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Notícias / Tecnologia

05/06/2022 | 20:58

“O PIB pode aumentar se MT explorar o seu capital ambiental”

Redação TV Mais News

Foto: Reprodução
 
 
 
Investir em ciência e tecnologia, descobrir novos talentos e melhorar a complexidade da economia do Estado são algumas das metas do secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Seciteci), Maurício Munhoz.
 
Segundo ele, Mato Grosso já é exemplo no uso de tecnologia na produção agrícola, que é a nossa matriz econômica, mas precisa dar verdadeiros saltos nas áreas social e ambiental paa que isso retorne em forma de investimento e desenvolvimento do Estado.
 
"Mato Grosso está precisando dar alguns saltos na escada tecnológica em diversos setores da nossa matriz econômica, social e ambiental, para aumentar o nosso potencial. E Mato Grosso pode aumentar muito seu PIB através da exploração do seu capital ambiental", afirmou.
 
Os investimentos, explicou ele, ocorrem tanto por meio da academia, com bolsas de incentivo à ideias inovadoras nas escolas técnicas estaduais e nas universidades públicas, quanto através da implantação do Parque Tecnológico do Estado, que está sendo construído em Várzea Grande e deve ser concluído até 2023.
 
Em entrevista ao MidiaNews, Munhoz apontou como apostar em ciência, tecnologia e inovação pode trazer retorno para a sociedade, melhorarando a economia do Estado e a vida da população.
 
"O capitalismo avança conforme avança a tecnologia. Um país ou estado rico é aquele que tem uma economia complexa. Se a gente contribui para aumentar essa complexidade, vamos aumentar a qualidade de vida do mato-grossense, atrair mais renda", disse. 
 
Confira os principais trechos da entrevista:
 
MidiaNews – Em que estágio Mato Grosso se encontra do ponto de vista da ciência e tecnologia?
 
Maurício Munhoz – Não tem uma resposta exata para isso, depende da área. No agronegócio, que é nossa principal matriz econômica, podemos dizer que somos vanguarda. Da porteira para dentro, nas fazendas de produção de soja e algodão, temos um alto nível de tecnologia e somos referência mundial. Quando se fala em produção de soja, tem gente que vem dos Estados Unidos e de outras partes do mundo para aprender com a gente. Temos grande expertise.
 
Mas em outros segmentos precisamos passar de estágio, como é o caso do ambiental, por exemplo. Nesse caso, ainda temos muito o que aprender, estamos engatinhando. E esse é o papel da Seciteci. O governador Mauro Mendes está muito empenhado para que a gente dê esse salto tecnológico. Ele tem mantido e investido na Seciteci para que Mato Grosso conquiste novos degraus na escada tecnológica.
 
Veja bem: tem um termo hoje que se chama “complexidade da economia”, que diz que um estado rico é um estado com economia complexa. A nossa economia ainda é pouco complexa, porque mandamos produtos in natura, que não gera tanto emprego ou tecnologia. Gera tecnologia para produção, mas não gera para o resto.
 
 
Quando assumi, o governador pediu para tentarmos transformar esse estado mais complexo economicamente. Então, temos que criar situações e ambiente para que as indústrias se instalem aqui. Não só aquelas de base, de veículos, mas tecnológicas.
 
Vamos tomar como exemplo Nebraska (EUA). É um estado com economia complexa. É um estado agrícola, mas que também tem indústrias que servem ao agronegócio e ao meio ambiente. Eles têm metade da nossa população, e o PIB deles é mais do que o dobro do nosso: US$ 125 bilhões, enquanto o nosso é US$ 60 bilhões.
 
Então, acredito que Mato Grosso está precisando dar alguns saltos nessa escada tecnológica em diversos setores da nossa matriz econômica, social e ambiental, para aumentar o nosso potencial. E Mato Grosso pode aumentar muito seu PIB através da exploração do seu capital ambiental. O mundo precisa do potencial que Mato Grosso tem em descarbonização, por exemplo.
 
MidiaNews – Mato Grosso é um Estado forte no campo e que, aos poucos, investe na industrialização. Na sua visão, temos capacidade para sermos fortes em tecnologias e inovações? Qual é o papel do Estado para que isso aconteça?
 
