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Notícias / Cidades

19/06/2022 | 17:49

Cidade perdida em MT é "fantasia esdrúxula", afirma pesquisador

Fake news sobre civilização na Amazônia foi um dos assuntos mais comentados dos últimos dias

Redação TV Mais News

Foto: Reprodução
 
 
O ex-secretário Especial de Cultura, Mario Frias, usou suas redes sociais para defender a fake news sobre uma suposta “capital do mundo”, que teria existido há 450 milhões de anos na Amazônia.
 
Batizada de Ratanabá, a tal “cidade perdida” - que teria sido localizada onde hoje é o extremo norte de Mato Grosso - ficou entre os assuntos mais comentados das internet e dividiu opiniões.
 
Frias aproveitou a alta do tema para relembrar o encontro que teve há dois anos com o presidente da Associação Dakila Pesquisas, Urandir Fernandes de Oliveira, defensor da ideia. Em suas redes ele falou sobre a “descoberta” e os dados que foram apresentados na época.
 
Se por um lado ancorado em evidências científicas a hipótese virou piada, por outro Frias encontrou quem “aplaudisse” o feito. “Por isso tanto interesse do ‘mundo’ pela Amazônia!?”, dizia um dos comentários na publicação.
 
De acordo com a hipótese, a civilização que habitou o lugar era mais populosa que a Grande São Paulo, dominava tecnologias avançadas e detinha riquezas tanto patrimoniais quanto culturais.
 
Para o historiador e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Marcos Cruz, de 55 anos, a hipótese não passa de uma “fantasia esdrúxula”, facilmente refutada com evidências científicas.
 
O especialista explica que de fato um grupo de arqueólogos nacionais e internacionais encontrou vestígios de aterramentos na região Amazônica, no entanto, datadas de no máximo três mil anos. A descoberta foi divulgada em artigo em uma conceituada revista científica.
 
“Isso apontaria para a existência de sociedades com certo grau de desenvolvimento econômico e cultural em um determinado momento do passado da história amazônica. Isso é uma coisa, outra é esta fantasia de cidade perdida que está rolando nas redes sociais”.
 
A cronologia apontada para a existência da cidade é “absolutamente impossível”, segundo o historiador. Ele explica que os primeiros vestígios da espécie humana datam de 6 milhões de anos: “E não estamos falando do homo sapiens, estamos falando das primeiras espécies de hominídeos, o homo sapiens é muito mais recente”.
 
“Há 450 milhões de anos nós não tínhamos sequer dinossauros. Só esse dado mostra o quanto é esdrúxula essa hipótese”, declarou.
 
Cruz também refuta o suposto tamanho populacional da cidade, trazendo como exemplo a vinda de europeus, em especial de espanhóis e portugueses, para as Américas nos séculos 15 e 16. À época estimava-se uma população de 10 a 12 milhões de habitantes.
 
Perdidos no tempo
 
Para o especialista, os mitos e lendas datadas do período colonial, vindas com os primeiros exploradores europeus, são a única explicação para o boato de Ratanabá. Dentre as mais famosas está a também cidade perdida Eldorado e a fonte da juventude nas terras americanas.
 
“A notícia dessa pretensa cidade guarda relação com esses mitos e lendas do século 16, mas não tem nenhum fundamento. O que tem fundamento são os avanços arqueológicos feitos nos últimos 20, 30 nos na região amazônica, mostrando populações bem mais recentes”.
 
Cruz explica que existem dois grandes problemas para as pesquisas arqueológicas na região. Um deles é o próprio ecossistema que encobre os vestígios dessas sociedades; o outro era o material disponível na época, que era principalmente perecível, dificultando os achados.
 
Ignorância ou estratégia?
 
O historiador acredita que mais do que cair em uma fake news e defendê-la, o ex-secretário lançou mão da polêmica para se manter em evidência e crescer com ela. Essa estratégia, de acordo ele, é muito usada por grupos políticos da extrema direita.
 
O posicionamento de Frias ainda se mantém fiel, segundo Cruz, à lógica do atual Governo Federal que vem “apostando reiteradamente no obscurantismo, no negacionismo e na anticiência".
 
“Tenho cá minhas dúvidas se ele caiu nessa fake news. Acho que foi um movimento deliberado de tentar criar uma polêmica, as redes sociais vivem disso, e essas polêmicas geram interação, engajamento e por sua vez faz crescer”, explicou.
 
 
 
 
Fonte: MIDIANEWS



 
 
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