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15/02/2019 | 09:41

Piloto de helicóptero morto com Boechat fazia eventos com Papai Noel na Grande SP

O piloto Ronaldo Quattrucci, morto recentemente com o jornalista Ricardo Boechat ao cair com seu helicóptero sobre um caminhão em uma rodovia de São Paulo, fez eventos transportando Papai e Mamãe Noel, na mesma aeronave, durante os natais de 2009 a 2016. Duas semanas antes da tragédia, ele havia participado com o mesmo aparelho de uma homenagem a um colega de profissão que morreu atropelado por um ônibus na Rodovia Bandeirantes, também na capital.

As "caronas" ao casal natalino foram registrados em vídeos e fotos. Em uma das ocasiões, em 2012, o piloto pousou o helicóptero no Parque Piratininga, entre as ruas Joaquim Caetano e Francisco Lisboa, na cidade de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. Ao redor, crianças de uma comunidade carente esperavam o casal natalino entregar presentes doados.

Na última segunda-feira (11), o piloto, considerado experiente por colegas de profissão, tentou fazer um pouso de emergência entre o Rodonel e a Rodovia Anhanguera. A aeronave, porém, colidiu com um caminhão que saía da praça de pedágio, pegou fogo e deixou mortos Ronaldo e Boechat, que vinha de uma palestra em Campinas.

Durante oito anos, os organizadores do Natal Solidário registraram a chegada do Papai e da Mamãe Noel em Itaquaquecetuba. As cenas gravadas por celulares estão no Youtube e no Facebook. Nelas é possível ver Ronaldo pilotando o mesmo helicóptero amarelo, prefixo PT-HPG, destruído no acidente.

Numa dessas imagens as crianças aguardam a chegada do casal vestido de vermelho enquanto o locutor oficial do evento, Isaias da Paz, ao microfone, elogia a habilidade de Ronaldo na aeronave.


“Manobra sensacional do piloto, comandante Ronaldo, que está trazendo aí o Papai-Noel de helicóptero. Gente da melhor qualidade, tá certo?! Não é qualquer um que faz isso que ele está fazendo não”, disse.

“É um piloto sensacional, habilidoso”, que também pediu cuidado a quem estava em volta não se aproximar do helicóptero enquanto ele não parasse totalmente de girar as hélices. “Atenção, segura aí a criançada.”

Segundo o organizador, ele soube da morte de Ronaldo enquanto ouvia notícias do acidente numa rádio. “Alguém falou o nome dele e para mim foi um choque. Doeu bastante.”

De acordo com Isaias, o piloto cobrava de R$ 1 mil a R$ 1,6 mil cada vez que levava o Papai e a Mamãe Noel do Aeroporto Campo de Marte, na Zona Norte de São Paulo, até Itaquaquecetuba.

“Ele falava que esse valor era para pagar o combustível gasto para sair do aeroporto, sobrevoar baixo 56 ruas do bairro de Itaquá para que as crianças vissem o Papai Noel e, depois, pousar com ele e a Mamãe Noel no parque da cidade”, se recorda o organizador.

Isaias conta que conheceu Ronaldo ao procurar um piloto de helicóptero que aceitasse firmar essa parceria descrita acima. “Quando ele soube que era para atender crianças sem muitos recursos, concordou.”

O primeiro trabalho de Ronaldo com o Natal Solidário foi em 2008, mas com outro helicóptero, um Robinson 44, que levava só o Papai Noel. “Depois no Natal do ano seguinte ele sugeriu que para levar um Papai Noel e uma Mamãe Noel era preciso um helicóptero maior, justamente esse amarelo”, conta Isaias.

O organizador afirma que o Natal Solidário com helicóptero terminou em 2016 porque no ano seguinte no lugar do campo da praça usada para o pouso havia sido construída uma base de uma Guarda Municipal. “Neste ano de 2019 até cogitei voltar a entrar em contato com Ronaldo para tentar viabilizar a volta do Natal Solidário com a aeronave."

“Ainda realizamos o Natal Solidário, mas sem o helicóptero, que nos ajudava a chamar muitas crianças para a praça. Na primeira edição foram mil crianças, na última 5 mil receberam brinquedos”, lembra Isaias.

De acordo com o organizador, para o helicóptero pousar na praça foi preciso correr atrás de diversas autorizações. “Prefeitura, Bombeiros, Conselho Tutelar, Vara da Infância e Juventude...”

Também procurada pela reportagem, a última Mamãe Noel do evento, Fabiana Almeida, conta que só tem boas recordações de Ronaldo.

“Dedicado e habilidoso. Levava duas pessoas no helicóptero com a porta aberta, mas sempre prezava pela segurança”, conta Fabiana, que trabalha como monitora de van escolar.

Por trabalhar num veículo de transporte motorizado, Fabiana acredita que a culpa do acidente que vitimou Ronaldo e Boechat é do próprio helicóptero.

“A gente está lidando com máquinas e máquinas dão problema”, falou a Mamãe-Noel. “Ele era extremamente experiente e a máquina dele parece que falhou e apareceu aquele caminhão na frente dele.”

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu cautelarmente nesta quarta-feira (13) a RQ Serviços Aéreos Especializados, dona do helicóptero que caiu na última segunda e vitimou Boechat e Ronaldo. Com a suspensão, a empresa fica proibida de operar. O piloto era sócio proprietário dela.

Segundo a agência, havia "indícios de prática irregular de táxi-aéreo" por parte da empresa, que não tinha autorização para esse tipo de transporte.

De acordo com a Anac, a empresa possuía autorização para prestar serviços especializados, como aerofotografia e aerocinematografia, mas não possuía autorização para fazer táxi-aéreo, com o transporte remunerado de passageiros.

A agência informou ainda que as empresas envolvidas na contratação do serviço terão cinco dias úteis, a partir da publicação da suspensão no “Diário Oficial da União”, para apresentarem a documentação que comprove qual o tipo de serviço contratado.

A medida, segundo a Anac, deve ser publicada no “Diário Oficial” desta quinta-feira (14).

Questionada sobre o trabalho executado por Ronaldo de transportar de helicóptero Papai e Mamãe Noel em Itaquaquecetuba, a Anac respondeu que não encontrou em seu sistema nenhuma “denúncia registrada” nesse sentido.

Segundo a agência, “é importante destacar que não há como precisar que tipo de transporte foi executado na ocasião, apenas com os relatos informados”.

Ainda de acordo com a Anac, “o que diferencia uma operação de transporte de passageiros é a remuneração feita pelo serviço. Se não houve remuneração pela prestação do transporte, não há irregularidade nele, tendo em vista que a aeronave pode ser usada para ações privadas, além das certificadas como SAE – Serviços Aéreos Especializados, no caso”.
 
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