Maurício Munhoz – Eu acho que sim. Aprendi com um dos nossos professores que o cérebro não escolhe lugar para nascer. Então, se a gente incentiva as nossas escolas a produzirem tecnologia, a incentivarem a inovação, pode ser que a gente encontre ali um gêniozinho.
 
Por isso, o que estamos lançando este ano? Cada escola técnica nossa – temos 10 prontas e seis em construção – vai receber uma bolsa de R$ 100 mil para promover um concurso interno e escolher uma experiência tecnológica para desenvolver ali. O tema principal será a “diminuição das desigualdades regionais e aumento da complexidade econômica”, ou seja, melhorar o desenvolvimento da economia. 
 
Então, acredito que o Estado está incentivando, buscando talento nas pessoas. O governador autorizou esse recurso, através do nosso Fundo de Apoio às Pesquisas, exatamente para descobrirmos talentos em Mato Grosso.
 
MidiaNews – Quando o Parque Tecnológico de Mato Grosso começará a dar resultados práticos para o Estado?
 
Maurício Munhoz – Estamos começando ali com uma empresa chinesa, a XCMG (Xuzhou Construction Machinery Group). Vai ser a primeira empresa a se alocar ali. Eles estão fazendo estudos sobre equipamentos de logística para o agronegócio. Mas estamos instalando também lá uma experiência desenvolvida na Unemat chamada Risc (Centro de Inovação, Redes Inteligentes e Soluções Criativas), que é um contêiner onde você entra e parece que está no Vale do Silício, com aqueles bancos pensados, ambiente muito moderno e de total inovação, para você se inspirar, criado pelo professor Robinho.
 
O Risc estará no nosso parque tecnológico e vai atender à população porque vai pegar alunos tanto da Unemat quanto das nossas escolas técnicas e da rede Seduc para desenvolver projetos diversos que as prefeituras e o Estado e até mesmo empresas precisam. O Risc já é uma realidade e será implantado dentro de 60 dias.Todas as escolas técnicas também serão braços do parque tecnológico, então um experimento produzido por elas pode ser desenvolvido ali e ter efeitos imediatos.
 
MidiaNews – Qual o perfil de empresas de tecnologia que poderiam investir em Mato Grosso?
 
Maurício Munhoz – É aberto, mas estamos priorizando três pontos: social, ambiental e institucional.
 
MidiaNews – O que falta para Mato Grosso ter uma produção científica de maior relevância? Falta incentivo?
 
Maurício Munhoz – Eu acho que esse é o grande objetivo do parque. O governador retomou o parque – que foi iniciado em 2012 – e no ano que vem conclui. Ele está pedindo que a gente estimule justamente a produção do conhecimento na academia. Ainda em parceria com a FAP, vamos lançar um projeto guardião para buscarmos nas universidades cabeças, professores, para desenvolver projetos específicos, por meio da disponibilidade de bolsas. Se uma secretaria precisa de um projeto, vamos buscar que professor pode desenvolver e acompanhar esse projeto por um ou dois anos. Ele vai montar uma equipe, receber a bolsa. É outra forma que o governador está buscando de estimular o conhecimento.
 
O que falta não só em Mato Grosso, mas talvez no Brasil, seja isso. Estamos tendo no país uma grande fuga de cérebros. Há pessoas, professores, que são inteligentes e não vêem estímulo no Brasil e acabam indo para fora. Lá em Nebraska, por exemplo, tinha vários brasileiros, inclusive dois professores. E eles não querem voltar para o Brasil. Então, precisamos segurar aqui essas pessoas e acho que a Seciteci pode ajudar muito nesse sentido.
 
MidiaNews – Falamos sobre essa onda de “fuga de cérebros”. O senhor vê o campo da ciência e tecnologia ainda jogado para escanteio no Brasil?
 
Maurício Munhoz – Parece que sim. Não vou dizer que é culpa de um governo ou de outro, mas na nossa história sempre aconteceu isso. Os cérebros preferem outros ambientes, porque não são prestigiados, incentivados aqui. E não é questão de ego. É de você ter o seu trabalho, o seu conhecimento valorizado. E o Brasil não faz isso, é algo que ocorre há muitos anos. Então, quando o Governo de Mato Grosso mantém uma Seciteci, é porque está insistindo em tentar virar esse jogo, mudar essa realidade. 
 
