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29/01/2018 | 09:32

Tite vê injustiça com Neymar e prepara Seleção para encarar "fantasminha"

Técnico diz ter de 15 a 18 nomes para a Copa, e vai tirar últimas dúvidas contra Rússia e Alemanha

Globoesporte

Tite vê injustiça com Neymar e prepara Seleção para encarar

Foto: Reprodução

A pouco mais de quatro meses da Copa do Mundo, Tite divide sua programação entre observar os cerca de 15 jogadores que já se garantiram nela, e um outro enorme leque de opções para fechar as vagas restantes. Ele também traça estratégias para os amistosos de março, contra Rússia (dia 23) e Alemanha (dia 27), últimos antes de convocar a seleção brasileira para o Mundial.

Nessa entrevista ao GloboEsporte.com, o técnico analisou sua equipe, comentou o que considera uma injustiça ocorrida com seu principal jogador, Neymar, e chamou de "fantasminha" a Alemanha, com quem o Brasil vai confrontar pela primeira vez desde o fatídico 7x1 de 2014.

Numa entrevista recente, o Xavi, campeão do mundo em 2010 pela Espanha, disse que o Brasil é um dos favoritos na Copa por unir dois aspectos difíceis: físico e talento. Você acha que sua equipe é predominantemente física ou talentosa?

Quando ele se refere ao físico, é sobre uma equipe móvel, de estrutura física ágil, com rapidez de raciocínio e execução. Coutinho, Willian, Gabriel Jesus, Neymar, Douglas Costa, Taison, eles pensam e executam rápido, o último setor do campo tem essa característica marcante. E há outros de construção, sem tanta velocidade, como Marcelo e Dani, algo mais posicional dos dois meio-campistas. Mas a base que mais me fascina é essa mobilidade aliada à capacidade física para responder à inteligência, ao pensamento.

Quando pessoas como Xavi, Jorge Sampaoli (técnico da Argentina) e Joachim Löw (técnico da Alemanha) começam a ter o Brasil nessa estima, isso é bom ou ruim para a Seleção?

Não sei se é bom ou ruim, mas é verdade. E quando é verdade temos que encarar. Não posso ser o falso humilde nem ter soberba e ostentação. É uma equipe que está buscando consolidação, ainda tem a crescer até mentalmente, e nossos dois adversários de março vão nos proporcionar isso, principalmente a Alemanha. Vamos enfrentar nosso fantasminha. Temos que jogar com naturalidade, sem ostentação e sem falsa humildade.

Hoje, sua preparação tem foco nos amistosos de março, na Copa do Mundo, ou ela é uma só?

Estão num estágio de fusão. Antes era especificamente para os amistosos, agora há uma abrangência maior, uma projeção. As conversas, trocas de informações nos levam a um degrau acima na escada. Há esse componente ligado à performance, ao desempenho e ao merecimento nos amistosos, mas já pensando na formação do grupo e da equipe para o Mundial.

Ainda há espaço e tempo para algum jogador entrar nos seus planos da Copa? Os amistosos poderão propiciar uma chance a um novo convocado ou você já pretende ter tudo fechado?

Pego o exemplo do Gabriel Jesus, um cara que estava pedindo espaço e mostrando suas virtudes. Ninguém pode dizer que não haja outro se afirmando da mesma forma. Pode ser um mais experiente como o Hernanes e o Diego, ou um mais jovem como o Arthur. Não posso pré-conceber, fechar os olhos, não vou fazer isso. As pessoas colocavam dúvidas sobre quem ia começar como 9 lá no nosso primeiro jogo (contra o Equador, em agosto de 2016), mas nunca, ninguém da comissão técnica tinha dúvidas de que seria o Gabriel Jesus. Se você falar com todos, todos eram unânimes em função da qualidade, do senso competitivo, da capacidade de finalização.

Você está convicto de que o Gabriel Jesus vai disputar os amistosos de março?

Otimista sim, convicto não, porque ele precisa de todas as etapas de recuperação. Sei do grande clube em que ele está, dos cuidados para manter os estágios e não pular etapas. O doutor Rodrigo Lasmar (médico da Seleção) está fazendo acompanhamento clínico, o Fábio (Mahseredjian, preparador físico) o físico, e agradeço às equipes que estão se abrindo a isso. O Fábio esteve essa semana no São Paulo e no Palmeiras, e todos nos municiaram de informações: peso, percentual de gordura. O Matheus (Bachi, auxiliar-técnico) conversou com o Roger (Machado, técnico do Palmeiras), o Dorival (Júnior, técnico do São Paulo), o Lucas (Silvestre, auxiliar de Dorival), para termos informações de todos. É nossa obrigação fazer esse acompanhamento para que o atleta esteja bem lá na frente. Não há como deixá-los bem lá na frente, seria mágica. Se não monitorarmos antes, não chegarão bem. Os atletas sabem disso.

