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Notícias / Política

30/10/2017 | 09:18

Delegada suspeita que chefe da Sesp também integra esquema

Midia News

Delegada suspeita que chefe da Sesp também integra esquema

Foto: Midia News

A delegada Ana Cristina Feldner, que atuou nas investigações relativas ao esquema de escutas clandestinas no Estado, disse suspeitar que o delegado Gustavo Garcia, atual secretário de Segurança Pública, também integra a organização criminosa investigada.
 
A informação está contida em documento enviado por ela em setembro ao desembargador Orlando Perri, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, que presidia a investigação. O caso agora tramita sob a relatoria do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
 
Na época em que a representação foi enviada, Gustavo Garcia era secretário-adjunto de Inteligência da Sesp, então chefiada pelo delegado Rogers Jarbas.
 
Rogers foi preso no dia 27 de setembro, durante a deflagração da Operação Esdras, acusado de ter ajudado a montar uma estratégia para atrapalhar as investigações relacionadas aos grampos ilegais e obter a suspeição do desembargador Orlando Perri.
 
O esquema dos grampos era viabilizado pela prática da “barriga de aluguel”, quando números de telefones de cidadãos comuns, sem conexão com uma investigação, são inseridos em um pedido de quebra de sigilo telefônico à Justiça.
 
Uma das suspeitas contra Garcia foi a participação dele na obtenção do depoimento da delegada Alana Cardoso, que contou ter sido constrangida em uma oitiva ilegal feita por Gustavo e pelo então secretário Rogers Jarbas, no dia 26 de maio.
 
O depoimento teria sido motivado pelo fato de ela ter conduzido a Operação Forti, que interceptou a publicitária Tatiana Sangalli Padilha, ex-amante do ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques, e a ex-assessora dele, Caroline Mariano dos Santos, pela suspeita de que haveria um plano contra a vida do governador Pedro Taques (PSDB).
 
Alana Cardoso contou que foi até a Sesp depois de ter recebido várias ligações de Gustavo Garcia, que, nos telefonemas, dizia que queria reatar a amizade que tinha com ela. Porém, ela disse que acabou sendo coagida a depor sobre os “grampos” de forma ilegal, mesmo sem nenhum procedimento, e que a convocação de Gustavo, na verdade, foi uma “cilada”.
“Hoje analisando os fatos friamente percebo que o referido telefonema do Dr. Gustavo foi fundamental e imprescindível para que eu fosse até a secretaria de Segurança Pública de forma tão desarmada e vulnerável. Estes telefonemas do Dr. Gustavo ocorreram quatro ou três dias antes de minha convocação e oitiva realizada pelo secretário Rogers Jarbas. O Dr. Gustavo tem amplo conhecimento na área de Inteligência, tendo realizado inclusive a Escola Superior de Guerra, um curso ministrado no Estado do Rio de Janeiro, com duração aproximada de quatro meses.  Dentro da inteligência policial o Dr. Gustavo utilizou a técnica aprendida em curso de inteligência, quando realizou os telefonemas pré-ordenados e em dias consecutivos.  o nome dessa ferramenta de inteligência utilizada comigo chama-se recrutamento”.
 
Alana relatou que durante a oitiva na Sesp, Gustavo Garcia chegava a tremer as mãos e pedia para ela falar baixo “porque as paredes têm ouvidos”.
 
“Ela [Alana] fala que recebeu telefonemas do Dr. Gustavo Garcia na semana em que foi convocada a ir à Sesp prestar “esclarecimentos” (precedentes a esta convocação), deixando claro que havia uma manobra dos dois secretários de Estado para cooptá-la para o que aconteceu na sede daquela secretaria [...] Esse fato reforça a ação de recrutamento feita pelo Gustavo Garcia em desfavor de Alana Derlene”, disse a delegada Ana Feldner.
 
Feldner também citou que Gustavo Garcia é “homem de confiança” de Rogers Jarbas, “com quem mantém grande laço de amizade”.
 
“Tendo Rogers Jarbas, enquanto presidente do Detran-MT [Departamento Estadual de Trânsito], nomeado a esposa do Dr. Gustavo Garcia, Talita Peske Rodrigues, para ser diretora de veículos no Detran”.
 
“A participação do delegado Gustavo Garcia tem se revelado diferente, iniciando as suspeitas de que também integra a organização criminosa, e não somente mantém vínculo de amizade e subordinação”, afirmou a delegada.
 
Outra situação mencionada por Ana Feldner foi a transferência, a mando de Rogers Jarbas, de uma policial para atuar na Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), local onde estavam sendo feitas as oitivas das testemunhas e investigados nos grampos.
A suspeita é de que a policial teria sido inserida no local para fornecer informações privilegiadas ao então secretário.
 
“Informamos que as pessoas citadas pelo suspeito Rogers Jarbas como testemunhas não foram oitivadas por terem tido participação direta no embaraço das investigações, levantando-se suspeitas preliminares acerca dos mesmos também integrarem a organização criminosa, vez que o Dr. Gustavo Garcia tentou recrutar a Dra Alana Derlene, tomou suas declarações... enquanto Hozan, seu subordinado, assinou diretamente o ofício encaminhando uma policial para as dependências da GCCO, coincidentemente enquanto esta subscritora exercia suas funções naquela unidade policial”.
 
Curso sob suspeita
 
A delegada Ana Feldner ainda registrou que o Curso Superior de Polícia, necessário para avançar na carreira, passou a ser realizado na Sesp neste ano, sem motivo específico.
 
Feldner explicou que Rogers e Gustavo estão na Classe C da carreira e, para serem promovidos para a Classe Especial, onde há aumento de salário, precisavam concluir tal curso.
 
“Estranhamente esse curso está sendo promovido nas dependências da Secretaria de Segurança Pública, ocorrendo em uma semana por mês, em período integral”.
 
De acordo com a delegada, nem Rogers nem Gustavo nomearam qualquer substituto para as funções na Secretaria enquanto ambos, em tese, faziam o curso.
 
“Resta nítido que algumas das atividades não estão sendo desempenhadas, ou não estão em sala de aula, ou não estão desempenhando as funções de secretário de Segurança Pública e Secretário Adjunto de Inteligência”.
 
“Inclusive, no ano de 2015, salvo engano, Rogers Jarbas foi convidado para participar do CSP [Curso Superior de Polícia] realizado pela Polícia Militar, porém na época exercia o cargo de presidente do Detran, e, como não gostaria de ausentar da função, recusou o convite para o curso. Porém, ao se tornar secretário de Segurança Pública, organizou um curso de forma que atendesse suas necessidades pessoais”, disse ela. 
 
Outro lado
 
O secretário Gustavo Garcia afirmou que só se pronunciará sobre o caso no processo.

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