MidiaNews – Países desenvolvidos como China e EUA chegaram no patamar em que estão por vários fatores, mas também pelo que investem nesse campo. Qual a importância dessa área para o crescimento da sociedade?
 
Maurício Munhoz – O capitalismo avança conforme avança a tecnologia. Um país ou estado rico é aquele que tem uma economia complexa. Se a gente contribui para aumentar essa complexidade, vamos aumentar a qualidade de vida do mato-grossense, atrair mais renda.
 
Um exemplo para entenderem: Harvard e o MIT desenvolvem um mapa de complexidade. Eles têm um grande big data que mostra tudo o que é comercializado no mundo. A complexidade de Mato Grosso é mostrada da seguinte forma. Tem um gráfico, e lá embaixo no gráfico, com baixa complexidade está a soja, porque é mandada “in natura”.
 
A soja é muito importante para nós, sem dúvida, mas não gera tanto emprego, não produz tanta tecnologia. Lá em cima no gráfico, como o produto mais complexo produzido no Estado no período recortado, estava sapato de couro de jacaré. E eu fui ver, era uma cooperativa que existia em Cáceres, há uns três anos, que criava jacarés em cativeiro, retiravam o couro e produziam sapatos para exportação ali do lado, na Bolívia.
 
A nossa soja, além de ser menos complexa, olha a distância que percorre e o trabalho de logística que envolve para sair do país. O sapato de couro de jacaré, não. Andava um pouquinho ali e atravessava a fronteira. Mas envolvia tecnologia industrial – porque para transformar o couro em sapato não é simples; tecnologia ambiental, porque o jacaré estava em cativeiro; e social porque envolvia ribeirinhos e empregava pessoas da região. Essa cooperativa não deu certo, fechou. Mas olha que simples . E poderia continuar, se tivesse incentivo na época.
 
Esse papel de incentivar essas cabeças, essas ideias que são a base do empreendedorismo, é nosso [do Estado] para que a sociedade se transforme.
 
MidiaNews – Quando se fala em ciência e tecnologia, ainda parece algo distante do conhecimento do cidadão comum. Acredita que a pandemia acabou mostrando a importância que essa área tem e o impacto direto que causa na vida delas?
 
Maurício Munhoz – Sim, fez a gente entender que a tecnologia está na nossa vida mais do que a gente imaginava. A pandemia forçou muitas coisas a acontecerem. Podemos citar a produção da vacina, que foi rápida quando demoravam anos. E no Ceará, por exemplo, eles têm um programa chamado “Cientista Chefe”. A Secretaria de Saúde pediu ajuda a eles quando começaram a faltar ventiladores mecânicos usados nas UTIs, no auge da pandemia, e rapidamente a academia desenvolveu um projeto que parecia aqueles “capacetes” de astronauta para ajudar a quem estava com insuficiência respiratória.
 
MidiaNews – O Mundo hoje fala em energia renovável. E temos aqui em Mato Grosso uma grande produção de etanol. Existem pesquisas para a melhoria de desempenho da nossa produção?
 
Maurício Munhoz – A iniciativa privada tem diversos estudos nesse sentido, mas a academia também tem gente pesquisando energia renovável aqui, tanto na Unemat quanto na UFMT.
 
MidiaNews –  De que forma o Governo pode ajudar nisso? Há investimentos feitos pelo Executivo para isso?
 
Maurício Munhoz – Ainda não, mas já está planejado para acontecer. O MTPar tem em estudo alguns projetos de energia renovável, mas sem dúvida alguma é uma grande lacuna que precisamos entender e atuar. Assim como o setor da logística – que também terá pesquisas desenvolvidas dentro do parque tecnológico, sobre ferrovias, hidrovias. Teremos um centro de estudos para isso.
 
MidiaNews – O senhor acaba de retornar de uma viagem aos Estados Unidos, onde assinou um acordo com a Universidade de Nebraska para mapear os recursos hídricos de Mato Grosso. Como será feito esse trabalho?
 
