Caio Dias
Nos últimos anos, o Brasil vivenciou uma progressão no debate público em torno das questões femininas. Temas como assédio, aborto, maternidade e carreira, vem sendo discutidos amplamente na sociedade e ganhando espaço no cenário político.
A luta pelo direito das mulheres vem progredindo não só no Brasil, mas em todo o mundo. Alguns avanços já foram conquistados nas últimas décadas, como o direito ao voto e o direito de serem eleitas. Porém, no que tange a representatividade das mulheres na política, esse debate ainda se encontra muito distante do desejado.
Muitas mulheres ainda têm dificuldades de ocupar cargos de poder, serem eleitas ou terem voz ativa nas tomadas de decisões políticas. Isso acontece devido à exclusão histórica das mulheres na política e que reverbera, até hoje, no nosso cenário de baixa representatividade feminina no governo.
E por esses e outros assuntos vamos conversar com o especialista político João Edisom.
Esse ano você acredita que as mulheres possam assumir um papel mais importante na política?
“A caminhada das mulheres é longa e lenta, porque se olharmos as primeiras eleições elas vem se arrastando e na ultima eleição, surgiu as historias das laranjas, e essa historia fez acordar e estamos indo para essa eleição com várias candidatas mulheres, e que não são aquelas parentes de fulano para preencher chapas, tem gente indo para valer e é possível falando isso em comparação a outros fatores, devemos ter um ganho de qualidade enorme nessas eleições a candidatas femininas. Porque despertou um outro grupo que não fazia parte daquele, “sou mulher do cara que tem poder, sobrinha, tia e afins”, saiu um pouco disso e estão vindo pessoas autônomas e líderes, líderes se escondiam porque os partidos políticos as tiravam, jogavam as mulheres para as questões mais simples, como cotas, para manipulá-las. Já existiu casos na literatura brasileira, e também em casos muito recentes onde a pessoa não sabia que era candidata, enviaram nome dela, a fizeram assinar papéis e depois da prestação de contas a mulher descobriu que foi candidata. Isso será resolvido nessa eleição? Não, porque toda caminhada é longa, e até chegarmos em igualdade da disputa, sem precisar ter as cotas ainda vai alguns anos”. Comentou o cientista.
Se o eleitor tiver sensibilidade podemos ter uma legislação feminina?
“Eu não tenho essa esperança de termos uma câmara com revolução feminina, mas se conseguirmos equiparar o percentual ao percentual de eleitos, devemos melhorar muito. 30% já é um salto enorme, eu acredito que alguns lugares do Brasil chegam a isso, em todos não”. Comentou o cientista.
Mato Grosso chega a ser um desses lugares?
“Não, em Mato Grosso é difícil, porque o poder aqui é masculino e branco ainda e infelizmente é muito forte, vai demorar ainda algum tempo”. Comentou João Edisom
Como os candidatos devem se virar de forma econômica para essas eleições caso o fundo partidário não saia?
“Estamos vivendo uma realidade diferente, em quase todos os outros fatores, a politica vai começar a apresentar realidades diferentes apesar das estruturas serem velhas. Então terá que ir para algum outro tipo de mecanismo, que seja além do financiamento público de campanha, quando não tínhamos essa expectativa, o próprio candidato fazia a captação de pessoas que na verdade iriam governar depois, que ele só irá representar para ter o poder ali. Com a entrada do financiamento público tirou um conceito, de que ele precisa pegar o dinheiro de outra pessoa, tanto que o CNPJ não existe mais, mas o CPF está liberado mas limitado, automaticamente ele vai ter que aumentar o numero de doadores e isso é comum nos EUA, lá é comum fazer as vaquinhas online, isso e um processo de evolução, porque se eu quero alguém representando a minha categoria e linguagem, eu financio essa pessoa. Tem uma questão das eleições passadas que muitas vezes as pessoas tem dificuldade de observação, que foi a eleição do presidente Jair Bolsonaro, pode se criar o que quiser em torno dela em termos de gastos financeiros, mesmo assim ela foi mais barata que as cinco ou seis candidaturas, próximo dele. Então o fator financeiro mostrou uma nova vertente, e se você pegar de onde vem o dinheiro dele, tirando o ilegal mantendo apenas o legal quantas pessoas ajudarão? Muita gente comprou a ideia. Não discutindo a ideologia e nem gosto pelo presidente, mas sim o mecanismo que foi utilizado, esse mecanismo já foi eficiente e eu não posso dizer que não é a campanha presidencial mais barata no Brasil de todos os tempos, nem um outro presidente se elegeu no Brasil com tão pouco recurso. Mesmo colocando todos os valores possivelmente investigados, somando tudo e ainda fica mais barato do que o valor legal das outras candidaturas”. Comentou João Edisom.
Como o modelo de candidatura barata do atual presidente, pode servir de modelo para os outros políticos?
“Somos uma sociedade em transição, o Brasil velho ainda existe aqui, a transição humana de maior impacto de todos os tempos, para todos os locais ela apresenta algumas variantes. Como a sociedade entrou em um processo de transição, teremos um velho e o novo vivendo e conflitando juntos, então os novos candidatos que não tem ranço velho e entram com discurso novo, precisam ter coerência com isso, ele terá que ter um posicionamento em relação a campanha também diferente. Qual é o calculo que fazemos de campanha, quanto o candidato gastou e qual seria o montante que ele receberia enquanto salario, que recuperaria esse gasto, tem que ser feito essa conta e quando se faz conta, alguém vai te dizer que se tiver que gastar mais que isso, ele não pode ser candidato, porque não recuperarei esse dinheiro, ele vende ideia e não capital e essa passagem não é rápida, porque se temos 25 vagas, nessa eleição pode ser que cinco sejam eleitos, na próxima oito e a transição é assim e daqui a 100 anos, vai ter gente ainda que não faz discurso, não fala nada e distribui dinheiro e vai ser eleito. A transição é isso, a transição não é um modelo que hora ele está de uma cor, e no outro dia está em outra, alguns nem enxergam a cor de tão rápida e estamos nesse processo, na eleição passada em 2018 ela já apresentou colorações diferentes, mesmo não importando se tiver retrocesso, porque assim terá outro impulso, porque muita gente pensa que a historia é contínua e reta, ela é curva e cheia de retrocessos, e toda vez que tem retrocesso ela não consegue ser mais aquilo, ela impulsiona um pouco mais a frente. Nós temos uma onda moralizante, que atingirá em torno de 35% a 55% dos vereadores do Brasil todo, dependendo do local. Aqui em Cuiabá está na faixa dos 50% dos vereadores, tem a tendência a serem punidos pelo histórico que tem, não necessariamente ser eleito, mas sim com maior dificuldade”. Finalizou João Edisom