09/07/2020 | 07:44 - Atualizada em 09/07/2020 | 10:10
Caio Dias
Quando se fala a palavra adoção, muitas dúvidas vem a cabeça das pessoas, principalmente daquelas que querem adotar, mas não sabem o caminho, onde deve ir, quem procurar, querem adotar quantos filhos e muitas outras dúvidas. Por isso a entrevista de hoje é com a Lindacir Rocha, que é presidente da Associação de Pesquisa e Apoio a Adoção, que vai nos ajudar a entender um pouco mais sobre esse assunto.
Hoje no estado, a lista de crianças para serem adotadas é menor, do que a lista dos interessados em adotar. Porque esses números nunca batem?
“Essa noticia é boa, porque é muito bom que a lista de crianças seja menor que a de pretendente a adoção, porque essa ação é um ato jurídico que a pessoa ou o casal, assume uma criança ou um adolescente que não são seus biologicamente, e assume os cuidados e afeto deles. Infelizmente hoje, ainda existe muitos entendimentos equivocados na adoção, hoje temos no estado de Mato Grosso, mais de 600 pretendentes a adoção nas filas aguardando uma criança, e nesse mesmo estado, temos pouco mais de 60 crianças prontas para serem adotadas. Então porque não estão zerados esses números? Essa é a grande questão e o que nós temos para esclarecer é que infelizmente, essas crianças que estão prontas e não foram inseridas em famílias adotivas, são aquelas adoções que nós chamamos de adoções necessárias tais como: grupo de irmãos, crianças mais velhas, crianças com deficiência ou doença crônica. Nós precisamos dar visibilidade, precisamos noticiar a sociedade, que existem essas crianças, sabemos que hoje falta as vezes, é o conhecimento e comunicação, onde até bem pouco tempo, os abrigos eram muito fechados, só entravam para a fila de adoção, aquilo que era cultural ou seja os casais inférteis. Hoje com as mídias, com o que falamos sobre adoção constantemente, principalmente com o dia nacional da adoção que é celebrado, e várias ações realizadas pelo Brasil todo, vemos outros perfis de pretendentes para adoção. Pessoas que aceitam, crianças com HIV, crianças portadoras de deficiência ou de doenças” comentou a presidente.
Você é presidente da AMPARA, e como essa associação trabalha hoje no estado?
“Somos uma associação que veio com objetivo de contribuir com a vara da infância e da juventude para acelerar os procedimentos adotivos, preparar os pretendentes a adoção, colaborar com a preparação das crianças e adolescentes que irão para as famílias adotivas. Nós somos hoje no país mais de 200 grupos, que atuam há mais de 23 anos, lutando por políticas públicas que acelerem e conscientizem, e aqui em Mato Grosso, a AMPARA, trabalha desde o pré natal da adoção, que é a preparação dos pretendentes a adoção, porque para adotar, não basta só querer, é preciso preparar e conhecer a realidade da criança, conhecer toda a situação e todas as dores que envolvem uma adoção, para que a adoção seja realmente bem sucedida. Fazemos o pós-adoção, que é o acompanhamento, o depois que a família ou a pessoa acolhe a criança ou o adolescente, porque é na pratica que vem os grandes desafios. Então fazemos um encontro mensal com essas famílias. Fazemos também a preparação de toda a rede que cuida da proteção da criança e do adolescente, técnicos, o poder judiciário, ministério público, assistentes sociais dentro dos municípios e outros projetos, que podem conhecer através das nossas redes sociais” declarou a presidente da AMPARA
Então os pais que vão adotar essas crianças, participam de uma espécie de curso?
“É um curso sim, a lei nº 1210/2009, que foi a lei que transformou e deu um passo gigante nas adoções no Brasil, trouxe com ela uma luta dos grupos de apoio, a obrigatoriedade da preparação dos pretendentes à adoção. E no país hoje, é feito de forma diversificada onde cada estado e município atua de acordo com a sua realidade. Aqui em Cuiabá fazemos em seis encontros, onde é discutido aspectos jurídicos, aspectos psicológicos, o perfil da criança institucionalizada, as dores e a importância, do momento da revelação entre outros aspectos, onde preparamos para as crianças serem bem acolhidas” comentou Lindacir Rocha.