Maurício Munhoz – Esse acordo está dentro da ideia de renovação do nosso parque tecnológico lá em Várzea Grande, que já existe, é uma realidade. Só não tem o prédio pronto, que está em construção. Mas a gente já vai começar a ter espaços físicos lá, através de contêineres em parceria com a Prefeitura de Várzea Grande, para algumas empresas e instituições começarem a se instalarem ali.
 
Um dos pontos que a gente vai estudar no parque tecnológico é qual o nosso potencial aquífero aqui, seja no subsolo ou superfície, para saber, por exemplo, se podem servir para trabalhar com irrigação e beneficiar a nossa agricultura. Viajei em uma comitiva para conhecer a Universidade de Nebraska, onde eles têm um instituto chamado “Water For Food” (Água para comida), que está dentro do parque tecnológico deles.
 
A ideia é trazê-los para o nosso parque tecnológico, onde teremos alguém estudando o nosso potencial e chegarmos a um estágio superior de ter em mãos um estudo hidrológico, saber qual é exatamente o tamanho do nosso subsolo, em termos de água, com tudo mapeado.
 
Temos que saber, por exemplo, se a gente a trabalhar com irrigação, se isso vai prejudicar, ou como fazer para que o uso dessa água não cause esgotamento. Lá eles têm várias medidas tomadas para que a água nunca acabe.
 
MidiaNews – Recentemente o Governo do Estado inaugurou duas novas escolas técnicas em Cuiabá e Cáceres, de um pacote de 8 que ficaram paradas por mais de 10 anos no Estado. Quais já estão em funcionamento? Qual foi o investimento e qual é o retorno esperado?
 
Maurício Munhoz – Inauguradas recentemente foram duas: Cáceres e Cuiabá. Temos mais duas que serão inauguradas em no máximo 45 dias, que são em Primavera do Leste e Água Boa. Temos ainda em construção Matupá, Campo Verde, Juara e Sorriso. São escolas de alto padrão, pensadas para criar um ambiente propício ao aluno. Em média, cada escola dessas custa R$ 15 milhões, sendo uma parte proveniente de recursos federais e a outra parte, verba estadual, mas a gestão é totalmente do Estado.
 
Em Cuiabá, por exemplo, ela já está entrando em operação. A Unemat está lá com cursos noturnos. Temos a ideia de compartilhar estruturas, então algumas delas irão receber escolas militares, para começar a ocupar provisoriamente. No caso daqui, por exemplo, será a Escola Tiradentes, porque a unidade deles está em reforma.
 
MidiaNews – Essa questão do uso compartilhado tem sido inclusive alvo de crítica na Assembleia Legislativa. O que o senhor está dizendo, então, é que a função primordial dessas unidades, de serem escolas técnicas, não será abandonado?
 
Maurício Munhoz – Não, o uso será compartilhado. Ela segue sendo uma escola técnica. O acordo feito com a Seduc é de que ela também vai nos ceder escolas, até porque eles têm uma capilaridade maior. Estamos desenvolvendo estudo sobre a demanda de cursos, para entender a realidade de cada região e definir onde a pessoa vai estudar e realmente sair trabalhando. Por exemplo, aqui em Cuiabá, um operador de máquina agrícola não vai ter trabalho, mas em Nova Mutum, sim.
 
Não adianta o cara sair com um certificado para colocar na parede. Ele precisa sair e trabalhar. Esse estudo vai mapear os cursos demandados em cada região. E onde a Seciteci não possui estrutura, vamos usar estruturas da Seduc. Então, esse compartilhamento é uma ideia avançada. Não vamos perder os prédios.
 
MidiaNews – O senhor tem muita experiência em pesquisa eleitoral e de consumo. De que forma essa experiência contribui neste novo cargo?
 
Maurício Munhoz – Principalmente na criação de processos aqui dentro para ajudar na compreensão do que está acontecendo dentro da Secretaria, que é um modelo também adotado pelo governador dentro do Governo, para saber os resultados de cada pasta. Sempre quero ter estatística do que está acontecendo, ter acesso a todas as informações, que era uma coisa que não existia aqui. Demora, mas estamos implantando. Porque temos que sair da fase de convicções e entrar na fase dos números. 
 
 
 
 
Fonte: MIDIANEWS

 
 
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