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Imprimir Entrevista

04/08/2020 | 11:06 - Atualizada: 04/08/2020 | 13:05

Durante uma pandemia de saúde o Brasil vive uma pandemia psicológica e agora?

Caio Dias

 

O Brasil sofre uma epidemia de ansiedade. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o País tem o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno. O tabu em relação ao uso de medicamentos, entretanto, ainda permanece.
 

Por isso vamos conversar com o psiquiatra Walker Cunha, sobre essa outra epidemia que o Brasil vem sofrendo.

De cada 100 pessoas, quase 10 são ansiosos, são reais esses números?
 

“Estamos vivendo há algum tempo, uma explosão de casos de ansiedade em todo mundo, surpreendentemente o Brasil está na vanguarda, está a frente e muito se discute se a questão de ansiedade no Brasil é porque foi feito muito diagnóstico, porque no País hoje tem uma gama de psiquiatras que é muito atenta a isso, a população está mais atenta, mas isso acontece também em função do estilo que a gente vive, porque muito antes da pandemia, observamos que a população brasileira, tem um comportamento de muita inquietação e preocupação em relação ao futuro, que é diferente de outras populações. Quando você pensa em um país muito desigual igual no Brasil, pais que nem todo mundo sabe como vai ser o dia seguinte e também na questão financeira, enfim são alguns fatores que são agravantes de ansiedade”. Comentou o psiquiatra.
 

Existe uma forma de identificar a ansiedade, para que possa conseguir um bom tratamento?
 

“Para saber diferenciar o que é uma ansiedade, que é fundamental para o ser humano sobreviver. Ao atravessar a rua se você não tiver um pouco de ansiedade, você não terá medo, pois atravessará independente de quem estiver vindo, carro, moto. Então existe a ansiedade que te protege, que é a ansiedade boa que é a expectativa de coisas boas que virão, é natural que na véspera de uma viagem ou uma festa de formatura, é natural que você não consiga dormir direito, e tem os transtornos de ansiedade. Muito se discute na psiquiatria é dos transtornos de ansiedade, porque quando ela começa a atrapalhar o seu estilo de vida, e quando se pergunta os sintomas de ansiedade, são muito variados, porque tem pessoas que sentem ansiedade, que elas se tornam pessoas mais difíceis de conviver, porque tem pessoas mais irritadas, mais inquietas. Existe o ansioso que paralisa, tem pessoas que tem a chamada fobia social, que é um tipo de ansiedade onde na hora de uma apresentação ou falar em público, se ela sente que pode estar sendo avaliada, ela simplesmente trava, e tem aquelas que por ansiedade comem demais e acabam desenvolvendo um tipo de compulsão, porque por meio dela, ela sente uma melhora durante algum tempo transitório. Então tem que saber diferenciar a boa com a má”. Completou Walker Cunha.
 

A falta de ar, é um dos sintomas da ansiedade?
 

“Quando se fala de crise de ansiedade, são doenças que despertam um alerta em nosso corpo, como se algo muito grave estivesse acontecendo. Dentro da crise de ansiedade, um dos sintomas mais grave é a crise de pânico, onde existe uma sensação de morte iminente. É muito comum pessoas irem até o pronto socorro, dizendo que estão infartando, tendo um AVC ou derrame, mas na verdade é uma crise de pânico que é um quadro mais exacerbado. Agora no dia a dia, crises de ansiedade podem se manifestar com falta de ar, então é interessante lembrarmos da pandemia, que uma das principais manifestações é a falta de ar, que como a gente precisa é ter informação, mas muitas pessoas com mais informações, acabam ruminando aquele pensamento “Será que estou com a Covid?, será que fui infectado?” Então vemos isso com muita frequência nessa época do ano, aqui em Mato Grosso é um estado que sofre muito com o tempo seco, então é natural que alguns sintomas respiratórios aparecerem, mas precisa pensar muito para não confundir com a covid, e a própria ansiedade em si a despeito do clima, pode dar essa sensação que você quer inspirar e não consegue, uma sensação de sufocamento. E dentro do cenário da pandemia, muita gente que tem o sintoma de ansiedade e envolvem a sensação de falta de ar, acabam procurando atendimento médico, acreditando estar infectados pelo novo coronavirus, mas na verdade é um quadro de ansiedade”. Comentou o médico.
 

Qual a diferença da falta de ar da ansiedade para a falta de ar da Covid-19?
 

“A grande diferença é que quando se fala de ansiedade, você fala de ondas, e tem uma coisa interessante que é ao estar com um quadro de falta de ar, gerado pela ansiedade, pode perceber que quando passa um pouquinho de tempo e você consegue trabalhar na sua mente, um outro pensamento que tire de foco, daquilo que te da ansiedade a falta de ar diminui. A sensação de dispneia, que é uma falta de ar por questão pulmonar, por uma questão orgânica, elas não estão ligadas a fatores emocionais, ou seja, mesmo que se concentre em outra coisa, aquela falta de ar é persistente. Então a pessoa que tem falta de ar ligada a ansiedade, ela tem essa questão ou ela tem um foco muito especifico, de essa sensação ou ataque de falta de ar, enquanto a falta de ar de casos de bronquite, asma ou a rinite alérgica, que tem uma obstrução mecânica, por uma questão de um nariz tapado, é diferente, você consegue perceber a diferença entre as faltas de ar”. Comentou o Walker Cunha.
 

Como conseguir controlar a ansiedade no trabalho?
 

“Seja o motivo que for da ansiedade, qualquer coisa que gere a sensação de falta de controle pode gerar sintomas ansiosos, quando a pessoa que é ansiosa tem uma palavra que pra ela é como musica, chama-se controle. Se eu tenho controle da situação eu me sinto melhor, se eu não tenho controle de determinada situação isso me gera ansiedade, é muito comum ver em pessoas ansiosas, pessoas que vão fazer uma viagem de carro, acabam observando tudo que podem, como postos de caminho no trajeto, se tem congestionamento, o ansioso é muito meticuloso, ele acaba sempre preocupado sempre com o que vai acontecer, e estamos vivendo em um momento onde o desemprego está explodindo no pais e no mundo, estamos vendo que em função da pandemia e com a modificação de hábitos, estamos vendo muita gente perdendo o emprego. Então natural que se observe o aumento de casos exatamente pela questão de que, sempre que há uma incerteza em relação ao futuro, os casos disparam. Por isso quando se fala que o Brasil lidera esse quadro, antes mesmo dessa pandemia, porque no Brasil, você tem uma situação na qual que apesar do que todo mundo vê, que o Brasil é um povo leve, de bom humor e um povo afetuoso, mas sempre vem uma certa frequência de uma preocupação com relação ao nosso futuro, coisas que em outras sociedades de países vizinhos, onde não exista tanta desigualdade social essa preocupação é menor. Então falando sobre desemprego e renda, é muito provável que as pessoas estão nesse momento se sentindo vulneráveis ao desemprego ou a redução de renda vão acabar apresentando sintomas ansiosos, como a falta de ar”. Finalizou o psiquiatra Walker Cunha.

 

 
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