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O cirurgião pediátrico Osvaldo César Pinto Mendes, que atua nas redes pública e privada de Cuiabá, afirmou que o problema dos furos nas escalas das unidades de saúde da Capital não irão se resolver apenas com exigência de realização de concurso nos moldes do que já ocorre hoje no Município.
Nas últimas semanas, veio à tona por meio de denúncias do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed) o grave problema de furos nas escalas dos plantonistas de policlínicas e hospitais da Capital.
Segundo Osvaldo, enquanto não houver editais bem elaborados e com exigência de qualificação dos interessados, bem como garantias de pagamentos em dia, os problemas irão persistir.
“Os editais hoje não exigem RQE, que é o Registro de Qualificação de Especialista, e aí qualquer médico de qualquer especialidade participa. Mesmo se for fazer seleção de PJ, tem que exigir qualificação do dono, no edital tem que constar isso”, afirmou.
Ele citou que, da forma como ocorre hoje, os processos seletivos facilitam a chamada “pejotização” e a exploração de médicos por outros médicos, ou seja, vencem a concorrência de menor preço empresas comandadas por profissionais sem qualificação ou equipe técnica adequada.
“Sob o ponto de vista da economia, para a Prefeitura é ótimo, porque se fez o contrato com a pessoa jurídica, não tem aquilo de faltar o plantão – não é problema da administração municipal, é da empresa, que tem que se virar para substituir”, disse.
“Mas, por exemplo, tem um ‘leilão’ para a especialidade de cirurgia e eu sou clínico. Eu entro na licitação, baixo o preço cada vez mais e ganho. Só que eu não tenho equipe técnica. Aí vou pegar um médico qualquer, que não tenha qualificação para trabalhar na especialidade. Na maioria dessas empresas, são médicos explorando médicos”, acrescentou.
De acordo com Osvaldo, as condições atuais acabam por afugentar os especialistas, como neurocirurgiões e cirurgiões pediátricos, gerando furos em escalas não apenas na atenção primária, mas na terciária – como os hospitais São Benedito e o Municipal de Cuiabá (HMC).
“Os especialistas não aceitam pelas condições e pelo salário. Se o plantão de 12h é R$ 1,2 mil, o cara te oferece R$ 900. Além disso, há um constante atraso, não sei se por parte do gestor ou do dono da empresa. Para mim, é dos dois”, disse.
“A gente que trabalha no HMC, é um atraso de 90 dias para a gente receber. E aí desestimula e as pessoas não querem mais. Salário é condição de trabalho. O atraso é nefasto para o trabalhador de qualquer área”, afirmou.
Edital com exigência
Osvaldo disse não ser contra a realização de concurso público, como determinam os órgãos de controle ou requer o Sindimed, mas afirmou que há de se ter uma cobrança para elaboração de edital com exigência de qualificação de mão-de-obra.
“Hoje o concurso público, quando resolve, é atenção primária e secundária. Mas as de ponta, que realmente precisam, que atendem urgência e emergência, se não tiver qualificação não resolve o problema”, disse.
“E o grande problema hoje não são as especialidades básicas. Porque quem dá plantão no pronto-atendimento é clínico e pediatra, que atendem as coisas de menor complexidade. E as coisas de maior complexidade são para o HMC e São Benedito”, disse.
O médico disse, como exemplo, o fracasso do último processo seletivo feito pela Prefeitura de Cuiabá em janeiro deste ano, quando foram disponibilizadas 414 vagas imediatas (300 para clínico geral e as demais para especialistas) e apenas 88 médicos foram aprovados – sendo 13 especialistas.
Destes, assumiram os cargos apenas 50 clínicos gerais e 5 médicos especialistas, dos quais 30 já faziam parte da rede municipal, tendo apenas trocado o tipo de contratação (temporário por seletivo).
Fonte: MIDIANEWS
