O feriado da Consciência Negra deve continuar em memória a morte de Zumbi dos Palmares

Tramita na Assembleia Legislativa de Mato Grosso o Projeto de Lei nº 310/2018, de autoria das lideranças partidárias que pretende acabar com o feriado da Consciência Negra, comemorado dia 20 de novembro. A data permanece como comemorativa no calendário com fins de reflexão, sem o status de feriado estadual.

A justificativa para o fim seria o fato do feriado influenciar na rotina econômica das cidades afetando diversos setores com o fechamento dos comércios e de prestadores de serviços, causando prejuízos econômicos e impedindo a comercialização dos produtos e a realização do serviço nos feriados. O assunto foi destaque no Programa GW100 do último domingo (09) onde a mediadora Christiany Fonseca abordou o tema “Consciência Negra: Lutas e desafios”.  

Manoel Silva, presidente do conselho estadual de promoção de igualdade racial, foi um dos convidados para a discussão. Ele lembrou da luta para conquistar a lei que obriga a implantação da cultura africana na grade curricular e muitas escolas não cumprem. 

Para ele, é desafio qualificar os professores e falar sobre a contribuição do negro para a história da sociedade. “Acredito que ainda existe tolerância religiosa, então precisamos promover essa lei nas escolas para ter uma sociedade com a mente aberta e para entender a contribuição da população negra para esse país”, afirmou Manoel.

Rosana Fátima de Arruda, Pesquisadora do Núcleo de Relações Raciais e Educação (NEPRE-UFMT), também foi convidada para o debate, falou sobre a luta da mulher negra, do fortalecimento e da identidade negra, após a data oficializada da Consciência Negra. 

“Essa data de vinte de novembro é para buscar esse marco. A sociedade tem que perceber que há contribuições fortíssimas da população negra no mercado de trabalho, nas construções, na mineração, na arte, no futebol e outros”, disse Arruda.

Para Rinaldo Almeida, membro do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, o feriado da Consciência Negra deve continuar em memória a morte de Zumbi dos Palmares. “Essa é uma conquista a qual não vamos permitir a retirada, essa conquista hoje faz parte de uma legislação”, afirmou Almeida.

Rinaldo lembrou também a conquista das cotas raciais, considerando uma questão pacificada e alertou sobre as perseguições que os terreiros enfrentam por religiosos. Ele citou ainda a luta dos jovens. 

“O Estatuto da igualdade racial é a nossa bíblia, neles estão as nossas lutas e conquistas”, pontuou e o presidente. O presidente ainda afirmou que a próxima luta legislativa é fazer a constituição estadual suplementar o Estatuto da Igualdade Racial.

Os entrevistados avaliaram sobre os desafios e lutas que enfrentarão com o presidente eleito Jair Bolsonaro. Para Manoel Silva, a preocupação é acabar com a política de cotas. “Nós estamos ganhando o nosso espaço através dessa política de cotas. Hoje temos um grande número de pessoas, tanto indígena quanto quilombola, que estão entrando nas Universidades Federais. Eu acredito que o direito conquistado não deve ser mexido”, concluiu Almeida. 

“A palavra do momento é resistir e lutar”. A afirmação é da pesquisadora Rosana Fátima com relação à expectativa com o novo presidente do Brasil. E disse ainda que a população está informada e preparada para resistir a qualquer retirada de direitos conquistados.

Rinaldo Almeida também é ex-vereador e foi quem propôs o feriado que se tornou lei, acredita que o novo presidente vai governar para o público dele e considera ser um momento de enfrentamento. “Na reforma da previdência o ataque será ao servidor público, porque os militares não entraram nesta reforma”. Reinaldo conclui dizendo que o feriado da consciência negra é em homenagem à zumbi dos palmares, é um feriado de heróis, compara ao feriado de Tiradentes.