E hoje, qual é o caminho que a pessoa deve tomar para querer entrar na lista de adoção de uma criança?
“Primeiro passo, dialogar em família. Se é um casal, conversar, se entender para que ambos queiram adotar uma criança ou adolescente. A criança não pode chegar em uma família, que um não aceita a adoção, e aconselhamos a conversar e preparar e passar por este curso, porque ele ajuda a decidir também, se quer ou não adotar uma criança. O segundo passo é procurar a vara da infância e juventude e lá se habilitar, tomar conhecimento de todos os documentos, preencher uma ficha, é feito um estudo psicossocial com o casal onde é feito através de entrevistas, logo depois esta ficha vai para o Ministério Público e por fim ela chega ao juiz, onde ele irá julgar a sentença, declarando o casal habilitado ou não.” Declarou a presidente
O projeto padrinhos, funciona como uma porta de entrada para a adoção?
“Não podemos dizer isso, vou te explicar o porquê. O projeto Padrinhos foi criado para as crianças e adolescentes, com o perfil de difícil inserção nas famílias adotivas. O projeto Padrinhos é uma coisa e a adoção é outra completamente diferente, porque quem quer apadrinhar vai acolher uma criança mais velha e que já foi tentada a adoção e que ninguém aceitou. É logico, que nós sonhamos que esses padrinhos criem vínculos para chegar a um momento e dizer “Não posso viver longe”, então ela é preparada para adoção e entra na fila para que finalmente acolha aquele adolescente”
E agora uma pergunta mais curiosa, você tem filhos adotados, e como você entrou nesse processo?
“Eu tenho três filhos adotados, passei por experiencia de apadrinhamento, de acolhimento também de crianças e adolescentes, e hoje tenho um recém-nascido, a outra veio um pouco mais velha, com um ano e meio e a ultima veio com seis para sete anos, onde teve muita violência, muita dor, mas com amor e limites, conseguimos superar todas as dificuldades.” Comentou a presidente da AMPARA.
Que caminho a adoção está tomando no Brasil hoje? Você acha que esse período de pandemia, poderá fortalecer a adoção?
“Eu acredito que sim, porque a pandemia está fazendo todo mundo sofrer, onde todos nós estamos dando uma desacelerada e refletindo sobre os nossos valores morais, espirituais, são tantas questões que hoje nós paramos e refletimos. A adoção, nós sabemos que não é só o aspecto jurídico que importa, o afetivo as vezes é muito mais importante, e vemos as pessoas se solidarizando, umas preocupadas com as outras, e quero crer que isso reflete também, na questão da institucionalização das crianças e adolescentes. As pessoas estão preocupadas, com essas crianças que tem que ficar em um espaço mais limitado ainda do que era, porque antes elas recebiam visitas e outras coisas e isso acaba refletindo sim. Mas nós estamos também, inovando e readaptando o nosso modo de trabalhar, onde vimos positivamente isso. Porque estamos atingindo, muito mais pessoas nesse pós-adoção por exemplo, naquele encontro mensal que fazemos com as famílias adotivas, e quando presencial atingimos só as pessoas de Cuiabá e Várzea Grande, e hoje estamos atingindo o estado todo, não rara as vezes com o mundo, pois esses dias tivemos uma live até mesmo com pessoas dos Estados Unidos, com pessoas que moram em Boston, então estamos atingindo, pessoas que estão em todos os lugares, conseguindo dialogar, tirando dúvidas, rompendo mitos e preconceitos que ainda existe muito acerca da adoção. Estamos no Brasil inteiro dialogando, fazendo capacitações, reuniões online e etc. Então isso vem de certa forma, a contribuir e refletir sim, no mundo adotivo, porque o nosso grande desafio ainda é o preconceito que existe, os entendimentos equivocados.” Finalizou a presidente.
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