E pelas informações que vocês recebem, os atletas estão se cuidando, se preparando bem?

Sim, todos eles sabem. Falamos com alguns de forma individual, e reiterei pessoalmente em nossas reuniões que estivessem nas melhores condições nos clubes porque nós buscaríamos todas as informações. E não pensem que vão nos esconder alguma informação. Não há traíra nos clubes, mas queremos o melhor de cada um e que entreguem o melhor aos clubes. Isso é lealdade.

Quantos jogadores você tem garantidos na Copa do Mundo?

Tenho variado entre 15, 17 e 18. Pelo desempenho nos clubes e na Seleção, pela base da equipe que tem jogado. Se eu convocasse os que mais atuaram, e atuaram bem, eu teria três laterais-esquerdos. Os três (Marcelo, Filipe Luís e Alex Sandro) jogaram bem. E falar de Thiago Silva, Fernandinho, Willian, todos jogando em altíssimo nível. O Ederson quando jogou, jogou muito. São os que já encaminharam essa situação.

Essa situação de convocar três laterais-esquerdos você citou apenas como exemplo ou existe essa possibilidade? Você vai ter que escolher dois, certo?

A menos que haja uma adaptação de algum jogador noutra função. Não vou descartar, vai que acontece, num improviso. Até porque eu sou adepto da meritocracia, mas ela tem um limite: o da necessidade da Seleção. Se houver necessidade de um atleta com característica diferente, que mereça menos do que outro que esteja arrebentando, vou pegar em função da Seleção.

Ao longo dos últimos meses você citou muitos jogadores que provavelmente não serão convocados até a Copa do Mundo, por falta de tempo e pela concorrência. A maioria são jovens. Na sua opinião, o Brasil tem um time encaminhado para 2022?

(risos) Eu nem pensei nisso, e falo a verdade sobre esses jogadores. Quando falei do David Neres dei o "start" para vocês, e aí vieram as perguntas. Quando tu me perguntou do Malcom, lá na Rússia, nós já estávamos acompanhando. Isso vale para outros jogadores. Falei do Hernanes sem ninguém ter falado. Falei do Scarpa, do Richarlison, do Douglas (volante do Girona), do Gabriel (zagueiro do Atlético-MG). E falo com a seguinte mensagem: joguem em alto nível porque estamos acompanhando. Ninguém aqui está de sacanagem, passando informações para ser simpático. Fazemos esse trabalho com prazer.

Quando você responde sobre transferências que envolvem jogadores da Seleção, diz que é importante eles escolherem clubes e cidades onde se sintam felizes. Você vê o Neymar feliz no PSG e em Paris?

Sim. Há situações naturais da adaptação em cima de uma mudança, isso requer certo tempo. Tudo em relação a ele toma uma dimensão muito grande, mas vamos pegar essa última controvérsia (a vaia da torcida por Neymar bater o pênalti e adiar o recorde de Cavani). Ele fez tudo, tudo, tudo na sua excelência, e foi bater o pênalti porque foi determinado pelo seu técnico. Ninguém bate pênalti a bel-prazer. Em clubes de alto nível, o técnico determina escalação, convocação, substituições e bolas paradas. Ele ficou de egoísta numa situação pré-determinada, foi muito injusto. Quando ele reclama demais está errado, não é atribuição dele reclamar de arbitragem ou do adversário. E, para mim, é isso que mais tem de ser corrigido nele. Mas isso foi injusto em relação ao Neymar.

O que sua seleção brasileira ainda não fez, e você espera que faça nos amistosos de março?

Furar linha (defensiva) de cinco.

O que não conseguiu contra a Inglaterra?

É, mas o segundo tempo foi muito bom. Revi o jogo, os lances, as ações, e as opções que começamos a encontrar são interessantes. O segundo tempo foi de grande qualidade. A própria imprensa inglesa ressaltou quando acabou o jogo. O Gareth (Southgate, técnico da Inglaterra) disse na coletiva: "Não conseguimos jogar". Tivemos 67% de posse de bola dentro do Wembley, quem finalizou fomos nós. Isso é muito.

