Caio Dias
A pandemia da Covid-19 fez com que o mundo todo experimentasse aquilo que os povos indígenas vivem há séculos no Brasil. "Essa sensação de desespero e angústia, de perda repentina de pessoas próximas por causa de um vírus desconhecido que se espalha e mata rapidamente, é o que os indígenas têm vivido desde a chegada dos primeiros europeus e suas doenças", afirma a médica sanitarista e mestre em antropologia Sofia Mendonça, coordenadora do Projeto Xingu, da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), que atua na área indígena no norte do Mato Grosso.
Por isso vamos conversar com a Eliane Xunakalo que é indígena e assessora da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso, para saber como está a situação dos indígenas aqui e esse aumento de casos repentinos.
Como a pandemia está afetando as áreas indígenas aqui em Mato Grosso
“Infelizmente a Covid tem afetado todos os territórios do estado de Mato Grosso, e está tendo uma alta letalidade nos povos indígenas. Até agora são 46 mortos Xavantes, nove mortos no Xingu, temos óbitos no Noroeste, no cerrado também está alto. Essa operação só saiu após muita pressão do movimento indígena, dos próprios xavantes e da prefeitura, porque o sistema de saúde está colapsado, não tem atendimento adequado aos indígenas. E pelos relatos dos parentes, vimos que está faltando atendimento, está faltando material e a rede saúde não consegue dar conta da população em geral”. Comentou Eliane
Com a distancia muito longa entre as aldeias, e provavelmente elas não têm acesso a internet, como é a comunicação entre vocês, caso algum parente tenha algum sintoma ou chegue a morrer de covid?
“As aldeias continuaram mantendo atendimento, ou seja, a cada 15 dias tem uma equipe indo nas aldeias e enquanto isso ficam os técnicos de saúde. A Fepoimt vem atuando nos casos de falta de UTI, porque aí precisamos ligar para todos como, Ministério Público, Defensoria, deputados da causa indígena. Então temos um pouco de dificuldade, mas as equipes de saúde estão nas áreas e dependem muito dos Dizeis, que são distritos sanitários indígenas, que tem uma coordenação administrativa e eles fazem esses atendimentos, de médicos, enfermeiras e dentistas dentro da aldeia. Eles ficam 15 dias, vão embora e quem fica apenas na aldeia é o técnico de enfermagem ou posto de saúde, para cuidar deles. A grande maioria dos Dizeis, não conseguem fazer a contratação desses profissionais, dispostos a trabalhar com os indígenas, já que não é fácil, muitas as vezes pela distância, falta de comunicação e muitas vezes falta material entre muitas outras coisas, que dificulta a contratação dos profissionais de saúde”. Complementou Eliane
O atendimento do governo federal, em especifico para os Xavantes, surtiu efeito para as outras tribos indígenas do Brasil?
“Oque temos recebido é que isso está sendo uma boa ação que realmente está surgindo efeito, está tendo medicamentos, exames e médicos e isso estamos vendo como ponto positivo, como um ponto emergencial e precisa ser estendido para os outros territórios sim, não precisa esperar morrer mais gente. A tribo Xavante conseguiu essa ajuda do governo federal, porque teve 46 óbitos, onde eles têm 22 mil habitantes e é a maior do estado é muito grande, mas e o resto? Tem tribos que tem 600 pessoas, com 4,5 óbitos, vale a pena que metade dessa população morra? O que pedimos é que se estenda essas ações para as outras comunidades, para os outros territórios e todos os outros estados, porque a situação está ficando semelhante aos Xavantes. E o que temos recebido de relatos, é que a situação está sendo boa, tendo medicamentos, tendo médicos, estão atendendo e o estado de Mato Grosso também ajudando, mas as ações precisam ser estendidas para todas as tribos”. Finalizou Eliane