pantanal. Furnas, que opera a usina, negou que haja relação, já que o baixo volume de chuvas nos últimos meses também atinge o reservatório. De acordo com a empresa pública, o nível do reservatório da usina reflete a crise hídrica que atinge as bacias dos rios Manso, Cuiabá e o próprio Pantanal.

Segundo o professor de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMT Rafael de Paes, a usina não tem influência direta na Baía de Chacocoré. “A distância é muito grande e a planície espraia a água. Ou seja, a quantidade de água que percorre pela calha do rio se dissipa lateralmente ao rio, quando este encontra à planície pantaneira”.

Previsão de seca

De fevereiro a abril, as previsões indicam menos chuvas do que o esperado não só para o Pantanal, mas na maior parte da região Centro-Oeste. Já de maio a julho, a expectativa é de que as chuvas ocorram dentro do esperado no bioma. "Só não podemos esquecer que nestes meses já estaremos na estação seca, ou seja, esta chuva dentro do esperado já é pouca chuva ou quase nada de chuva", pontua Rodrigo.

De acordo com o climatologista Rodrigo Marques, o período de estiagem em pleno período chuvoso ocorre devido a um fenômeno atmosférico que inibe a formação de chuva. Um anticiclone a 5km de altura está empurrando ar de cima para baixo, aumentando o calor e impedindo a formação de nuvem que causa as chuvas. Esse sistema é o mesmo encontrado durante a seca e meteorologistas ainda o identificaram durante novembro e dezembro, quando deveria ter voltado para o Oceano Atlântico.

Climatologistas e meteorologistas quebram a cabeça para entender o porquê de ter chovido menos no final do ano passado e no início deste. Isto porque estamos em um período de La Nina, que é o esfriamento das águas do oceano Pacífico, o que contribui para formação de chuvas no Centro Oeste. "Com ela, é para chover igual ou mais", explica Rodrigo.

Por isso, os modelos previam que ia chover acima do esperado de outubro a dezembro do ano passado. "E não foi assim. A previsão também apontava que, até março, choveria acima do normal e, me parece, que não vai ser bem assim. A previsão com ela foi bem equivocada esse ano".

Ele também pontua que é ainda cedo para falar da influência do aquecimento global no clima do Centro-Oeste. As irregularidades das chuvas precisam ser confirmadas nos próximos anos para se afirmar que houve mudança no clima local. Enquanto isso, ainda não há previsão de quando as chuvas voltam ao normal em Mato Grosso.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a Sema respondeu que destinará R$ 50 milhões para o enfrentamento de incêndios florestais em 2021, sendo R$ 10 milhões vindo do Programa Mais MT e outros R$ 40 milhões ao Comitê Estratégico para o Combate do Desmatamento Ilegal, Exploração Florestal Ilegal e Aos Incêndios Florestais (CEDIF-MT), que também servirá para combate ao desmatamento.

Informa que "o Comitê Estadual de Gestão do Fogo em conjunto com o Batalhão de Emergências Ambientais do Corpo de Bombeiros Militar está finalizando o Plano de Operações para a Temporada de Incêndios Florestais de 2021".

"Outra ação bastante avançada é a criação de Brigadas Indígenas Estaduais para atuarem nas terras indígenas. Em parceria com o Corpo de Bombeiros Militar através do batalhão de Emergências Ambientais e o Programa REM, indígenas receberão capacitação para atuarem como brigadistas em suas terras", pontua.

A Sema lembra também o decreto que permite proprietários rurais a realizarem a limpeza de áreas no Pantanal. "A medida reduz a biomassa, que é combustível para os incêndios florestais, ocasionando a redução da proporção e intensidade caso haja fogo". Iniciou, em novembro do ano passado, a elaboração do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Incêndios Florestais (PPCDIF/MT). "O plano irá nortear as ações do Estado pelos próximos quatro anos, de 2021 a 2024", ressalta.
 
FONTE: RDNEWS

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