Você tem segurança de que Rússia e Alemanha jogarão com linha de cinco na marcação?

A tendência da Rússia é jogar com linha de cinco, mas a Alemanha tem variado. Tenho dúvida se ela vai jogar assim ou não.

Enfrentar a Alemanha, independentemente do que aconteça no jogo, deixará a Seleção mais preparada para a Copa do Mundo?

Sim. Vamos jogar contra nosso fantasminha. É nossa preparação, vamos enfrentar a Alemanha em Berlim, o primeiro enfrentamento vindo do 7x1, podem falar tudo isso. Aceita que dói menos. É a verdade e vamos para um novo capítulo que vai nos preparar melhor.

Em que grau de imersão você se encontra nas seleções que vai enfrentar na primeira fase da Copa do Mundo: Suíça, Costa Rica e Sérvia?

Ele está predominantemente na Rússia e nessa montagem para enfrentar linha de cinco, mas paralelamente às outras equipes. Esses jogos preparatórios vão nos mostrar uma equipe base, mas a referência maior que temos da Suíça é a derrota de 2x0 para Portugal (em outubro do ano passado, pelas eliminatórias). O Sylvinho acompanhou esse jogo. Mas toda a comissão técnica está preparando material, conversando com as pessoas dos departamentos de tecnologia dos clubes, que estão analisando as seleções. Agora vamos falar com Atlético-MG e São Paulo, que acompanham Rússia e Alemanha.

E em relação aos amistosos que serão disputados entre maio e junho, já com o grupo da Copa reunido? O que você espera deles?

Alguns defendem três amistosos, outros dois, em função do momento em que nos apresentarmos. Temos que ser um pouquinho visionários e montar uma estratégia. A experiência de profissionais diz que nesse período o atleta fica inquieto, e se não houver jogos tudo se torna maior, eles ficam sem saco para o treinamento. Os períodos têm que ser intercalados com jogos. Eu gostaria de ter no mínimo três. Se no primeiro a carga de trabalho ainda estiver ruim e no segundo o jogador não estiver inspirado, no terceiro eu terei uma amostragem maior. O CPA (Centro de Pesquisa e Análise da seleção brasileira) me trouxe um dado: 90% ou mais dos atletas convocados jogam numa Copa. Se no primeiro amistoso eu ainda não tiver os jogadores que estarão na final da Champions, uso os que tiver e preparo um número maior de atletas. A menos que eu prejudique a saúde do atleta, minha tendência são três amistosos para o cara ter uma preparação melhor.

Ou seja, esse longo período de preparação será um privilégio, desde que bem administrado?

Perfeito. Nesse bem administrado estão ciclos de sete dias, tempo entre um jogo e outro que temos dominado nos clubes, com quantificação de carga distribuída. Por isso queremos jogar nos dias 3 e 10 de junho, antes de estrear na Copa no dia 17, para termos esses ciclos de trabalho.

Quais serão as coisas boas e ruins de ter 27 dias de treinos para um grupo que, desde que você assumiu, passou no máximo nove dias juntos?

O bom é que vamos repetir bolas paradas, automatizar movimentos. Nos clubes, cada um marca de forma muito diferente: uns por setor, outros individual, alguns entram antes da batida da bola, outros esperam na marca do pênalti. Isso em faltas laterais curtas e longas, e em escanteios. Quando eles estiverem de saco cheio da voz do treinador falando da parte tática, faremos bolas paradas. Vamos treinar a parte ofensiva para acentuar infiltrações que já tivemos contra a Inglaterra, mas precisamos de mais para abrir uma linha defensiva de cinco. Haverá tempo. O ruim é que vai encher o saco ouvir toda hora a voz do treinador. Por isso as famílias estarão a 10, 15 minutos do CT.

É preciso folgar durante a Copa do Mundo, certo?

Eu não aguento (ficar sem folgas), não tenho condição. Há essa necessidade humana de contato com tua esposa, namorada, filha, pai, mãe, quem quer que seja. É a situação humana de maior pressão emocional que teremos de absorver. Para mim é família e trabalho. A partir de março eu terei conversas esporádicas com vocês (jornalistas). Terei foco na família, que é meu porto seguro, e no trabalho para mergulhar com tempo e energia nele.


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